sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Entrevista exclusiva com Leonardo Boff


Edição de dezembro da revista Amigos da Natureza está circulando e nela o leitor encontra uma entrevista exclusiva com o filósofo, teólogo e escritor Leonardo Boff. Conversei com Leonardo Boff há cerca de um mês, em Foz do Iguaçu, depois de encontrá-lo por acaso no saguão do hotel onde estava sendo realizado o Cultivando Água Boa + 8, da Itaipu Binacional. O resultado da conversa você lê nas páginas da Amigos da Natureza ou aqui no blog, logo aí embaixo. Vale a pena conferir o que pensa um dos ambientalistas mais respeitados em todo o mundo...

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“Estamos diante de uma grande crise de civilização”

Conhecido e respeitado no Brasil e em diversos países pelo seu trabalho como professor, escritor, teólogo e filósodo, Leonardo Boff também é uma autoridade quando o assunto é ecologia. Natural de Concórdia (SC), onde nasceu em 1938, a vida de Leonardo Boff sempre foi marcada pela luta em favor dos direitos humanos. E neste momento em que o mundo vive uma era de transição, em que uma mudança de atitude em relação ao meio ambiente se faz cada vez mais necessária, o pensamento de Leonardo Boff também têm sido uma referência. Autor de mais de 60 livros e agraciado em 2001 com o prêmio nobel alternativo em Estocolmo – entregue pela Right Livelihood Award – , Leonardo Boff concedeu a seguinte entrevista exclusiva para a revista Amigos da Natureza.

Vivemos um período de transformação. Como o senhor percebe esse momento histórico de mudanças de paradigmas, em que o meio ambiente começa a ter um espaço cada vez maior?
Eu creio que há uma convicção que cresce cada vez mais no mundo de que assim como está não podemos continuar. Aquelas ideias que produziram a crise não são aquelas que vão resolvê-la. Então, temos que ter novas ideias. Isso significa uma nova relação com a natureza, que não pode ser de depredação, mas de sinergia, de respeitar os ciclos dela. E também uma nova relação com a produção, que não deve ser orientada para a acumulação e o enriquecimento de alguns. Ela tem que ser a produção do suficiente para nós e todos os demais seres vivos, que também precisam da biosfera. E que isso se faça não no espírito da competição, do mercado e na lógica da economia. Mas, no espírito da cooperação, que é a lógica da natureza, em que um ajuda o outro e todos coexistem. Temos que pensar nas gerações futuras para que nossos filhos e netos lá na frente, olhando para trás, não nos amaldiçoem porque entregamos a eles uma natureza devastada e uma terra sacrificada. Essas ideias novas têm que se transformar em hábitos, em práticas diferentes. É isso que transforma a realidade.

O século passado foi marcado pela intensificação da industrialização, que levou a essa crise que estamos vivendo agora. Para o século XXI, que tipo de sociedade pode ser construída?
Será uma sociedade que vai descobrir a casa comum, a Terra, que é um planeta pequeno, com recursos escassos e super povoado. As pessoas vão se descobrir como uma espécie de família humana, que tem que conviver junto e por isso precisa gerenciar esses recursos para que todos tenham o suficiente para viver. Uma sociedade que será uma democracia sem fim, ou seja, todos vão participar, conforme suas tradições, seus costumes, trazendo seus valores diferentes, mas tendo como convergência que nós devemos viver uma paz entre nós e preservar essa casa comum, que está muito devastada. Devemos sarar as feridas passadas e impedir as feridas futuras. Isso se faz pela ética do cuidado. O cuidado tem essa característica, ele fecha feridas e impede novas. Eu não posso praticar ações que tenham consequências destrutivas para a natureza e os outros. Será uma sociedade mais simples, que vai aprender a viver com menos e viverá melhor, com um profundo respeito por todos os seres, que têm direito de estarem conosco. Isso é um pouco sonho, mas não podemos deixar que ele fique sendo apenas um sonho. Tem que começar a realizar em cada lugar, começando pela gente mesmo. A soma dessas experiências vai permitir o salto para essa nova sociedade.

O senhor entende que as novas gerações estão tendo uma preocupação maior com a natureza?
Por todos os lados do mundo estão se fazendo experiências alternativas. Elas nascem não só da boa vontade, mas também do desespero das pessoas que vêem suas safras perdidas, as terras sendo desertificadas, a água faltando cada vez mais, as florestas desaparecendo. Então, as pessoas estão se dando conta que as condições básicas da vida são afetadas. E aí começam as novas iniciativas para sobreviver. Agora, elas ainda não conseguiram se articular para constituir uma força, um projeto. O Fórum Social Mundial é o lugar onde elas se tornam visíveis, se encontram e contam as próprias experiências. Mas isso ainda não se transformou em um discurso político para fazer frente ao discurso dominante. Mas, quanto mais cresce a crise, mais cresce o pensamento e a urgência da mudança para construir um núcleo de valores mínimos a respeito do cuidado com a vida, da responsabilidade, da compaixão com quem sofre. Ao redor de um bloco de valores vai se criar um consenso, no qual as pessoas vão se unir e impor mudanças fundamentais. Cada um tem que ser ator porque a crise é global. Cada um pode dar um pouco da sua colaboração para o benefício coletivo.

Que exemplo o Brasil pode dar para o resto do mundo com relação às questões ambientais?
O Brasil vive uma grande contradição. Nele se revelam todas as misérias do mundo: pobreza, injustiça, etc. Simultaneamente, nele se revelam todos os fatores que podem significar um futuro bom para a humanidade. Abundância de biodiversidade, florestas, de água, de energia, o maior número de terras férteis do planeta. O Brasil vive as duas coisas. É um pouco a tragédia e um pouco a esperança do mundo. Eu desejo o que renomado Ignácio Sachs deseja: que o Brasil seja uma pequena antecipação daquele mundo futuro que ele chama de A Terra da Boa Esperança. Ele coloca no centro a vida, a humanidade e a Terra. O Brasil tem condições geográficas e ecológicas para fazer esse pequeno ensaio. Depende de nós vergar os poderes públicos para uma consciência nova e fortalecer as práticas que estão nos movimentos sociais que vão nessa linha.

Em nenhuma eleição para presidente no Brasil se falou tanto em meio ambiente como em 2010. A classe política está mesmo mais preocupada em promover o desenvolvimento sustentável?
Existe o alarme ecológico, do aquecimento global. Os céticos estão se retirando cada vez mais, rendidos pelos eventos extremos que ocorrem no mundo. Por exemplo, seca no Norte do país, o Sul com ventos e tempestades que assolam as plantações, derrubam casas. Grandes secas na África, enchentes terríveis na Ásia. Esses eventos mostram que a Terra perdeu o equilíbrio e está buscando ele de volta. Esse alarme ecológico está entrando lentamente na consciência coletiva porque nós não podemos esperar. Uma coisa é dar-se conta do problema, outra é transformar isso em políticas que façam adaptações para esta situação nova, que diminuam os efeitos desastrosos que estão acontecendo por todas as partes. E a isso nós não chegamos. É um desafio do governo de Dilma Rousseff junto ao PAC incorporar o elemento ecológico. Isso não se trata só do ambiental, mas também do social, de incluir a população. São novos valores e conceitos que precisam ser incluídos. E vendo a totalidade, não só o Brasil. O Brasil, como uma província privilegiada do planeta, tem uma missão importante para o equilíbrio global.

As ONGs e movimentos sociais estão ocupando um papel importante no debate público e político. O caminho para promover as mudanças necessárias passa por eles?
A minha tese é que dos governos não podemos esperar nada substantivo porque eles são dominados pelos interesses econômicos dos grandes capitais, onde procuram um equilíbrio para sobreviver. Acredito na sociedade civil mundial, que se expressa pelos movimentos sociais, pelas mulheres, pelo MST, pelas ONGs. A humanidade tem que tomar em suas mãos o seu destino e não delega-lo a grupos de poder. Chegou o momento da nova cidadania planetária. Com essa força articulada dos movimentos sociais, pressionar os governos para que as grandes questões não sejam resolvidas no parlamento, mas no diálogo com a sociedade, em uma democracia participativa, responsável, com os representantes em contínuo diálogo com suas bases para poderem estar em sintonia com esse movimento novo da história. O que vai triunfar é aquilo que é o grande sonho das culturas andinas, que é a democracia comunitária. As comunidades se organizam, estabelecem formas de produção, equilíbrio e articulação.

O senhor é um otimista ou pessimista quanto ao futuro?
Eu parto da tese que a vida é mais forte que a morte. Na atual realidade, nós estamos diante de uma tragédia cujo fim é fatal e ruim. Estamos diante de uma grande crise de civilização. A crise obriga mudanças, como uma pessoa que passa por crises muda, troca de hábitos, redefine a vida. Estamos no coração de uma grande crise e vamos sair dela, na direção de uma humanidade melhor. Não porque ela queira simplesmente, mas porque não vê alternativa. Ou ela muda ou ela morre. E muda no sentido de recolher tudo de bom que a tecnociência criou, das distintas culturas e fazer um novo ensaio civilizatório com muito mais simplicidade, mais sintonia com a natureza, mais solidariedade. Isso é possível e o futuro da humanidade vai nessa direção.

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CRÉDITO DA FOTO: Cristiano Viteck

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Afonso Ribeiro: o primeiro brasileiro


Personagem dos mais intrigantes da história do Brasil me foi apresentado ontem pelo jornalista e historiador Eduardo Bueno. Não pessoalmente, é claro, mas na leitura do livro “A Viagem do Descobrimento”, um dos três volumes que integram a coleção Terra Brasilis que Bueno publicou, pela Editora Objetiva, em 1998.

Trata-se de Afonso Ribeiro. Condenado à morte em Portugal, ele foi embarcado na expedição de Pedro Álvares Cabral que oficialmente descobriu o Brasil em 22 de abril de 1500. Por aqui, Cabral e seu comandados ficaram por 10 dias, mantendo contatos com os índios, reabastecendo os navios com água e alimentos e fazendo o reconhecimento da região que haviam descoberto.

Quando a embarcação de Cabral e toda a sua frota partiram da nova terra para seguir viagem à Índia, aqui deixaram Afonso Ribeiro e um outro degredado, cujo nome não ficou registrado na história. A missão de Afonso seria aprender a língua dos indígenas para servir de interlocutor aos portugueses quando estes retornassem à terra recém descoberta, além de averiguar se havia aqui objetos de interesse a Portugal.

Registra a história que, ao ver as embarcações se afastando da costa brasileira, Afonso Ribeiro chorou, chorou e chorou. Não é para menos: ser abandonado numa terra que ninguém sabia ao certo onde ficava, ao lado de um povo que andava nu, não falava a língua dele, tinha costumes totalmente diferentes de tudo o que Afonso havia visto na vida... Imagino os tormentos de sensações e a amargura vivida na pele por esse sujeito, abandonado à própria sorte com uma vã promessa de que, algum dia, alguém, quem sabe, viria resgatá-lo.

Mas, o improvável aconteceu. O flagelo de Afonso Ribeiro e de seu colega anônimo durou exatos 20 meses, quando uma nova expedição enviada ao Brasil pelo rei português D. Manoel resgatou o degredado. Levado para Portugal, onde teve seu crime perdoado, os relatos de Afonso Ribeiro tiveram grande importância para que o Velho Continente conhecesse um pouco mais sobre o novo mundo que havia há pouco sido descoberto. Mais do que isso, o depoimento de Afonso Ribeiro teria servido de fortes argumentos para que o navegador Américo Vespúcio defendesse (corretamente) a ideia de que as terras descobertas em 1492 se tratavam de um novo continente e não da Índia, como acreditou Cristóvão Colombo até o fim de sua vida.

