sábado, 17 de novembro de 2012

A “Autobiografia” de Neil Young



Nas últimas semanas li três biografias de dois artistas que estão entre os mais importantes da música:  Neil Young e Dave Grohl. Recém lançadas no país, as obras são recomendadíssimas para quem acompanha a cultura pop.

Os dois sobre Dave Grohl ficam para a próxima postagem. Primeiro, o livro escrito pelo próprio Neil Young, que aos 65 anos decidiu parar de beber e de fumar maconha, fatores que, como ele mesmo afirma, foram fundamentais para ele criar coragem e encontrar a motivação para escrever “Autobiografia”, título que a obra recebeu no Brasil.

Concordo que Neil Young é um artista pouco conhecido aqui pelo nosso país e muitos devem estar se perguntando “Neil quem?”. Perto de completar quase sete décadas de vida, o cantor é considerado por muitos como o último sobrevivente da geração hippie dos anos 60. Um sujeito que ainda acredita no lema paz e amor e que, mesmo com mais de 30 discos na carreira, ainda produz muito e tudo com muita qualidade. Só para provar, em 2012, acompanhado de seus parceiros de longa data da banda Crazy Horse, lançou dois discos: “Americana”, só de covers de canções “folclóricas” dos EUA, e agora em setembro, um álbum duplo só de inéditas, chamado “Psychedellic Pill”.

Para quem não conhece o trabalho de Neil Ypung, indico o disco “Greatest Hits”, lançado em 2004 e que conta com algumas das melhores canções que ele lançou entre as décadas de 60 e 90. Aí nesse disco você vai encontrar todos os motivos para amar ou odiar o cantor.


Quanto à “Autobiografia”, é importante dizer que muita gente desceu o pau no livro, afirmando que Neil Young se esquivou de muitos assuntos espinhosos da carreira ou deu pouca importância para episódios importantes, como a morte de ex-parceiros que se deixaram levar pelas drogas, ou a sacanagem de processar um jornalista que durante anos trabalhou junto com Neil Young para escrever a biografia do músico, que depois decidiu processar o autor.

Mas, entendo Neil Young. Afinal ,é da vida dele que ele escreve no livro e ele tem todo o direito de escolher o que pretende contar e o que e prefere deixar que outros biógrafos escrevam sobre ele. Escrito em forma de diário, sem nenhuma ordem cronológica ou elo de ligação entre os capítulos, o livro, para tristeza de muito, foge totalmente do clichê sexo, drogas e rock and roll. Claro que o cantor aprontou as dele ao longo da vida. Mas, no livro ele prefere deixar isso de lado, com exceção a um ou outro comentário discreto aqui e ali.

Ao invés disso, prefere falar de suas paixões sobre réplicas de trem, carros antigos, a respeito do seu projeto inovador de criar um carro elétrico que dispense gasolina ou o PureTone, que pretende garantir que os arquivos digitais de música tenham uma qualidade bem maior do que o MP3 atual.

Também fala muito sobre a família. É tocante a maneira carinhosa e apaixonada como sempre se refere à sua terceira esposa e companheira de décadas, Pegi Young, e também aos filhos, dois deles com paralisia cerebral.


Mas o bacana mesmo é quando o roqueiro fala sobre sua paixão pela música, que o levou a sair de casa ainda moleque no Canadá, viver quebrado nos primeiros anos de carreira, até ter o talento reconhecido no auge da contracultura californiana na década de 60. Primeiro com a sua antiga banda Buffalo Springfield e depois como artista solo, que ainda gravou discos maravilhosos com a já mencionada Crazy Horse e também como membro do quarteto Crosby, Stills, Nash & Young, além de uma infinidade de outros músicos que já gravaram com ele. Também fez coisas sem muita importância, principalmente no começo da década de 80, quando chegou a ser processado pela própria gravadora por “produzir música atípica de Neil Young”.

Para um senhor de quase 70 anos que chegou perto da morte em 2005 por causa de um aneurisma e que já teve que dar adeus a tantos amigos que partiram antes dele, é natural que Neil Young também faça reflexões do tipo “qual o sentido da vida”. Mas, mais surpreendente é que o cara não cansa de olhar para o futuro, sempre pensando no próximo projeto, no que ainda está por vir, para a sorte dos fãs...

Editora: Globo
Ano de Lançamento: 2012
Número de páginas: 408
Preço médio: R$ 50

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Livro resgata os 180 anos da imigração alemã no Paraná




A historiografia paranaense acaba de ganhar um importante título que resgata, de forma inédita, a trajetória de um povo que teve participação decisiva na ocupação e desenvolvimento de várias regiões do Estado do Paraná. Escrita de forma conjunta por sete autores, “Imigração Alemã no Paraná – 180 anos: 1829 – 2009” é uma das principais publicações já produzidas sobre o tema da colonização do Estado e passa a ser obra de referência a respeito da história do Paraná.

A obra nasceu a partir das comemorações de 180 anos da imigração alemã no Paraná, que se estenderam ao longo de 2009. Grande parte das celebrações foi apoiada e coordenada pela Comissão de Festejos dos 180 Anos da Imigração Alemã no Paraná, cujo calendário de eventos comemorativos iniciou em 19 de fevereiro daquele ano com a maior sessão solene já realizada na Assembleia Legislativa do Paraná, que contou com a presença de autoridades brasileiras e alemãs, entre demais convidados. Diante de tamanho entusiasmo e repercussão, surgiu a proposta de publicar o livro, que agora está sendo lançado, cuja organização é de Harto Viteck, que foi o secretário executivo da Comissão de Festejos.

