segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Osvaldo Heinrich


Marechal Cândido Rondon começa a semana de luto com a morte de Osvaldo Heinrich, um dos três primeiros pioneiros que começaram a construir o município.

Há pouco menos de um mês fiz aquela que talvez seja uma das últimas, senão a última, entrevista com seu Osvaldo. Foi uma entrevista difícil. Com a saúde bastante fraca e com dificuldades para ouvir, o trabalho contou com a ajuda valorosa de parentes. Ainda assim, uma das entrevistas mais marcantes que fiz nos meus 15 anos como jornalista, afinal eu estava falando com a pessoa que derrubou a primeira árvore na região que viria a se tornar Marechal Cândido Rondon. A matéria saiu publicada no jornal especial sobre os 50 anos do município, publicado pelo jornal O Presente.

Lembro que naquela semana, em conversa com o amigo jornalista Jadir Zimmermann, comentamos como Osvaldo Heinrich era uma pessoa pouco valorizada ao longo dos anos pelo nosso município. Nós não lembrávamos de nenhuma entrevista ou homenagem que havia sido feita com Seu Osvaldo. Tanta gente que havia feito muito menos pelo município já havia sido festejado com confetes, títulos de cidadão honorário e muitas outras homenagens. Já o pioneiro sempre pareceu um tanto esquecido no nosso município. As razões, não fazíamos ideia.

Felizmente, Osvaldo Heinrich foi muito lembrado nas comemorações do cinquentenário do município. Enfim, teve a merecido reconhecimento dos rondonenses ainda em vida. Pagamos uma dívida enorme com ele.

Descanse em paz, Seu Osvaldo. E mais uma vez, muito obrigado por tudo o que fizestes por nós.

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“Eu cortei a primeira árvore em Marechal Rondon”

Os passos são lentos. A fala é arrastada. O corpo, aos 81 anos, não esconde a saúde agora frágil. Da varanda da casa simples onde mora, Osvaldo Heinrich contempla com satisfação o desenrolar de uma história que ele começou a escrever há 60 anos: a história do município de Marechal Cândido Rondon, que em 25 de julho comemora 50 anos de emancipação político-administrativa.

“Eu cortei a primeira árvore”, lembra Osvaldo Heinrich, que no dia 07 de março de 1950 empunhou o machado e desferiu o golpe que ficou marcado para sempre como o mito fundador de Marechal Cândido Rondon, município que não cansa de enaltecer as virtudes, em especial o trabalho e a coragem, de seus pioneiros. Aos poucos, o gesto de Osvaldo foi cada vez mais sendo repetido pelos novos aventureiros e famílias que chegavam para iniciar uma nova vida na vila que florescia em meio a uma densa floresta no extremo-Oeste do Paraná.

Chegada

Osvaldo Heinrich chegou ao que viria a se tornar a cidade de Marechal Cândido Rondon em 22 de novembro de 1949. Aos 20 anos, ele ficou entusiasmado com os relatos do pai, que cerca de três meses antes esteve na região, a convite de Willy Barth, diretor da Colonizadora Maripá, para conhecer á área onde a empresa pretendia iniciar uma nova comunidade.

O pai de Osvaldo voltou para a cidade da família, Panambi (RS) e contou o que viu. Foi então que Osvaldo, solteiro na época, decidiu se aventurar nessa área não civilizada do Oeste do Paraná, juntamente na companhia de Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, que também participaram da derrubada da primeira árvore.

Conforme Osvaldo, foram praticamente quatro meses vivendo sozinhos na floresta, dormindo no chão cercados pelos perigos da floresta, que os três homens pareciam desconsiderar. “De Toledo para cá era só mato, mas não era perigoso”, afirma o pioneiro.

Uma vez iniciada a derrubada da mata, os três desbravadores abriram uma clareira de 12,5 alqueires na região onde hoje está instalada a delegacia rondonense. Concluído o trabalho, começaram uma plantação de milho e de mandioca, sendo que as ramas, para iniciar o mandiocal, Osvaldo teve que buscar em Porto Mendes.

Caminhadas

A distância de outras localidades era um desafio e tanto para aqueles que estavam construindo a nova cidade. “Caminhei demais”, afirma Osvaldo, referindo-se aos dias em que andava por horas e horas seguidas a pé para ir até Toledo ou Porto Britânia (Pato Bragado) em busca de mantimentos. “Para ir até Toledo eram dois dias de caminhada, sozinho”, recorda.

Os primeiros tempos eram difíceis. Água eles obtinham das inúmeras fontes e riachos. O prato de praticamente todos os dias era um só: feijão e arroz. Porém, a caça era abundante: anta, paca, cotia, porco do mato, veado e outros animais. “Dentro do mato era só barulho de tanto bicho”, conta o pioneiro.

Como se pode perceber, o trabalho e as dificuldades eram muitas e a diversão, rara. Até porque, segundo ele, no início havia realmente poucas pessoas vivendo na nova vila.

Osvaldo casou com Adelina Vorpagel, já falecida, com quem teve quatro filhos: Nelson, Ilton, Rudi e Melani, que deram ao pai nove netos e dois bisnetos.

Memorial

Seis décadas depois de sua chegada, Osvaldo sente orgulho da cidade que começou a construir na companhia de amigos: “moro aqui há 60 anos. Ninguém imaginava que Marechal Cândido Rondon ficaria desse tamanho. A cidade cresceu, tem prédio, se desenvolveu. Trabalhei demais na vida. Mas a cidade está bonita. Eu estou feliz”.

Osvaldo Heinrich, assim como Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, estão
especialmente homenageados no Memorial dos Pioneiros, encomendado pela Acimacar e esculpido pelo artesão rondonense Hedio Strey. A obra fica exposta no Centro de Eventos durante a ExpoRondon. Osvaldo Heinrich participou da cerimônia de inauguração do memorial, ocorrida na noite de quinta-feira (22).


(Texto de Cristiano Viteck, publicado pelo jornal O Presente em julho de 2010)

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