Bandido, condenado e abandonado neste mundão de meu Deus. Deu a volta por cima, foi perdoado e entrou para a história. Este é Afonso Ribeiro: o primeiro brasileiro.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Hype!


Em 2011, completa-se 20 anos que toda uma cultura underground do rock norte-americano, capitaneada pelo Nirvana, tomou de assalto as paradas de sucesso ao redor do mundo, causando também uma pequena revolução na moda e no comportamento de parte significativa daquela geração de adolescentes. Conhecido como grunge, o movimento surgido na cidade de Seattle é considerado, desde então, a última grande revolução do rock – Cine, Restart e similares não contam, please...

E o retrato definitivo dessa era é “Hype!”, o documentário de 1996 dirigido por Doug Pray. Rodado ainda na ressaca que se abateu sobre o grunge com a morte de Kurt Cobain, o filme resgata a trajetória do rock em Seattle desde os anos 80 e que acabou por tornar possível o estouro do Nirvana, uma banda de uma cidadezinha próxima a Seattle que ninguém, além do produtor Jack Endino e o pessoal da gravadora Sub Pop, apostaria um único níquel furado no seu sucesso.

Com registros de shows e entrevistas de bandas “menores” da cena grunge, como Supersuckers, 7 Year Bitch e Young Fresh Fellows, ao lado de pesos-pesados como Pearl Jam, Soundgarden e Mudhoney, “Hype!” dá uma visão geral de tudo o que aconteceu no período de 1991 a 1994, quando Seattle pareceu ter se tornado a capital mundial da música e da moda. Na ressaca do sucesso (e do fracasso para aquele que não atingiram a fama), uma fila imensa de músicos dá a sua versão sobre toda aquela histeria detonada pelo disco “Nevermind”. Assim, o diretor Doug Pray conseguiu juntar os pedaços e contar o início, o auge e o fim do grunge.

De lambuja, nas entrelinhas dos 83 minutos de “Hype!” ainda dá para aprender algumas lições de como funciona a gigante indústria fonográfica, sempre a caça de novas bandas, cenas e tendências para extrair delas até o último centavo que possam render e, depois, virar as costas e fazer tudo de novo em outro lugar.

O documentário está fora de catálogo, mas vale correr atrás do download (http://arapongasrockmotor.blogspot.com/2008/07/hype-1996.html) ou procurar em algum sebo pelo VHS ou DVD.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Osvaldo Heinrich


Marechal Cândido Rondon começa a semana de luto com a morte de Osvaldo Heinrich, um dos três primeiros pioneiros que começaram a construir o município.

Há pouco menos de um mês fiz aquela que talvez seja uma das últimas, senão a última, entrevista com seu Osvaldo. Foi uma entrevista difícil. Com a saúde bastante fraca e com dificuldades para ouvir, o trabalho contou com a ajuda valorosa de parentes. Ainda assim, uma das entrevistas mais marcantes que fiz nos meus 15 anos como jornalista, afinal eu estava falando com a pessoa que derrubou a primeira árvore na região que viria a se tornar Marechal Cândido Rondon. A matéria saiu publicada no jornal especial sobre os 50 anos do município, publicado pelo jornal O Presente.

Lembro que naquela semana, em conversa com o amigo jornalista Jadir Zimmermann, comentamos como Osvaldo Heinrich era uma pessoa pouco valorizada ao longo dos anos pelo nosso município. Nós não lembrávamos de nenhuma entrevista ou homenagem que havia sido feita com Seu Osvaldo. Tanta gente que havia feito muito menos pelo município já havia sido festejado com confetes, títulos de cidadão honorário e muitas outras homenagens. Já o pioneiro sempre pareceu um tanto esquecido no nosso município. As razões, não fazíamos ideia.

Felizmente, Osvaldo Heinrich foi muito lembrado nas comemorações do cinquentenário do município. Enfim, teve a merecido reconhecimento dos rondonenses ainda em vida. Pagamos uma dívida enorme com ele.

Descanse em paz, Seu Osvaldo. E mais uma vez, muito obrigado por tudo o que fizestes por nós.

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“Eu cortei a primeira árvore em Marechal Rondon”

Os passos são lentos. A fala é arrastada. O corpo, aos 81 anos, não esconde a saúde agora frágil. Da varanda da casa simples onde mora, Osvaldo Heinrich contempla com satisfação o desenrolar de uma história que ele começou a escrever há 60 anos: a história do município de Marechal Cândido Rondon, que em 25 de julho comemora 50 anos de emancipação político-administrativa.

“Eu cortei a primeira árvore”, lembra Osvaldo Heinrich, que no dia 07 de março de 1950 empunhou o machado e desferiu o golpe que ficou marcado para sempre como o mito fundador de Marechal Cândido Rondon, município que não cansa de enaltecer as virtudes, em especial o trabalho e a coragem, de seus pioneiros. Aos poucos, o gesto de Osvaldo foi cada vez mais sendo repetido pelos novos aventureiros e famílias que chegavam para iniciar uma nova vida na vila que florescia em meio a uma densa floresta no extremo-Oeste do Paraná.

Chegada

Osvaldo Heinrich chegou ao que viria a se tornar a cidade de Marechal Cândido Rondon em 22 de novembro de 1949. Aos 20 anos, ele ficou entusiasmado com os relatos do pai, que cerca de três meses antes esteve na região, a convite de Willy Barth, diretor da Colonizadora Maripá, para conhecer á área onde a empresa pretendia iniciar uma nova comunidade.

O pai de Osvaldo voltou para a cidade da família, Panambi (RS) e contou o que viu. Foi então que Osvaldo, solteiro na época, decidiu se aventurar nessa área não civilizada do Oeste do Paraná, juntamente na companhia de Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, que também participaram da derrubada da primeira árvore.

Conforme Osvaldo, foram praticamente quatro meses vivendo sozinhos na floresta, dormindo no chão cercados pelos perigos da floresta, que os três homens pareciam desconsiderar. “De Toledo para cá era só mato, mas não era perigoso”, afirma o pioneiro.

Uma vez iniciada a derrubada da mata, os três desbravadores abriram uma clareira de 12,5 alqueires na região onde hoje está instalada a delegacia rondonense. Concluído o trabalho, começaram uma plantação de milho e de mandioca, sendo que as ramas, para iniciar o mandiocal, Osvaldo teve que buscar em Porto Mendes.

Caminhadas

A distância de outras localidades era um desafio e tanto para aqueles que estavam construindo a nova cidade. “Caminhei demais”, afirma Osvaldo, referindo-se aos dias em que andava por horas e horas seguidas a pé para ir até Toledo ou Porto Britânia (Pato Bragado) em busca de mantimentos. “Para ir até Toledo eram dois dias de caminhada, sozinho”, recorda.

Os primeiros tempos eram difíceis. Água eles obtinham das inúmeras fontes e riachos. O prato de praticamente todos os dias era um só: feijão e arroz. Porém, a caça era abundante: anta, paca, cotia, porco do mato, veado e outros animais. “Dentro do mato era só barulho de tanto bicho”, conta o pioneiro.

Como se pode perceber, o trabalho e as dificuldades eram muitas e a diversão, rara. Até porque, segundo ele, no início havia realmente poucas pessoas vivendo na nova vila.

Osvaldo casou com Adelina Vorpagel, já falecida, com quem teve quatro filhos: Nelson, Ilton, Rudi e Melani, que deram ao pai nove netos e dois bisnetos.

Memorial

Seis décadas depois de sua chegada, Osvaldo sente orgulho da cidade que começou a construir na companhia de amigos: “moro aqui há 60 anos. Ninguém imaginava que Marechal Cândido Rondon ficaria desse tamanho. A cidade cresceu, tem prédio, se desenvolveu. Trabalhei demais na vida. Mas a cidade está bonita. Eu estou feliz”.

Osvaldo Heinrich, assim como Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, estão
especialmente homenageados no Memorial dos Pioneiros, encomendado pela Acimacar e esculpido pelo artesão rondonense Hedio Strey. A obra fica exposta no Centro de Eventos durante a ExpoRondon. Osvaldo Heinrich participou da cerimônia de inauguração do memorial, ocorrida na noite de quinta-feira (22).


(Texto de Cristiano Viteck, publicado pelo jornal O Presente em julho de 2010)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Eu sou Ozzy


A autobiografia de Ozzy Osbourne, recém lançada no Brasil, mais parece com uma conversa de boteco do que com um livro. “Eu Sou Ozzy”, que figurou bastante tempo na lista dos livros mais vendidos do jornal New York Times, ganhou edição nacional pela editora Benvirá. Nas 380 páginas, o cantor faz um apanhando geral da carreira e revela, principalmente, os momentos mais ferrados de sua vida.

Redigido com a mãozinha de Chris Ayres, “Eu Sou Ozzy” é todo em primeira pessoa. Nada de entrevistas com amigos, ex-namoradas, familiares, músicos, etc. Assim, o clima reinante no livro é de total informalidade. Ozzy faz graça sobre a infância pobre, os primeiros empregos em uma fábrica de buzina e em um abatedouro, a prisão por furto aos 18 anos e outras furadas pelas quais passou.

Mas a coisa começa a ficar mesmo divertida quando a música entrou na vida de Ozzy e ele se tornou um dos cantores de rock mais famosos do mundo. Ozzy fala da formação do Black Sabbath, da chegada do sucesso já com o lançamento do primeiro disco. Diz que a ideia de transformar a banda em um grupo “das trevas” foi do baixista Geezer Butler, mas, nega que qualquer um dos membros do Black Sabbath tivesse o mínimo interesse pelo satanismo.

No final dos anos 70, Ozzy foi expulso do Black Sabbath por uso abusivo de drogas e álcool. Uma ironia, já que todos os demais membros viviam chapados na mesma medida. Então o cantor seguiu carreira solo, no que teve ajuda imensa de Sharon, filha do empresário de sua antiga banda e que acabou virando sua segunda esposa. Ozzy se tornou um artista ainda mais consagrado do que quando estava no Black Sabbath e atualmente segue ativo no mundo da música. Inclusive, lançou não faz muito tempo mais um disco de inéditas.

Contudo, em muitos momentos Ozzy esteve a ponto de jogar tudo para o alto. Os quilos de cocaína cheirados, as toneladas de pílulas engolidas e os zilhões de litros de álcool bebidos por muitos anos torraram não apenas parte da fortuna do cantor, como também fritaram metade dos seus neurônios. Nem ele mesmo sabe como ainda está vivo. Ainda assim, não há como não rir das histórias de Ozzy.

Entre suas façanhas extramusicais que merecem menção honrosa estão arrancar a cabeça de um morcego a dentadas durante um show pensando se tratar de um boneco de borracha, arrancar com uma mordida a cabeça de uma pomba em uma reunião com executivos de gravadora e cheirar uma carreira de formigas para parecer mais fodão do que os caras do Motley Crue. Coisas horríveis de fazer, mas engraçadas de contar. Lendo o livro, a gente ri até de outras coisas nada risíveis, como da época em que Ozzy costumava acordar todo cagado e mijado por estar totalmente fora da casinha de tanto álcool e drogas. Tudo contado sem pudor ou autopiedade.