A publicação, com cerca de 400 páginas, está dividida em sete capítulos principais. As professoras Divinamir de Oliveira Pinto e Marli Uhlmann Portes escreveram sobre “Rio Negro: o berço da colonização alemã no Paraná”, no qual relatam a vinda dos imigrantes alemães originários da região de Trier e aldeias vizinhas, que embarcaram em junho de 1828 da Europa rumo ao Paraná, onde se estabeleceram nas terras férteis do vale do rio Negro.

O professor Marlon Ronald Fluck assina o capítulo “O núcleo alemão em Curitiba”, que começou a se desenvolver em 1833 com  alemães saídos da Colônia Dona Francisca (atual região de Joinville) e imigrantes alemães vindos da Europa. Ele se distingue dos demais núcleos do Estado por ocorrer no espaço urbano e por ser uma colonização espontânea, não oficial.

“Teuto-russos e sua história: da esperança à decepção” é o título do capítulo desenvolvido pelo professor Estevão Müller, no qual retrata as perseguições sofridas pelos povos de descendência alemã na Rússia, o que motivou a vinda para o Brasil, onde o imperador D. Pedro II decidiu recebê-los, garantindo a naturalização plena e apoio para a instalação das colônias de imigrantes, inclusive no Paraná. O mesmo autor também escreveu sobre “A história dos bucovinos no Paraná”, alemães que emigraram da Bucovina, região leste da Romênia, para a cidade de Rio Negro a partir de 1887, quando também passaram a ocupar outros espaços, como na cidade da Lapa.

“Menonitas alemães no Paraná” é o assunto desenvolvido pelo historiador Alfred Pauls. Os menonitas, que têm suas origens no movimento da Reforma Protestante da Igreja, no século XVI, na Europa, fugiram da Rússia nas primeiras décadas do século XX., por causa do regime violento de perseguições  imposto pela Revolução Comunista. No Paraná, os primeiros menonitas chegaram a partir de 1933, quando adquiriram a Fazenda Cancela, em Palmeira, onde criaram a famosa Colônia Witmarsum. Mais tarde famílias menonitas  também se estabeleceram em Curitiba e Ponta Grossa.

A professora Cláudia Portellinha Schwenberger é a autora do capítulo que trata dos “Pioneiros alemães em Rolândia”, que começaram a chegar à cidade em 1932, em um processo que foi intensificado a partir do ano seguinte, quando muitos alemães imigraram da Europa, temendo a ascensão de Hitler e a perseguição nazista contra políticos, católicos e judeus e demais cidadãos que não apoiassem o regime.

O professor Marcos Nestor Stein assina o capítulo “A Colônia Entre Rios no município de Guarapuava”, surgida em 1951, resultado do processo da diáspora ocorrido nos núcleos alemães do Leste Europeu após o final da Segunda Guerra Mundial, quando 500 famílias de refugiados, posteriormente designados de Suábios do Danúbio, vieram ao Paraná.

O último capítulo também leva a assinatura do professor Marcos Nestor Stein, em parceria com o professor Valdir Gregory. O tema por eles desenvolvido é “Migrações e germanidade: Oeste do Paraná e Marechal Cândido Rondon”. O tópico traz narrativas e discussões a respeito do povoamento desta região do Estado a partir da década de 1950, época em que diversas madeireiras e colonizadoras atuaram nesse território, estimulando a vinda do Rio Grande do Sul e Santa Catarina de migrantes descendentes de alemães.

Conforme Harto Viteck, além de marcar a passagem da data histórica, tem a tarefa de ser um referencial para que as gerações atuais e vindouras conheçam e reverenciem a memória dos antepassados, que produziram, junto com outras valorosas etnias, as transformações profundas que fazem do Paraná um dos Estados mais importantes do país.

Nesse sentido, o organizador acredita que a obra estimula ainda a reflexão e propõe um desafio. “Esperamos que a história contada neste livro sirva de exemplo e ação missionária. Se os nossos antepassados conseguiram superar grandes obstáculos e realizar tanto com tão pouco, o que podemos nós fazer de bem a nós mesmos e em favor da humanidade, tendo as facilidades da tecnologia tão avançada de hoje?”, questiona.

A publicação foi financiada com recursos da Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Souza Cruz, Copel e Caminhos do Paraná, numa realização do Ministério da Cultura e do Governo Federal, com apoio da Quixote Art & Eventos e da Editora Germânica. A obra, que não está sendo comercializada, é destinada à instituições de ensino e pesquisa, bibliotecas, museus, autoridades e órgãos de imprensa.

Para saber mais sobre o projeto, acesse o site www.imigracaoalemanoparana.com.br.


Lançamento do livro “Imigração Alemã no Paraná – 180 anos: 1829 – 2009”

09/11 - 20 horas - Marechal Cândido Rondon - Casa Gasa

19/11 - 19h30m - Curitiba - Goethe Institut

20/11 - 20 horas - Rio Negro - sede social da OAB-Rio Negro

21/11 - 20 horas - Lapa - Teatro São João

28/11- 20 horas - Rolândia - Jugendheim (Igreja Luterana)

(*) Os lançamentos na Colônia Entre Rios (Guarapuava) e Colônia Witmarsum (Palmeira) ainda serão agendadas.