terça-feira, 11 de maio de 2010

A cultura da hortelã no Oeste do Paraná - Parte 2


LEGENDA: Alambique para a extração do óleo da hortelã.

Migrantes

O ciclo da hortelã se estendeu aproximadamente de 1968 a 1978. Os compradores geralmente eram empresas japonesas, que adquiriam basicamente o óleo da planta, que era extraído pelos próprios produtores da região em alambiques, num processo conhecido como lambicagem. O produto era destinado, entre outros fins, às indústrias de cosméticos e farmacêutica.

A hortelã exigia bastante mão-de-obra. “Todo o processo era manual. Trabalhadores da época colocam que era uma atividade pesada, mas que era boa”, diz o historiador. Isso explica, em partes, o grande fluxo de pessoas que chegou à região. Em 1970, por exemplo, a população de Marechal Cândido Rondon (que na época ainda contava com os distritos de Mercedes, Entre Rios do Oeste, Pato Bragado e Quatro Pontes, todos emancipados no início dos anos 1990) era de mais de 43 mil habitantes. Conforme Gilson, “havia um movimento grande na cidade, muitos táxis, um comércio forte. Não tem comparação, mesmo agora, com toda a estrutura que se tem”. No caso de Mercedes, os números comprovam o crescimento populacional: em 1960, no distrito moravam 1.509 pessoas e, em 1981, o total havia saltado para 5.752 habitantes, população próxima à atual no município.

Uma das preocupações da pesquisa foi resgatar a memória daqueles que não são privilegiados na história da região, ou seja, os pioneiros que não vieram do Rio Grande do Sul ou Santa Catarina. “Muito se fala do migrante sulino como o tipo ideal para se colonizar a região. Mas, tivemos também pessoas vindas de outros lugares como Minas Gerais, Bahia, São Paulo, até mesmo do norte do Paraná. Essas pessoas, geralmente, não vieram para comprar a terra, que era o caso da maioria dos migrantes sulinos. Eles vieram em busca de trabalho. São os chamados trabalhadores itinerantes, que encontraram na nossa região as plantações de hortelã. Muitos desses migrantes trabalharam alguns anos na atividade hortelaneira e depois foram embora. Trabalhavam como arrendatários, meeiros, desenvolviam o trabalho pesado. Então, é possível perceber que não foi uma migração homogênea que veio do sul. Mas, sim, que havia pessoas vindas de várias regiões, e isso já na década de 1960”.

Geraldo Alves Gonçalves, hoje com 49 anos, é um desses trabalhadores migrantes que, paticamente por acaso, chegou em Marechal Cândido Rondon em 1974 e viu na hortelã a sua primeira oportunidade de trabalho.

Natural de Poté, Minas Gerais, Geraldo deixou o lugar em que nasceu aos 11 anos, quando mudou para a cidade de São Paulo, onde o irmão trabalhava como pedreiro. Na capital paulista vendeu picolé, entregou jornal, mas o dinheiro era pouco. Então, ainda adolescente, foi tentar a vida em Curitiba, onde não passou mais do que algumas horas até decidir vir para Marechal Cândido Rondon, acabando por se instalar em Mercedes, em 1974, época que a cultura hortelaneira estava indo muito bem.

Memórias

“Quando eu cheguei era tudo mato, que foi derrubado para o plantio da hortelã”, recorda Geraldo. Segundo ele, lidar com a cultura era um trabalho sofrido: “você tinha que derrubar o mato, queimar, fazer a muda e plantar a hortelã. Mas era um trabalho que a gente ficava mais satisfeito, porque na época trabalhava e tinha dinheiro. Hoje você trabalha e não tem. Na época, tudo que eu via eu comprava. Uma bicicleta nova, um sapato bonito que eu queria comprar eu comprava, uma roupa. Na época era muito bom, eu queria que voltasse aquele tempo que nós tinha”.

Geraldo conta que quando veio para a região, nem ao menos conhecia a hortelã. Mas, tão logo percebeu que apesar da lida dura, essa era uma atividade rentável, ele passou a trabalhar na cultura também. “Eu era pinga-pinga, parava em qualquer propriedade. Eu chegava e pedia se tinha serviço pra cortar hortelã. Aí quando tinha, eles me davam comida, me davam roupa, dormia ali mesmo e no outro dia direto de novo, até acabar a hortelã. Então quando acabava numa propriedade, ia pra outra”.

O serviço era pago por salamim (uma área de 25 m x 55 m). “Quando eu comecei a cortar hortelã, eu não sabia como fazer, cortava com enxada. Não cortava nem meio salamim por dia. Aí inventaram aquela gadanha, uma espécie de foice, daí passei a cortar um por dia, no outro dia já cortei dois e assim foi indo”.

Seu Zequinha, aquele do começo da reportagem, começou a trabalhar com a hortelã em 1971, também por acaso. Inicialmente, quando chegou em Mercedes, a idéia era cultivar milho, soja e mandioca, numa empreitada junto com o seu irmão. No início, o trabalho foi como o planejado. Em 1970, fizeram a derrubada da mata e plantaram milho, que rendeu uma boa colheita. Porém, em conversas surgiu a idéia de plantar hortelã, em área arrendada, o que causou espanto à sua esposa. “Disse ela pra mim: ‘nós vamos deixar de plantar planta pra plantar mato?’. Eu disse: “mulher, a gente faz uma experiência na vida também’”.

A atividade deu certa. Zequinha e a família cultivaram a hortelã por cerca de cinco anos. Ele lembra que a atividade dava um bom dinheiro. “Olha, rapaz, era até interessante porque, às vezes, amanhecia o dia e você tava duro igual santo de igreja. Sem dinheiro, às vezes sem comida, aí quando era pelas 10 horas, o comprador chegava e a coisa mudava, porque a gente vendia tudo à dinheiro. Era uma plantação de rendimento. Mas teve muito coitado que se saiu bem, mas não teve um grande futuro, porque achava que nunca ia acabar aquela riqueza".

Um comentário:

  1. Adilço Custódio Mafra22 de setembro de 2013 às 23:49

    Parabéns pela reportagem Cristiano,ótima recordação eu e minha família éramos de São Miguel do Iguaçú e Missal PR. plantamos e colhemos muita hortelã nesta região,sempre tinhamos dinheiro, mas logo acabou e a Itaipú desapropriou as terras onde trabalhávamos, e hoje eu moro em Limeira-sp e minha mãe em Cascavel Pr. Que saudade, temos fotos daquele tempo.

    ResponderExcluir