Só que esses tempos de pé na jaca já ficaram para trás. Hoje, o músico é um cantor de 60 e poucos anos quase careta, que já foi recebido pela rainha da Inglaterra, se tornou amigo do ídolo da adolescência Paul McCartney, tem o seu próprio e gigante festival de música, virou astro da TV com o seriado da MTV Os Osbournes e tem punhados de discos de ouro espalhados pelas paredes de casa. Nada mal para quem saiu de uma biboca na Inglaterra e pensava que ia passar a vida inteira trabalhando como afinador de buzinas.

Como ele mesmo afirma no livro: “se não viver nem mais um dia, terá sido uma boa vida. Quanto a mim, só quero passar o resto dos meus dias sendo um roqueiro”. Este é o Ozzy...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Trajetória da imprensa rondonense: de 1966 aos dias atuais


Ao longo de seus 50 anos, Marechal Cândido Rondon se consolidou como um dos municípios do Paraná que possui algumas das empresas de comunicação mais influentes do Estado, seja pela solidez de suas empresas como pela qualidade de seu trabalho.

A história da imprensa rondonense começou de fato quando a Rádio Difusora AM foi ao ar pela primeira vez, em 19 de novembro de 1966. A empresa, de propriedade do ex-prefeito Arlindo Alberto Lamb, tinha como diretor Antônio Maximiliano Ceretta. O Primeiro noticiário da rádio se chamava “No Mundo das Notícias, as Notícias do Mundo”, mas mudou de nome em 1971 e passou a ser “O Mundo em Revista”. A mudança definitiva do principal noticiário da emissora ocorreu em 19 de março de 1973, quando passou a ser conhecido como “Frente Ampla de Notícias”.

Já em 19 de novembro de 1988, a Difusora inaugurou a sua emissora FM, 95,1. Na época a empresa era propriedade do empresário Élio Winter. Em 1994, as emissoras AM e FM foi vendidas ao empresário Alcides Waldow.

A Rádio Educadora AM foi inaugurada em 3 de agosto de 1978, com a presença do então governador Ney Braga. Inicialmente, a empresa era propriedade de Werner Wanderer, Guido Port, Arnold Lamb, Almiro Bauermann e Egon Wanderer. Hoje, a empresa pertence a Werner Wanderer, sua esposa Elisabeth e o filho Klaus, além de Dirceu da Cruz Vianna. Já a Atlântida 94,1 FM, emissora irmã da Rádio Educadora, foi ao ar em 25 de julho de 1991.

44 anos no ar

Dirceu da Cruz Vianna é comunicador que há mais tempo atua em Marechal Cândido Rondon: 44 anos. Natural de Ponta Grossa, chegou em Marechal Cândido Rondon em 1960 e começou a sua carreira fazendo anúncios em carros de som na cidade e no interior do município. Depois, trabalhou no serviço de alto falantes Guarani. Contudo, a sua estreia como radialista foi em 19 de novembro de 1966, quando a Rádio Difusora começou a operar. Ele conta que foi convidado pelo então diretor da emissora, Antônio Maximiliano Ceretta. com quem aprendeu a fazer locução, redação de textos comerciais e de notícias e a narrar eventos esportivos. “Eu só não limpei banheiro, porque até cafezinho eu fiz”, afirma o comunicador.

De acordo com ele na época, o rádio era a principal fonte de informações sobre o que acontecia no mundo. Televisão era algo que a maioria das pessoas nem conheciam, as revistas demoravam a chegar. Para as notícias nacionais, internacionais e também do Estado, a emissora gravava o noticiário das grandes emissoras do Paraná, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Depois, as notícias eram transcritas e levadas ao ar nos noticiários da Rádio Difusora, junto comas notícias locais.

Outro desafio, segundo ele, eram as transmissões ao vivo. Dirceu conta que os funcionários da rádio colocavam cabos em locais onde aconteciam os principais eventos do município, como campos de futebol e salões: “existiam cabos da rádio até o Clube Lira, até o antigo campo do Flamengo, do Botafogo. Puxamos cabos daqui ao salão de Quatro Pontes e no campo de futebol para fazer transmissão. Era um arame comum. Tinha que fazer tudo certinho com isoladores, com postes que a gente mesmo tinha que cavar para colocá-los. Era difícil, mas era gostoso. A gente não reclamava.”

Um dos quadros de maior sucesso na Rádio Difusora, no final dos anos 60, era o programa de auditório que ia ao ar nos domingos pela manhã, transmitidos ao vivo do Cinemaver, onde até recentemente funcionava o Centro Cultural Professor Eloi Urnau. “Era um programa infantil com brincadeiras de palco, a criançada cantava, participava de jogos e eram distribuídos brindes como bolas, doces. Era um programa como esses de auditório que hoje são feitos na televisão. Foi nesse programa que surgiu um cidadão chamado Walter Basso, que cantou a música ‘Futebol da Bicharada’. Depois ele foi operador na rádio. Depois, bem mais tarde ele começou como locutor, teve o conjunto dele, Os Vikings, e alcançou o momento máximo de prosperidade como músico”, destaca.

Dirceu deixou a Difusora em 1980 e passou a ser sócio-proprietário da Rádio Educadora, onde continua a sua carreira até hoje, apresentando diariamente o Programa do Nhô Jeca.

Entre os momentos mais marcantes da carreira ele cita a visita do presidente Ernesto Geisel em 19 de março de 1976: “foi um tumulto, no bom sentido. Foi muito gratificante”. Dirceu também cita o acidente em Sete Quedas e depois acompanhar a formação do lago de Itaipu, em 1982.

Na opinião de Dirceu, as emissoras de rádio tiveram um papel muito importante na história rondonense. “Nós acompanhamos aquela garra dos pioneiros, aquele sentimento de unidade, de batalhar junto. Esse sentimento a gente transmitia. Uma emissora de rádio, um jornal, tem sempre que fazer com que essa motivação continue viva. A nossa atividade é essa. Nunca desanimar, porque se a gente desanimar vamos desanimar uma região inteira”, argumenta.

Impressos

Na imprensa escrita, o primeiro jornal foi o Desbravador, que começou a circular em 31 de julho de 1968. Apesar de ser o órgão oficial da Associação Rondonense de Estudantes Secundários (Ares), o tablóide, dirigido por Elio Winter, cobria os fatos que aconteciam também no município. Em 25 de março de 1970, o jornal passou a se chamar Impulso, que encerrou as atividades em setembro do mesmo ano.

No dia 15 de março de 1974 nasceu o segundo jornal do município, Rondon Comunicação, de propriedade da Editora Grafo-Set. Posteriormente, o jornal foi vendido para a Editora Oeste e depois para a Editora Independente, de Cascavel, que mudou o nome do veículo para Rondon Hoje. O jornal circulou até o início dos anos 1980.

Antes disso, em 1979, o atual sócio-proprietário e editor do semanário O Jornal, Hugo Balko, foi o editor do jornal O Alento, que passou a circular em 04 de agosto de 1979. A empresa era de propriedade de Frederico von Borstel, Ralf Konieczniak, Ido Welp e Harri Strenske.. Em 1982, Hugo Balko e seu irmão Richardt compraram a empresa e mudaram o nome do veículo para A Semana, que deixou de circular em 1985, quando os novos proprietários Airton Kraemer e Freddy Schlosser assumiram o jornal, que passou a ser conhecido como A Tribuna. Este deixou de circular no início dos anos 1990.

Foi então que em 4 de outubro de 1991 nasceu O Presente, do jornalista Arno Kunzler, que desde 1983 já administrava a sucursal rondonense do jornal O Paraná, de Cascavel. O Presente inovou no município ao publicar a sua primeira edição em cores em 24 de outubro de 1997. Mas a maior mudança ocorreu em 03 de março de 2001, quando O Presente passou a ser diário. O fato foi marcado por um grande evento no Clube Concórdia, que contou com a presença do então secretário estadual de Comunicação, Rafael Greca. Hoje, O Presente é um dos principais jornais diários do Paraná e desde 2004, conta na sua direção com o sócio-proprietário Paulo Rodrigo Coppetti.

Também fazem parte da história da imprensa escrita do município os jornais A Notícia, fundado em 1994 por Freddy Schlosser; O Pasquim do Oeste, criado em 1995 por Ana Maria de Carvalho; a Fronteira Rural, lançado em 1995 por Airton Kraemer; Nossa Terra, surgido em 2000 por iniciativa do empresário Arno Kunzler; Livre Expressão, que nasceu em 2005 e era propriedade de Egon Hachmann, Dieter Seyboth, Sidnei Pruinelli e Anna Bersch; e Olho no Lance, que surgiu em 2006 por iniciativa de Anderson Pícolo e Alsemir Wilhelms.

No segmento de revistas, fazem parte da trajetória jornalística do município a Região em Revista, fundada em 1999 por Jadir Zimmermann e Luis Carlos Diesel, empreendimento que depois foi assumido pelo empresário Neri Wagner; a Revista Amigos da Natureza, criada em 2001 por Arno Kunzler e que até hoje mantém ampla circulação nacional, atendendo a mais de 700 municípios com suas produções pedagógicas e jornalísticas focadas no meio ambiente. Atualmente, também circulam no município a Conceito em Revista e a Life.

Desde 2004, o município também conta com uma emissora de televisão, a TV Rondon, que inicialmente se chamava Canal 10, e dois sites focados na produção de notícias regionais: AquiAgora.Net, que surgiu em 2009 e é propriedade de Jadir Zimmermann; e MCR em Foco, criado este ano. O município conta com a Rádio Comunitária, que está sob responsabilidade de diversas entidades.

Rádio e jornal


Outra trajetória marcante na imprensa rondonense é a de Harto Viteck, que há 20 anos apresenta o programa Música Alemã, na Rádio Difusora AM, e há 19 anos assina a coluna que leva seu nome, no jornal O Presente.

A carreira de Harto na imprensa iniciou em 1971 como sonoplasta na Rádio Difusora. Três meses depois, passou a fazer também locução e também a trabalhar na redação da emissora, ajudando na compilação de notícias nacionais e internacionais. “Em 1973 fiz minha estréia como repórter na Rádio Difusora. Fui destacado para fazer a cobertura da grande enchente daquele ano que acabou levando a ponte de madeira sobre o Rio São Francisco, na estrada que liga Pato Bragado a Entre Rios do Oeste, então distritos rondonenses. Anos depois acabei saindo da emissora, mas retornei em setembro de 1989, a convite do então diretor da Rádio Difusora, Elio Winter, para reestruturar o programa de música popular alemã, um dos mais tradicionais da emissora. E lá estou até hoje como muito apreço”, afirma.

Já na mídia impressa, Harto começou trabalhando no jornal Rondon Comunicação. Apesar de ser um período em que a imprensa era bastante controlada pelo regime de governo da época, ele não lembra de algum episódio em que o veículo tenha sofrido censura, até porque “a linha editorial adotada pelos proprietários do semanário não era ideológica. Seguia a política da ‘verga’”. Embora tenha sido um tempo bastante curto de trabalho na empresa, Harto garante que a experiência foi de grande aprendizado, entre tropeços e acertos: “muito do que tinha aprendido na área de notícias da Rádio Difusora foi extremamente útil no novo emprego”.

Por outro lado, ele ressalta que tão semelhante como volta dele à Rádio Difusora foi o regresso ao jornalismo impresso em 1991. A convite de Arno Kunzler, passou a escrever uma coluna semanal no O Presente. Nesse período, Harto já assinou cerca de 900 colunas.

Questionado sobre a diferença de se produzir um jornal nos dias de hoje em relação ao período em que iniciou na imprensa, nos anos 70, ele afirma que a informática facilitou muito o trabalho. “O que não mudou e é um mal em toda a imprensa nacional, com raras exceções, é o departamento comercial ainda ditando muitas vezes as pautas de redação. Não deveria ser assim. Quando isso acontece a verdade, muitas vezes , fica obscurecida e as relevâncias relegadas. Matérias de menos importância acabam alçadas à condição de super notícias”, pondera.

Nessa linha, Harto entende que apesar dos pecados cometidos e alguns que ainda vem cometendo, a imprensa local foi e é de grande importância para Marechal Cândido Rondon e região: “mesmo cometendo erros, o saldo de acertos e de relevância da imprensa para Marechal Cândido Rondon é altamente positivo. Sempre foi responsável, de alguma forma, por encaminhar e conduzir as grandes bandeiras do nosso crescimento e desenvolvimento. Certamente, sem o abnegado trabalho dos profissionais da imprensa, muitos de nossos interesses não teriam se concretizado. E será este o papel da nossa imprensa : construir e reconstruir nossas melhores aspirações e buscar incessantemente elevar o nível cultural de nossa gente”.

LEGENDA: Edição nº 1 de O Desbravador, primeiro jornal do município.


Mídia e Memória

“Foi pensando na relação entre jornalismo e história que resolvemos reconstruir a trajetória dos veículos de comunicação de Marechal Cândido Rondon em um livro-reportagem, trazendo a público elementos historiográficos do município rondonense, com o propósito de enriquecer o arsenal cultural local.

'Mídia e Memória: estórias dos veículos de comunicação do município de Marechal Cândido Rondon contadas por seus protagonistas' foi publicado em 2009 e teve sua origem como um trabalho de conclusão do curso de Jornalismo. No livro, apresentamos, especificamente, os veículos de comunicação que surgiram após a emancipação do município. Sabemos que antes disso, quando Marechal Cândido Rondon ainda se chamava General Rondon e era distrito de Toledo, existiu outro veículo de comunicação na área impressa, caso do jornal O Minuano. Há pessoas que dizem, inclusive, que além do Minuano, existiram outros jornais na década de 50.

A obra é importante porque os veículos de comunicação estão presentes diariamente na vida das pessoas, mas muitas não sabem a história da rádio que escutam, do jornal e da revista que leem e nem da televisão que assistem. Além de não deixar a história morrer, encontramos relíquias para o jornalismo rondonense".


* Ana Paula Wilmsen e Maria Cristina Kunzler, jornalistas e autoras do livro "Mídia e Memória: estórias dos veículos de comunicação do município de Marechal Cândido Rondon contadas por seus protagonistas"


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O dia que Marechal Rondon recebeu o presidente do Brasil


No dia 19 de março de 1976, Marechal Cândido Rondon recebeu a visita histórica do então presidente de República, Ernesto Geisel. O motivo principal foi a abertura simbólica da colheita da soja, que naquele ano produziu 200 mil toneladas. Geisel também inaugurou a segunda etapa do Programa de Eletrificação Rural e entregou aos agricultores da região 3.248 títulos de propriedade de terra.

Além de Ernesto Geisel, na oportunidade também esteve no município o governador Jayme Canet Junior. Eles foram recepcionados pelo prefeito Almiro Bauerman, pelo presidente da Copagril, Leopoldo Pietrowski, pelo ex-prefeito e ex-deputado Werner Wanderer, pelo general Hugo de Abreu e por milhares de pessoas que vieram de toda a região.

Segundo Werner Wanderer, foi ele quem fez o convite para a vinda de Ernesto Geisel. Em declaração publicada no livro Mídia e Memória, das jornalistas Ana Paula Wilmsen e Maria Cristina Kunzler, Werner garante que “o presidente não viajava. Ele era militar e não tinha costume de participar dos eventos. Então, a vinda dele para Rondon foi um fato histórico não somente para o município, mas foi destaque em nível nacional. Todo mundo perguntava o que havia acontecido para o presidente viajar para Rondon. E a visita de Geisel trouxe muitos benefícios. Por exemplo, na época era proibido criar municípios, mas as lideranças nova-santarrosenses aproveitaram a vinda de Geisel e falaram com o presidente e ele acabou autorizando a criação do município de Nova Santa Rosa. Outra coisa foi o Banco do Brasil, que foi criado em Rondon por causa da visita de Geisel. Também foi inaugurado um trecho de eletrificação rural, o que depois foi estendido em todo o município”.

Algo nunca visto

O radialista Dirceu da Cruz Vianna participou da cobertura jornalística da visita presidencial. Destacado para cobrir a chegada do presidente ao aeroporto, Dirceu conta que havia um esquema de segurança muito grande e nenhum repórter pode, durante a visita, entrevistar diretamente Ernesto Geisel. “Foi um tumulto, no bom sentido. Mas, foi gratificante”, garante o radialista.

“O presidente teve um aparato militar muito grande. Ele chegou ao aeroporto por volta das 10h00 da manhã e dali foi inaugurar a eletrificação rural em uma propriedade próxima. O palanque para o pronunciamento das autoridades foi montado na área onde hoje está localizada a prefeitura. Da área onde hoje está o Fórum até onde hoje é o jornal O Presente, aquilo estava coalhado de gente. Cerca de 12 mil pessoas! Nunca tinha visto algo igual”, lembra Dirceu.

Segundo ele, naquele dia grandes almoços foram servidos em pontos diferentes da cidade para celebrar a visita do presidente. Conforme o radialista, só no antigo Campo do Oeste, onde hoje está construído o Estádio Municipal Valdir Schneider, foi montada uma churrasqueira com mais de 100 metros: “também havia outros pontos onde foram preparados e servidos o almoço. Era como se todos nós, aquelas milhares de pessoas, estivéssemos almoçando junto com o presidente, que estava lá no Clube Concórdia”.

Ernesto Geisel permaneceu em torno de quatro horas em Marechal Cândido Rondon e deixou o município por volta das 14h00.

Fontes:
WEIRICH, Udilma Lins. “Histórias e Atualidades: perfil de Marechal Cândido Rondon”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2004.
WILMSEN, Ana Paula; KUNZLER, Maria Cristina. “Mídia e Memória: estórias dos veículos de comunicação do município de Marechal Cândido Rondon contadas por seus protagonistas”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2006.


CRÉDITO DA FOTO: Arquivo pessoal de Dirceu da Cruz Vianna.


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Hino de Marechal Cândido Rondon


Não deve existir um dia sequer em que, em algum lugar do município, o Hino de Marechal Cândido Rondon não seja cantado, seja em solenidades oficiais, eventos esportivos, nas escolas e demais instituições do município. O que pouca gente sabe é que a versão cantada hoje pelos rondonenses é diferente daquela escrita logo após a emancipação do município, em 1960.

O Brasão, a Bandeira e o Hino atuais de Marechal Cândido Rondon foram instituídos em 1974, através da Lei Municipal nº 1.099, de 1º de setembro, durante a gestão do prefeito Almiro Bauermann.

Na bandeira, a cor vermelha representa a dedicação, audácia, coragem e valentia dos rondonenses; e a cor verde, a honra, civilidade, alegria e a abundância dos campos verdejantes. Ainda na flâmula rondonense, o triângulo simula toda a cidade que, estampado sobre a cor branca, faz alusão à paz, ao trabalho, prosperidade, amizade e religiosidade de Marechal Cândido Rondon, simbolizando, assim, a irradiação do poder municipal em todas as partes do território municipal.

O Brasão, que também consta na Bandeira, foi elaborado em homenagem ao militar Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. O símbolo contempla as atividades econômicas do município, em especial a agricultura e a agroindústria.

Hino

O Hino Municipal foi composto por Willy Carlos Trentini logo após a emancipação de Marechal Cândido Rondon. Mas, pouco mais de uma década depois, ele foi alterado a pedido do prefeito Almiro Bauermann, que logo nos primeiros meses de seu mandato criou uma comissão para coordenar os trabalhos. A missão coube, então, ao cartorário Levi Gomes e o médico José Carlos Mello, que atualmente reside em Santa Catarina.
Para Levi Gomes, o prefeito Almiro Bauermann tinha razão ao promover a atualização do hino, já que a letra original se referia muito ao município de Toledo, o que não condizia mais à nova realidade rondonense.

Questionado o porquê de ter sido convidado a reescever o hino, Levi acredita que foi em razão de um poema sobre o município que ele havia escrito e mostrado ao prefeito, que gostou do trabalho. O poema era este:

Marechal Cândido Rondon
Cidade hospitaleira
Um pedaço do meu Paraná
Está na faixa de fronteira
Da região é mais pujante
Com seu povo mui gentil
Aqui tudo vai avante
É o progresso do Brasil

Os pioneiros que aqui chegaram
Logo iniciaram seu labor
As duras lutas sempre enfrentaram
Mostrando muito o seu valor
Willy Barth colonizou
Com amor e dedicação
Arlindo Lamb completou
Com a primeira administração

Com o trabalho desta gente
Que sempre está presente
E nunca desanimou
Enfrentando a realidade
Com muita dignidade
É que tudo aqui se formou

Cidade dos filhos meus
Abençoada por Deus
Nosso Pai onipotente
Terra que me deu guarida
Para mim muito querida
Pois aqui vivo contente


Aqui, já se percebe muito dos elementos que Levi usaria para compor o hino. Curiosamente, o autor da atual letra do hino havia chegado apenas em 1970 em Marechal Cândido Rondon, quando assumiu o Cartório de Registro Civil que, coincidentemente, antes havia estado sob responsabilidade de Willy Carlos Trentini, o autor do hino original.

Questionado de onde veio a inspiração para compor o novo hino, já que ele não havia presenciado muito dos fatos abordados na letra, Levi conta que tudo “foi feito em cima do que é o município, em cima do sentimento do povo. O hino atual diz muito sobre Marechal Rondon”.

Na época em que a hino foi reescrito, Willy Carlos Trentini já havia falecido e, como forma de homenageá-lo, a música original foi mantida, “até porque ela é muito bonita”, diz Levi. Segundo ele, a nova versão sempre foi muito elogiada. “É algo bonito que pude fazer por Marechal Rondon”, finaliza.

LEGENDA: Levi Gomes e a esposa Catarina. Ele é um dos autores da atual versão do Hino Municipal.

CRÉDITO: Cristiano Viteck



Hino Municipal (versão original)
Letra e música: Willy Carlos Trentini

Na terra minha do pinheiro
No lindo Paraná do oeste
Surgiu milagre de Toledo
Rondon orgulho pioneiro

Rondon gigante e majestoso
Teu nome é eterno na história
Milhares obram tua grandeza
É teu povo primoroso

Entre a orquestra serra o machado
Três homens longe da cidade
Comendo a folha do palmito
Abriram brecha neste mato

Um chefe cujo nome nobre
Inapagável nesta história
Compaixonou-se com carinho
Ao pioneiro rico e pobre

Rondon conquistando obreiro
Teus campos vilas e riquezas
Teus templos é benção divina
Trabalho amor, Rondon Celeiro

Rondon seremos de fileira
Lutemos pela tua grandeza
Bendito nome eternizado
Rondon audácia pioneiro

General Rondon, General Rondon,
General Rondon, General Rondon,
General Rondon, louros mil!

Por ti nós sangramos
Nosso amor pelo Brasil




Hino Municipal (versão atual)
Letra: Levi Gomes e José Carlos Mello
Música: Willy Carlos Trentini

Na linda terra do pinheiro,
No meio de uma selva agreste,
Cresceu um povo hospitaleiro,
Rondon orgulho do Oeste.

Ao som da serra e do machado,
Três homens hastearam uma Bandeira,
Futuro viram em todo lado
E apostaram uma vida inteira

Marechal Cândido Rondon,
Marechal Cândido Rondon
És cidade, és canção
Marechal Cândido Rondon,
Marechal Cândido Rondon
Já tens alma e coração;

Na terra o pão de todo dia,
No sol a luz pro ano inteiro.
Na luta eterna alegria,
Rondon, trabalho, amor, celeiro

Talvez não seja a prometida,
Mas é bastante generosa.
Pra muitos é a mais querida.
Pra outros a mais poderosa

O sonho hoje se tornou
Maior gigante majestoso.
O povo simples continuou,
Mas fala alto e mais garboso

Nas vilas, bairros e cidade,
Nos templos muitos agradecem.
Rondon será eternidade
Pra todos que a engrandecem



(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Arlindo Lamb: "o governador queria ver o diabo, mas não um prefeito do PTB"


Arlindo Lamb, primeiro prefeito eleito de Marechal Rondon, relembra os desafios de sua gestão

Um município inteiro para construir praticamente do zero. Este foi o desafio que Arlindo Alberto Lamb assumiu e cumpriu com determinação, quando se candidatou e assumiu o posto de primeiro prefeito eleito do então recém criado município de Marechal Cândido Rondon. Antes dele, por nomeação do governador Moisés Lupion, Ari Branco da Rosa havia sido nomeado chefe do Poder Executivo Municipal, cargo que ocupou por pouco mais de cinco meses (de 05/08/1960 a 25/01/1961), até ser destituído por Ney Braga, que recém havia assumido o governo do Paraná.

Nascido em 16 de julho de 1921, em Marques de Souza (RS), Arlindo chegou a Marechal Cândido Rondon em 26 de maio de 1955, onde atuou como empresário e agricultor. Logo se envolveu também na política e em 1956, juntamente com Helmuth Koch (PSD) e Simão Scherer (UDN), Arlindo foi eleito vereador para representar a então vila General Rondon na Câmara de Toledo, em cuja legislatura chegou a assumir a presidência do Legislativo por dois anos.

Com a destituição de Ari Branco da Rosa, novas eleições foram marcadas para o dia 08 de outubro de 1961. Lideranças da comunidade, além do próprio administrador da colonizadora Maripá, Willy Barth, convenceram Arlindo a se candidatar. Filiado ao PTB, concorreu coligado com o PL. O outro candidato a prefeito era o farmacêutico Frederico Goebel, da UDN, que havia formado coligação com o PDC.

Arlindo recorda que, por ser a primeira eleição do município, todos os candidatos a vereadores eram praticamente inexperientes, no que diz respeito ao processo eleitoral. Mas, a motivação era grande. Segundo ele, “os comícios, na verdade, eram reuniões nas comunidades. Alguns candidatos a vereador decoravam pequenos discursos”, recorda.

A vitória de Arlindo Lamb foi tranquila, somando 2.374 votos contra 735. A coligação dele também elegeu a maioria dos vereadores: Helmuth Priesnitz, Harri Pydd, Teobaldo Loffi, Erno Greef, Aldo Alievi e Lindolfo Nienkoetter, todos do PTB; e Rainoldo Wengrat, do PL. Pela oposição elegeram-se Aílson Confúcio de Lima e Luiz Groff.

Posse

A posse aconteceu 2 de dezembro de 1961, no antigo Salão Weiss, e foi coordenada pelo juiz Vilson Balão, da 75ª Zona Eleitoral, de Toledo. Após a posse, o prefeito convidou a comunidade a visitar a prefeitura, que iria funcionar no antigo escritório da colonizadora Maripá, que havia sido doado por Willy Barth ao municíoio. Arlindo conta que Erich Ritscher, um dos três primeiros pioneiros de Marechal Cândido Rondon, se mostrou surpreso que até cofre a prefeitura já possuía, no que o novo prefeito respondeu: “cofre nós temos, mas não temos dinheiro”.

Então, Ritscher tirou uma nota de dinheiro da carteira e depositou em uma gaveta, gesto que foi repetido por outras pessoas. Conforme Arlindo, no primeiro dia que a prefeitura funcionou, graças a esse gesto da população a municipalidade tinha dinheiro em caixa, que foi registrado como doações espontâneas para a instalação do município.

“Praticamente não havia cobranças. O pessoal se contentava com tudo. Queriam escolas e estradas. Eu atendia todo mundo. Podia vir de pé-de-chinelo ou descalço, não tinha cerimônia. Queria falar com o prefeito, entrava direto e falava”, explica Arlindo Lamb sobre o seu método de trabalho.

Os primeiros funcionários da prefeitura, nomeados pelo prefeito, foram: Osvino Lemke, secretário; Henrique Afonso Sturm, tesoureiro; Werner Wanderer, fiscal; Rubem Luersen, contador; Lindolfo Garmatz, fiscal de estradas; e Valdomiro Liessen, inspetor de ensino.

Estradas


Na época em que o primeiro prefeito eleito assumiu a prefeitura, cerca de 80% do município ainda era coberto pela floresta nativa e a demanda por infraestrutura era enorme. É preciso lembrar ainda que Marechal Rondon contava então com as áreas que hoje formam os municípios de Quatro Pontes, Mercedes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, São José das Palmeiras e também São Clemente e Sub-Sede, atualmente distritos de Santa Helena.

Arlindo recorda ainda que depois da lei estadual de emancipação de Marechal Cândido Rondon, Toledo praticamente abandonou o seu antigo distrito. “Não arrumou estradas e não fez mais nada. Nossas estradas estavam a zero”, afirma. Surgia então um dos primeiros desafios da nova administração, que era adquirir máquinas para manter e abrir novas estradas.

Arlindo viajou até Curitiba, na Paraná Equipamentos. Mas, como a prefeitura não tinha recursos, o prefeito tirou dinheiro do próprio bolso e deu a entrada para compra de uma moto-niveladora, que teria que ser paga em três parcelas. “Quando cheguei foi aquela festa. Na área onde está instalado o posto Esso foi montada uma recepção com foguetes e uma caixa de cerveja”, lembra o ex-prefeito, que informa que o mesmo aconteceu com a compra de um trator de esteira.

Pontes

A construção de pontes também era prioridade. Na gestão de Arlindo foram construídas várias sobre os rios Facão Torto, Arroio Marrecos, Arroio Fundo, Branco, entre outras. A que mais chamou a atenção foi a ponte sobre o Rio São Francisco, entre os distritos de Entre Rios do Oeste e Pato Bragado. Com 74 metros de extensão, foi inaugurada em abril de 1964.

A obra, bastante cara, recebeu recursos do governo federal e moradores também contribuíram com a doação de madeira. Os recursos do governo federal somavam 8, 6 milhões em moeda corrente na época, que foram depositados no Banco do Brasil, em Foz do Iguaçu. Era uma quantia bem considerável e Arlindo trouxe todo esse dinheiro em dois sacos escondidos na carroceria de sua caminhonete. O dinheiro ficou guardado na casa do próprio prefeito, que conforme era necessário, ia fazendo os pagamentos. Além de Arlindo, somente a sua esposa, o secretário e o tesoureiro da prefeitura sabiam onde ele se encontrava.

Infelizmente, a ponte acabou praticamente destruída em uma grande enchente ocorrida na região em 1973 e teve que se reconstruída.

Educação

Assim como a abertura de estradas, o ensino estava em primeiro plano na administração de Arlindo. Segundo ele, logo que assumiu moradores de Entre Rios do Oeste vieram à prefeitura solicitar a construção de uma escola, para atender inicialmente apenas 10 alunos. Pensando à longo prazo, Arlindo acertadamente decidiu pela construção. Muitas famílias do Rio Grande do Sul e Santa Catarina já tinham adquirido as terras na localidade, mas não haviam se mudado pela falta de escola.

Esse educandário foi uma das primeiras obras do governo de Arlindo, que assumiu em dezembro de 1961 e no mês seguinte deu início a construção, que foi concluída em fevereiro, para atender aquelas 10 estudantes. “Em julho, já havia 40 alunos. No fim do ano, eram 80. Assim se repetiu em outras regiões do município”, destaca o ex-prefeito, que ao final de sua gestão havia instalado 66 escolas.

Governador

Nos primeiros anos, o novo município contava com o apoio do deputado estadual Luis Alberto Dall’Canalle nas reivindicações junto ao governo do Paraná, que na época tinha Ney Braga com governador. Arlindo lembra que a relação dele com o governador “era ótima. Eu visitava o Palácio do Governo para reivindicar alguma coisa e o governador era muito amável, batia nas costas, falava ‘como vai este ilustre prefeito’. Mas, ele não gostava do PTB. Ele queria ver o diabo, mas não um prefeito do PTB. Ele simplesmente prometia, mas não cumpria nada. Durante o mandato do governador Ney Braga eu não consegui nada. Eu conseguia alguma coisa do Estado através das secretarias.”

Apesar desse contratempo, a gestão de Arlindo Lamb é marcada pelo grande número de obras realizadas e conquistas alcançadas, como a implantação dos primeiros 100 telefones de discagem direta do município. Outra ação importante realizada naquela gestão foi o encaminhamento para a criação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), implantado em 1966, durante o mandato de Werner Wanderer, que era vice-prefeito na primeira gestão e foi eleito prefeito com o apoio de Arlindo Lamb.

“Francamente, me orgulho de ter sido o primeiro prefeito eleito de Marechal Cândido Rondon”, afirma Arlindo, 89 anos completados no último dia 16. “É um orgulho estar vivo e participar dos festejos de 50 anos. Nós tivemos muito bons prefeitos e alguns que saíram um pouco fora do que devia ser feito. Mas Rondon progrediu. É um município bom de morar, de muito futuro”, finaliza.

LEGENDA: Arlindo Lamb, à direita, no dia de sua posse como prefeito, em 1961.

CRÉDITO: Arquivo particular de Arilindo Alberto Lamb


Arlindo Alberto Lamb: uma história que merece ser contada

“A ideia de retratar a vida de Arlindo Arlindo Lamb veio a partir de um desafio de amigos, após assistir a inúmeras pequenas palestras do próprio Arlindo. Pelo fato de Arlindo Lamb ter uma história muito rica, guardada até então somente na sua memória, decidi encarar o desafio e colocar no papel a sua biografia, por entender que era uma história que merecia ser contada.

O objetivo do livro foi não permitir que os detalhes da rica história de Arlindo Lamb se perdessem, até porque a sua história se confunde muitas vezes com a história do próprio município e de organizações como a Copagril, o Saae e a Rádio Difusora.

O livro foi além dos fatos oficiais e apresenta aspectos curiosos, inusitados e até divertidos, por vezes completamente desconhecidos pela maioria das pessoas.

O livro, lançado em 2006, foi também o meu trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social – Jornalismo e, para que ele acontecesse, obtive o apoio e o suporte de vários professores da faculdade, bem como me foi exigido estudos teóricos acerca de como se procede o resgate de memórias, cuja finalidade maior é impedir que as lembranças se percam no tempo. As pessoas passam, mas suas memórias ficam.”


Jadir Zimmermann
Jornalista


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

1ª Feira Agropecuária recebeu mais de 20 mil visitantes


De 1º a 7 de setembro de 1958, Marechal Cândido Rondon sediou sua 1ª Exposição Agropecuária. O evento, que inclusive contou com a presença do governador Moisés Lupion, aconteceu na área em que hoje existe a Praça Dealmo Selmiro Poersch, em frente à Matriz Católica. Unindo negócios e diversão, a primeira exposição mostrou a vocação da comunidade para a promoção de grandes eventos.

A ideia para a realização da exposição partiu da Colonizadora Maripá, que assim queria mostrar aos visitantes o potencial da região e, desso modo, despertar o interesse de novas pessoas em vir morar nas cidades onde a empresa ainda possuía terras à venda. Inicialmente, a intenção da colonizadora era promover o evento em Toledo. Contudo, a população da cidade e a própria prefeitura não deram muita atenção à proposta. Então, ela foi apresentada à comunidade de General Rondon, que viu com bons olhos a oportunidade. Arlindo Lamb, então vereador, foi o nomeado presidente da comissão organizadora.

Preparativos

Do momento em que foi decidida a realização até a data prevista para o evento, havia apenas dois meses para montar toda a estrutura para a exposição. Diferente de hoje, quando Marechal Cândido Rondon conta com um amplo e bem estruturado parque de eventos, naquela época tudo teve que ser construído às pressas.

Para a empreitada, a colonizadora contratou todos os construtores que havia na região e cada qual montou uma equipe. Em 30 dias, todos os barracões necessários estavam construídos. Mas a preocupação não era apenas com a estrutura onde aconteceria a exposição.

Divulgada em todo o Sul do país, a expectativa é que a exposição atrairia milhares de pessoas. Como General contava apenas com dois hotéis (o Avenida, de propriedade de José Feiden; e Brasil, de Rinaldo Lamberty), a comissão da festa mobilizou os moradores da região interessados em abrigar em suas residências os visitantes. A ideia deu certo e, em um raio de 10 km, a comissão havia conseguido 4 mil lugares.

A exposição

Apesar de ter chovido durante os sete dias, a exposição foi um sucesso. Além do governador Moisés Lupion e autoridades como deputados estaduais e federais, outras 20 mil pessoas vindas dos mais diversos lugares visitaram o evento. Os expositores eram os próprios colonos de General Rondon, que colocaram à mostra gado, aves, suínos, produtos coloniais, móveis, utensílios domésticos e tudo mais que era produzido ou cultivado na vila.

Além de negócios, a 1ª Exposição Agropecuária garantia diversão aos visitantes, com bailes realizados todas as noites. A animação ficou sob responsabilidade de uma bandinha tirolesa com 28 integrantes, vinda de Treze Tilhas (SC). Os bailes duravam a noite toda.

Encerrada a exposições, todos os barracões foram desmontados.

Emancipação


Os resultados positivos da 1ª Exposição Agropecuária de General Rondon teve repercussões além do esperado. Uma vez demonstrado todo o potencial econômico e produtivo do distrito. A partir de então, a vontade de emancipar General Rondon do município foi crescendo entre os moradores da comunidade, iniciativa que também passou a contar com o apoio de Willy Barth e da própria empresa colonizadora. Menos de dois anos depois, no dia 25 de julho de 1960, General Rondon deixou de ser distrito toledano e se transformou no município de Marechal Cândido Rondon.

Fontes:
WEIRICH, Udilma Lins. “Histórias e Atualidades: perfil de Marechal Cândido Rondon”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2004.
ZIMMERMANN, Jadir. “Arlindo Lamb: uma história que merece ser contada”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2006.

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LEGENDA:
Estrutura montada para realizar a 1º Exposição Agropecuária.

CRÉDITOS: Arquivo pessoal de Arlindo Lamb


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Marechal Cândido Rondon: da colonização à emancipação


No dia 25 de julho de 1960, Marechal Cândido Rondon obteve a sua emancipação político-administrativa. Assim, deixava de ser distrito de Toledo para se transformar em um dos municípios mais fortes do Oeste do Paraná.

Porém, a história de Marechal Cândido Rondon começou a ser desenhada em 1946, quando a Companhia Madeireira e Colonizadora Rio Paraná S.A. – Maripá realizou a compra de uma extensa área de terra e iniciou o projeto de colonização desta parte do extremo Oeste paranaense, tendo como meta trazer para a nova comunidade que surgia colonos gaúchos e catarinenses, descendentes de alemães e italianos.

Para convencer às famílias de agricultores a se mudarem para o Paraná, foi criada uma grande campanha, na qual se enfatizava a boa qualidade da terra, que além de ser ideal para a agricultura, também era rica florestas e rios, que garantiam madeira, caça, pesca e água.

Colonização

A ocupação do que viria a se tornar a cidade de Marechal Cândido Rondon teve início em 7 de março (*) de 1950, quando aqui se instalaram Antônio Rockenbach, Erich Ritscher e Osvaldo Heinrich. Este último, inclusive, já havia começado a trabalhar na medição de terras na região em novembro de 1949.

Já em 14 de abril daquele ano chegou Beno Weirich e, no dia 21 de junho de 1950, chegou a sua esposa Alice, grávida de sete meses, além de um filho do casal. Foi a primeira família a se instalar em Marechal Cândido Rondon.

A nova comunidade, antes de ser conhecida como General Rondon, era chamada pelos pioneiros como Vila Flórida ou Zona Bonita. O nome General Rondon somente foi oficializado em 21 de abril de 1951, por determinação do diretor da Maripá, Willy Barth. Com isso, Willy Barth homenageava o general Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que no início do século passado comandou a implantação de linhas telegráficas na região e que, em 1924, também esteve combatendo os revolucionários da Coluna Prestes no Oeste do Paraná.

Para atender os colonizadores, a Maripá montou uma pequena cabana, onde os desbravadores poderiam se acomodar para realizar o trabalho de derrubada da mata. Depois, foi construído um barracão maior, a Casa do Imigrante, próxima à área onde hoje está a delegacia de polícia. Ali, as famílias recém chegadas eram recebidas e então encaminhadas para as terras que haviam adquirido para iniciar a nova vida.

Era uma iniciativa corajosa deslocar-se até a região, carente de estradas, de alimentação, de energia elétrica, de água encanada e de um comércio para atender as necessidades básicas das novas famílias. Isso sem contar o atendimento médico, praticamente inexistente no início da colonização. Essa situação de quase total isolamento também dificultava a comercialização dos primeiros produtos que começavam a ser cultivados em Marechal Cândido Rondon.

Mas com trabalho e dedicação essa realidade começou a mudar. Dois anos depois, a então vila de General Rondon já possuía uma estrutura que atendia as necessidades mais imediatas dos moradores, assim como algumas lojas. Daí em diante o desenvolvimento foi cada vez maior, tanto que em setembro de 1958 aconteceu a primeira feira agropecuária, na área onde hoje existe a Praça Dealmo Selmiro Poersch, localizada em frente à matriz católica. O evento contou com a presença de autoridades estaduais, como o governador Moisés Lupion.

Emancipação

O rápido desenvolvimento da vila General Rondon possibilitou que, dez anos depois do início de sua colonização, ela se tornasse município. Contudo, antes disso, a sua organização política e administrativa passou por fases importantes. Uma delas foi a visita do governador Bento Munhoz da Rocha Neto, que esteve em Toledo em 1952 e ficou impressionado com o desenvolvimento que estava ocorrendo nesta região do Estado. O governador ficou tão animado que em 1953 elevou Toledo à instância de comarca.

Nesse mesmo ano, a comunidade rondonense foi oficialmente promovida a distrito administrativo de Toledo e denominada de Vila General Rondon, através da Lei Municipal nº 17, de 6 de julho de 1953. Em 1956, os moradores da vila elegeram seus primeiros vereadores. São eles: Helmuth Koch (PSD), Simão Scherer (UDN) e Arlindo Alberto Lamb (PTB), que chegou a assumir a presidência da Câmara de Toledo nos anos de 1957 e 1958. Os principais pedidos encaminhados pelos vereadores rondonenses ao então prefeito Egon Pudel era para a construção de pontes, estradas, escolas e para nomeação de mais professores.

A emancipação político-administrativa de Marechal Cândido Rondon aconteceu em 25 de julho de 1960, através da aprovação de um projeto de lei do deputado estadual Luis Alberto Dall’Canalle. O mesmo documento aprovava a emancipação de outros 57 municípios no Paraná. O documento é a Lei Estadual nº 4.245. Já no dia 15 de setembro de 1960, o governador Moisés Lupion visitou o recém criado município. Na oportunidade, Ari Branco da Rosa foi nomeado prefeito interino, função que ocupou de 05 de agosto de 1960 a 25 de janeiro de 1961, quando foi destituído pelo então governador Ney Braga.

Já instalação de Marechal Cândido Rondon se deu em 2 de dezembro de 1961, sendo que a comarca rondonense foi instalada em 2 de julho de 1970.

(*) Para homenagear os pioneiros, a Lei Municipal nº 3.466, de 17 de fevereiro de 2003, firma que a data de 7 de março é o Dia do Pioneiro.

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LEGENDA: Vista da Vila General Rondon, na década de 1950.

CRÉDITO: Arquivo Centro de Pesquisa


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

“Eu cortei a primeira árvore em Marechal Rondon”


Nesta semana após a festa do município, vou publicar algumas reportagens que produzi para um jornal especial de 50 anos, publicado pela Editora O Presente. Segue, abaixo, a entrevista com Osvaldo Heinrich, um dos três pioneiros que primeiro se instalaram no que veio a ser a cidade de Marechal Cândido Rondon.

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“Eu cortei a primeira árvore em Marechal Rondon”


Os passos são lentos. A fala é arrastada. O corpo, aos 81 anos, não esconde a saúde agora frágil. Da varanda da casa simples onde mora, Osvaldo Heinrich (foto) contempla com satisfação o desenrolar de uma história que ele começou a escrever há 60 anos: a história do município de Marechal Cândido Rondon, que em 25 de julho comemora 50 anos de emancipação político-administrativa.

“Eu cortei a primeira árvore”, lembra Osvaldo Heinrich, que no dia 07 de março de 1950 empunhou o machado e desferiu o golpe que ficou marcado para sempre como o mito fundador de Marechal Cândido Rondon, município que não cansa de enaltecer as virtudes, em especial o trabalho e a coragem, de seus pioneiros. Aos poucos, o gesto de Osvaldo foi cada vez mais sendo repetido pelos novos aventureiros e famílias que chegavam para iniciar uma nova vida na vila que florescia em meio a uma densa floresta no extremo-Oeste do Paraná.

Chegada


Osvaldo Heinrich chegou ao que viria a se tornar a cidade de Marechal Cândido Rondon em 22 de novembro de 1949. Aos 20 anos, ele ficou entusiasmado com os relatos do pai, que cerca de três meses antes esteve na região, a convite de Willy Barth, diretor da Colonizadora Maripá, para conhecer á área onde a empresa pretendia iniciar uma nova comunidade.

O pai de Osvaldo voltou para a cidade da família, Panambi (RS) e contou o que viu. Foi então que Osvaldo, solteiro na época, decidiu se aventurar nessa área não civilizada do Oeste do Paraná, juntamente na companhia de Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, que também participaram da derrubada da primeira árvore.

Conforme Osvaldo, foram praticamente quatro meses vivendo sozinhos na floresta, dormindo no chão cercados pelos perigos da floresta, que os três homens pareciam desconsiderar. “De Toledo para cá era só mato, mas não era perigoso”, afirma o pioneiro.

Uma vez iniciada a derrubada da mata, os três desbravadores abriram uma clareira de 12,5 alqueires na região onde hoje está instalada a delegacia rondonense. Concluído o trabalho, começaram uma plantação de milho e de mandioca, sendo que as ramas, para iniciar o mandiocal, Osvaldo teve que buscar em Porto Mendes.

Caminhadas

A distância de outras localidades era um desafio e tanto para aqueles que estavam construindo a nova cidade. “Caminhei demais”, afirma Osvaldo, referindo-se aos dias em que andava por horas e horas seguidas a pé para ir até Toledo ou Porto Britânia (Pato Bragado) em busca de mantimentos. “Para ir até Toledo eram dois dias de caminhada, sozinho”, recorda.

Os primeiros tempos eram difíceis. Água eles obtinham das inúmeras fontes e riachos. O prato de praticamente todos os dias era um só: feijão e arroz. Porém, a caça era abundante: anta, paca, cotia, porco do mato, veado e outros animais. “Dentro do mato era só barulho de tanto bicho”, conta o pioneiro.

Como se pode perceber, o trabalho e as dificuldades eram muitas e a diversão, rara. Até porque, segundo ele, no início havia realmente poucas pessoas vivendo na nova vila.

Osvaldo casou com Adelina Vorpagel, já falecida, com quem teve quatro filhos: Nelson, Ilton, Rudi e Melani, que deram ao pai nove netos e dois bisnetos.

Memorial

Seis décadas depois de sua chegada, Osvaldo sente orgulho da cidade que começou a construir na companhia de amigos: “moro aqui há 60 anos. Ninguém imaginava que Marechal Cândido Rondon ficaria desse tamanho. A cidade cresceu, tem prédio, se desenvolveu. Trabalhei demais na vida. Mas a cidade está bonita. Eu estou feliz”.

Osvaldo Heinrich, assim como Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, estão especialmente homenageados no Memorial dos Pioneiros, encomendado pela Acimacar e esculpido pelo artesão rondonense Hedio Strey. A obra fica exposta no Centro de Eventos durante a ExpoRondon. Osvaldo Heinrich participou da cerimônia de inauguração do memorial, ocorrida na noite de quinta-feira (22).


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A arte de fotografar a natureza


“O meu trabalho é voltado para a conscientização sobre o meio ambiente. Tentar, através da fotografia, transmitir informações sobre a necessidade de preservarmos a única casa que a gente tem. Entender que a gente faz parte e não que é dono do planeta.” É assim que o curitibano Zig Koch define a motivação que o levou a ser um dos fotógrafos mais renomados do Brasil quando o assunto é registrar imagens da natureza. Diplomado em Arquiteta e Urbanismo em 1982, exerceu o trabalho de arquiteto por apenas quatro anos, até que, em 1986, Koch decidiu dedicar-se exclusivamente à fotografia, arte que já lhe era uma paixão desde a adolescência.

Hoje, Zig Koch possui em seu currículo trabalhos para grandes revistas brasileiras, como Veja, Caminhos da Terra, Viagem e Turismo, Elle, Ícaro, Manchete, Horizonte Geográfico, entre outras, as quais reproduziram em suas páginas inúmeras imagens captadas pelo fotógrafo ao longo de incontáveis viagens pelo Brasil, Europa, África e Estados Unidos. Zig Koch também conta com uma série de trabalhos para órgãos ligados ao governo e entidades não governamentais, além de fazer parte de mais de uma dezena de livros, diversos calendários e peças publicitárias de caráter nacional e internacional.

Segundo Koch, desde que começou a fotografar o seu foco sempre foi a flora, a fauna e paisagens. “Como eu gostava muito de natureza, em 1982, fiz o primeiro curso de observação de aves, provavelmente do Brasil. Neste curso tinha um módulo que era fotografia. Eu já fotografava e fiz esse curso para entender melhor as fotos de natureza que eu estava fazendo. Para entender o objeto das fotografias que está fazendo você tem que estudar o meio ambiente”, ensina Zig Koch, que também ministra palestras e promove cursos de fotografia.

Ao longo dos quase 25 anos de trabalho como fotógrafo profissional, o curitibano montou um arquivo com cerca de 170 mil fotos (entre cromos e imagens digitais). Uma pequena parte delas, cerca de 15 mil, está disponível no site criado pelo fotógrafo (www.naturezabrasileira.com.br).

Entre os trabalhos realizados, alguns dos que ele considera mais interessantes foram realizados para a WWF, famosa entidade voltada para a conservação da natureza. Ao todo foram seis expedições ao Pantanal e à Amazônia. “Dessas, a expedição para o Parque Nacional do Juruena (MT) acredito que tenha sido a melhor em vários sentidos, desde as possibilidades de fotografia, a estrutura muito bem montada, com caminhão, carro, barco, avião, helicóptero. Isso possibilitava uma mudança muito rápida de foco de fotografia, ainda mais na Amazônia, onde tudo é muito longe, muito difícil. Sempre é um trabalho de risco.”

Conhecer para amar


Antes de decidir seguir a carreira como fotógrafo profissional, Zig Koch comenta que, com o seu trabalho como arquiteto atuante na área de planejamento urbano, a ideia dele era fazer ações que beneficiassem muitas pessoas. Nesse sentido, ele acabou percebendo que um problema era a falta de conhecimento das pessoas sobre o meio ambiente. Isso porque, vale lembrar, na década de 80 os assuntos ligados à natureza não estavam tão em evidência como nos dias atuais.

Intuitivamente, Zig Koch acreditava que através das imagens seria possível levar às pessoas mais conhecimentos sobre o meio ambiente e, dessa forma, estimulá-las a terem uma atitude mais consciente a respeito da natureza. Na opinião do fotógrafo, “as pessoas amam o que conhecem. Se elas começam a perceber que existe uma relação de vida entre as pessoas e o meio ambiente e que isso traz um benefício grande para a gente, o comportamento delas com a natureza pode ser diferente. Esse é o mote do meu trabalho até hoje. Muita gente pensa que as pessoas e o meio ambiente são coisas separadas e cada um tem que ficar no seu espaço. Mas as coisas não têm uma separação física. Tudo é meio ambiente.”


- (Cristiano Viteck, revista Amigos da Natureza - Junho/2010)

FOTO: Zig Koch

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Histórias que se perdem...


Não sabemos nada de nossa história, ou sabemos muito pouco. A ficha caiu esta semana em que estou fazendo uma série de reportagens para um jornal especial sobre os 50 anos de Marechal Cândido Rondon, que circula na próxima semana. Trata-se de um pequeno punhado de entrevistas que nem de longe cobre tudo o que de interessante aconteceu em Marechal Cândido Rondon desde 1950. Na verdade, é uma gota d’água em meio ao oceano.

Na linha da história, o nosso município é um bebê. Para se ter ideia, o primeiro homem que veio aqui fazer as medições iniciais de terra ainda está vivo. O mesmo acontece com um monte de outros personagens, ilustres e anônimos que estão por aí, com suas passagens de vida fervilhando no caldo da memória, esperando serem registradas antes que se apaguem definitivamente.

É fato que muito se escreveu e se pesquisou sobre o passado da nossa cidade, principalmente nos últimos anos. Muitos desses trabalhos estão lá, guardados (pra não dizer esquecidos), nos arquivos do curso de História da Unioeste. Outros trabalhos foram publicados em forma de livro – e aqui vale o reconhecimento a Venilda Saatkamp, Robson Laverdi, Jadir Zimmermann, Ana Paula Wilmsen, Maria Cristina Kunzler, Valdir Gregory, Udilma Weirich, Tarcísio Vanderlinde e outros mais que se dedicaram e ainda se dedicam a preservar os fragmentos de nosso passado.

Mas tem espaço para muito mais. Nesse momento em que Marechal Cândido Rondon comemora seu cinquentenário, seria ideal pensar seriamente na criação de um fundo municipal para financiar pesquisas de cunho histórico, quem sabe em uma parceria com o curso de História da Unioeste. Esse mesmo fundo poderia bancar também a publicação desses materiais em livros, em filmes, em fotos e no que mais for possível.

O jeito de gerenciar é o de menos. O que não podemos é deixar que as nossas histórias simplesmente se apaguem. E nisso o poder público tem um papel fundamental... É obrigação dele, e de todos nós, preservar as nossas memórias e identidades...

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Na foto, a primeira prefeitura de Marechal Cândido Rondon, em 1961.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A caçada ao assassino de Lincoln


Concluí a leitura de um dos livros mais bacanas que já caíram nas minhas mãos nos últimos tempos. “A Caçada ao Assassino de Lincoln: 12 dias que abalaram os EUA”, de autoria do advogado estadunidense James L. Swanson. Originalmente publicado em 2006, foi lançado no Brasil um ano depois, pela editora Record. Está a venda pela bagatela de R$ 9,90 nas Livrarias Curitiba.

Como o título já deixa claro, a obra, um calhamaço de 500 páginas, reconstitui o assassinado do presidente Abraham Lincoln, ocorrido na noite de 14 de abril de 1865, no Teatro Ford, em Washington. Era uma Sexta-feira Santa e o então presidente norte-americano regozijava-se ainda com a vitória dos Estados do Norte sobre os do Sul na Guerra da Secessão, que dividiu o país de 1861 a 1865 e acabou poucos dias antes do assassinato do então líder da nação.

Décimo sexto presidente dos Estados Unidos, Lincoln foi morto por um único tiro certeiro disparado à queima roupa de dentro do camarote presidencial pelo ator John Willes Booth, enquanto o presidente assistia a uma peça. Desgostoso com o fim da escravidão, abolida por Lincoln em 1863, Booth já havia meses antes articulado o sequestro do presidente, sem sucesso. O ator decidiu matá-lo após ficar enfurecido quando ouviu um discurso, no qual o presidente afirmava que concederia direito de voto aos negros. Três dias depois do anúncio, Booth disparava o tiro fatal, em uma trama rapidamente articulada e que contava com outros comparsas encarregados de prestar ajuda na fuga ou de promoverem os assassinatos simultâneos do vice-presidente e do secretário de estado William Henry Seward, estes sem sucesso.

A caçada a Booth durou 12 dias, até que acabou morto por disparo de arma de fogo dentro do celeiro de uma propriedade rural no Estado da Virgínia, durante uma tentativa de captura mal sucedida. E é justamente a fuga de Washington rumo ao Sul do país que está centrada a narrativa do escritor James L. Swanson. Claro que ele remonta, com riqueza de detalhes e com um talento impressionante para dar ritmo e emoção aos fatos, os preparativos, o momento exato do assassinato do presidente e todos os fatos que se seguiram durante a caçada, terminando a história com os enforcamentos e prisões dos cúmplices de Booth, além de um breve relato sobre a mitificação do ator-assassino durante os anos que se seguiram após a sua morte.

Como se já não bastasse o interesse natural que a história desperta, a forma como ela é retratada na obra é um estímulo a uma leitura voraz e nada cansativa das cinco centenas de páginas que formam o livro. Fluente em temas como história e cultura norte-americana, o autor consegue repassar ao leitor o clima da época retratada. Mensagens telegráficas, cavalarias, trens, barcos a vapor, estalagens... um verdadeiro bang bang da vida real. Tudo isso escrito a partir de inesgotáveis fontes de pesquisa utilizadas por Swanson, que ainda disponibiliza no livro algumas imagens e fotos das principais personagens e lugares que fizeram do assassinato e da caçada ao carrasco do presidente Lincoln um dos momentos mais marcantes da história dos Estados Unidos.

“A Caçada ao Assassino de Lincoln: 12 dias que abalaram os EUA” é leitura altamente recomendável tanto para historiadores como para leigos, interessados simplesmente em desfrutar da companhia de um bom livro. E este, certamente o é!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A cultura da hortelã no Oeste do Paraná - Parte Final


LEGENDA: Seu Zequinha: “sinto muita saudade. Isso nunca mais sai da memória da gente”.

Costumes diferentes

Em sua dissertação, Gilson chama a atenção para as diferenças nos modos de viver entre os migrantes vindos do sul e aqueles que chegaram de outras regiões do país. Uma, já apontada, é que os catarinenses ou gaúchos, em sua grande maioria, adquiram terras nos primeiros anos da colonização, enquanto que os outros quase sempre vinham para trabalhar nessas áreas como empregados, meeiros ou arrendatários.

Esse fato levava a uma situação até engraçada, porque os migrantes do sul, geralmente, pressupunham que os “nortistas” tinham vocação ou já sabiam lidar com a hortelã, o que estava longe da verdade. “É um conhecimento que eles adquiriram trabalhando, por uma questão de necessidade de sobrevivência. Pelos relatos dessas pessoas, elas não sabiam, nem conheciam o que era a hortelã”.

Outro estranhamento era a maneira de lidar com o dinheiro. “Eles não tinham muito o costume de economizar”, diz Gilson sobre os trabalhadores ditos nortistas, embasado em entrevistas feitas com migrantes tanto do sul como das outras regiões. Huberto Dörner, 66 anos e pequeno produtor que chegou em Mercedes em 1961 e que também chegou a trabalhar com a hortelã, mas numa pequena área, corrobora com a afirmação.

Músico que tocou em muitos bailes da época, Huberto entende que “o caboclo, os paulistas que vieram na ocasião aí, eles não sabiam economizar, deixar pra amanhã. Torravam o que tinham. Se tinham os últimos cinco pilas no bolso, não iam embora sem gastar e amanhã eles começam tudo de novo”. Em razão disso, além do fato de haver um grande número de pessoas na época da hortelã, ele afirma que na época “quem mais faturou foram os comerciantes de Mercedes”.

Seu Geraldo, o mineiro que trabalhava como peão na atividade, comenta que, no seu caso, “o dinheiro que às vezes a gente tinha ia passear, rapaz solteiro, sabe como que é, né! Não segura muito o dinheiro. Então, tudo que eu via eu comprava”.

O fim

A cultura hortelaneira exige um solo bastante rico, o que se encontrava facilmente na região. Para tanto, bastava fazer o desmatamento. Realizada essa tapa, se plantava as mudas, que estariam prontas para o primeiro corte dentro de 120 dias, em média. Assim, a planta brotava novamente e outro corte podia ser feito depois de quatro meses, o que resultava em três colheitas a cada ano. Porém, como a hortelã é uma cultura que exige muito do solo, uma área servia para a atividade por no máximo cinco anos. A partir desse período a produção começava a definhar, o que exigia a derrubada de novas áreas da mata.

Uma vez feito o corte, as plantas eram levadas para o alambique, onde se extraía o óleo. Este era o produto que as empresas compradoras estavam interessadas e pelo qual faziam o pagamento conforme o total de gramas de óleo que era entregue em cada venda.

Com o esgotamento do solo e sem mais áreas para onde expandir, ao final da década de 1970 a produção acabou se tornando inviável e foi substituída por outras atividades, entre elas, a cultura da soja, que foi intensificada. Sem terem mais onde trabalhar, uma vez que no mesmo período aconteceu a mecanização das práticas agrícolas, que reduziu drasticamente a necessidade de mão-de-obra, muitas pessoas acabaram indo embora da região. Quem ficou, teve que se adaptar à nova realidade e buscar outras alternativas de renda.

Além do colapso da economia ligada à hortelã, a cultura deixou também um enorme rastro de destruição da natureza, em um período em que já se começavam os alertas sobre a necessidade de se cuidar do meio ambiente. Conforme o historiador Gilson, na época, “a Copagril, nos seus informativos, já alertava que, junto com a produção agrícola, que necessitava de uma área cada vez maior, existia também uma preocupação com o meio ambiente”.

Atualmente, a devastação da natureza da região está muito associada ao processo de mecanização agrícola, mas antes, conforme o pesquisador, esse processo já estava em andamento. “A hortelã colaborou bastante para a devastação”, afirma o pesquisador, que revela que os próprios governos acabavam incentivando a derrubada da mata. “A partir dos relatos que eu trabalhei, foi colocado que quanto mais mato você derrubava, mais terra você estava ocupando e maior era o financiamento que podia fazer. Derrubava-se o mato até a barrancas dos rios. Queimava-se a madeira ou jogava no rio”, revela.

Daquele período, hoje restam somente as lembranças, algumas fotos ou poucos documentos espalhados por aí. Mas alguns que viveram no dia-a-dia a cultura da hortelã, como Seu Zequinha, ainda estão por aí e lembram muito bem de toda aquela história. “Foi uma época boa. Uma luta que valeu a pena. Sinto muita saudade. Ainda sonho com a lambicação da hortelã e isso nunca mais sai da memória da gente”, garante o agricultor.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A cultura da hortelã no Oeste do Paraná - Parte 2


LEGENDA: Alambique para a extração do óleo da hortelã.

Migrantes

O ciclo da hortelã se estendeu aproximadamente de 1968 a 1978. Os compradores geralmente eram empresas japonesas, que adquiriam basicamente o óleo da planta, que era extraído pelos próprios produtores da região em alambiques, num processo conhecido como lambicagem. O produto era destinado, entre outros fins, às indústrias de cosméticos e farmacêutica.

A hortelã exigia bastante mão-de-obra. “Todo o processo era manual. Trabalhadores da época colocam que era uma atividade pesada, mas que era boa”, diz o historiador. Isso explica, em partes, o grande fluxo de pessoas que chegou à região. Em 1970, por exemplo, a população de Marechal Cândido Rondon (que na época ainda contava com os distritos de Mercedes, Entre Rios do Oeste, Pato Bragado e Quatro Pontes, todos emancipados no início dos anos 1990) era de mais de 43 mil habitantes. Conforme Gilson, “havia um movimento grande na cidade, muitos táxis, um comércio forte. Não tem comparação, mesmo agora, com toda a estrutura que se tem”. No caso de Mercedes, os números comprovam o crescimento populacional: em 1960, no distrito moravam 1.509 pessoas e, em 1981, o total havia saltado para 5.752 habitantes, população próxima à atual no município.

Uma das preocupações da pesquisa foi resgatar a memória daqueles que não são privilegiados na história da região, ou seja, os pioneiros que não vieram do Rio Grande do Sul ou Santa Catarina. “Muito se fala do migrante sulino como o tipo ideal para se colonizar a região. Mas, tivemos também pessoas vindas de outros lugares como Minas Gerais, Bahia, São Paulo, até mesmo do norte do Paraná. Essas pessoas, geralmente, não vieram para comprar a terra, que era o caso da maioria dos migrantes sulinos. Eles vieram em busca de trabalho. São os chamados trabalhadores itinerantes, que encontraram na nossa região as plantações de hortelã. Muitos desses migrantes trabalharam alguns anos na atividade hortelaneira e depois foram embora. Trabalhavam como arrendatários, meeiros, desenvolviam o trabalho pesado. Então, é possível perceber que não foi uma migração homogênea que veio do sul. Mas, sim, que havia pessoas vindas de várias regiões, e isso já na década de 1960”.

Geraldo Alves Gonçalves, hoje com 49 anos, é um desses trabalhadores migrantes que, paticamente por acaso, chegou em Marechal Cândido Rondon em 1974 e viu na hortelã a sua primeira oportunidade de trabalho.

Natural de Poté, Minas Gerais, Geraldo deixou o lugar em que nasceu aos 11 anos, quando mudou para a cidade de São Paulo, onde o irmão trabalhava como pedreiro. Na capital paulista vendeu picolé, entregou jornal, mas o dinheiro era pouco. Então, ainda adolescente, foi tentar a vida em Curitiba, onde não passou mais do que algumas horas até decidir vir para Marechal Cândido Rondon, acabando por se instalar em Mercedes, em 1974, época que a cultura hortelaneira estava indo muito bem.

Memórias

“Quando eu cheguei era tudo mato, que foi derrubado para o plantio da hortelã”, recorda Geraldo. Segundo ele, lidar com a cultura era um trabalho sofrido: “você tinha que derrubar o mato, queimar, fazer a muda e plantar a hortelã. Mas era um trabalho que a gente ficava mais satisfeito, porque na época trabalhava e tinha dinheiro. Hoje você trabalha e não tem. Na época, tudo que eu via eu comprava. Uma bicicleta nova, um sapato bonito que eu queria comprar eu comprava, uma roupa. Na época era muito bom, eu queria que voltasse aquele tempo que nós tinha”.

Geraldo conta que quando veio para a região, nem ao menos conhecia a hortelã. Mas, tão logo percebeu que apesar da lida dura, essa era uma atividade rentável, ele passou a trabalhar na cultura também. “Eu era pinga-pinga, parava em qualquer propriedade. Eu chegava e pedia se tinha serviço pra cortar hortelã. Aí quando tinha, eles me davam comida, me davam roupa, dormia ali mesmo e no outro dia direto de novo, até acabar a hortelã. Então quando acabava numa propriedade, ia pra outra”.

O serviço era pago por salamim (uma área de 25 m x 55 m). “Quando eu comecei a cortar hortelã, eu não sabia como fazer, cortava com enxada. Não cortava nem meio salamim por dia. Aí inventaram aquela gadanha, uma espécie de foice, daí passei a cortar um por dia, no outro dia já cortei dois e assim foi indo”.

Seu Zequinha, aquele do começo da reportagem, começou a trabalhar com a hortelã em 1971, também por acaso. Inicialmente, quando chegou em Mercedes, a idéia era cultivar milho, soja e mandioca, numa empreitada junto com o seu irmão. No início, o trabalho foi como o planejado. Em 1970, fizeram a derrubada da mata e plantaram milho, que rendeu uma boa colheita. Porém, em conversas surgiu a idéia de plantar hortelã, em área arrendada, o que causou espanto à sua esposa. “Disse ela pra mim: ‘nós vamos deixar de plantar planta pra plantar mato?’. Eu disse: “mulher, a gente faz uma experiência na vida também’”.

A atividade deu certa. Zequinha e a família cultivaram a hortelã por cerca de cinco anos. Ele lembra que a atividade dava um bom dinheiro. “Olha, rapaz, era até interessante porque, às vezes, amanhecia o dia e você tava duro igual santo de igreja. Sem dinheiro, às vezes sem comida, aí quando era pelas 10 horas, o comprador chegava e a coisa mudava, porque a gente vendia tudo à dinheiro. Era uma plantação de rendimento. Mas teve muito coitado que se saiu bem, mas não teve um grande futuro, porque achava que nunca ia acabar aquela riqueza".