quinta-feira, 17 de abril de 2014

Purple Majesty: um detalhe da pré-história dos Ramones

Disco foi gravado em 1967, mas só lançado no final de 2013

Recebi na semana passada um dos itens mais legais da minha coleção de discos dos Ramones. Na verdade, este nem se trata de um disco da banda, mas o primeiro trabalho feito por Joey Ramone como “produtor” musical, em 1967, quando tinha apenas 16 anos. Na época ele era apenas Jeff Hyman e ainda levaria sete anos para ficar conhecido como o cantor Joey Ramone.

Jeff e o irmão Mickey tiveram suas vidas transformadas pelo rock and roll na infância, quando ouviram pela primeira vez no rádio a música “La Bamba”, sucesso de 1958 do cantor Ritchie Valens. Daí para frente o rock passou a ser o interesse maior dos dois irmãos, que ainda crianças começaram a compor e tocar suas primeiras canções.

Purple Majesty era o nome de uma banda que Mickey (baixista) formou em 1966 com seus amigos Doug Scott (vocal e guitarra) e Andy Ritter (bateria), quando todos tinham apenas 12 anos. O trio escreveu algumas canções que chamaram a atenção de Jeff que, no inverno de 1967, decidiu “produzir” um disco do Purple Majesty.

Joey Ramone e o irmão Mickey poucos anos antes do Purple Majesty
Mesmo sem entender merda nenhuma sobre gravação, Jeff pagou o aluguel de uma hora no estúdio Sanders e levou o trio para gravar duas músicas: “In This Day and Age” e “I Can’t Keep From Crying”.  Cada membro da banda e o produtor saíram do estúdio com uma cópia do disco que foi gravado. Mas aí o Purple Majesty logo acabou e se tornou apenas uma lembrança. A vida seguiu e Mickey se dedicou a outros projetos musicais como as bandas Rattles e Stop e Jeff, bem, ele se tornou Joey Ramone.

Conforme contou Mickey, 30 anos depois da gravação acreditava-se que as únicas quatro cópias daquela primeira e última sessão de gravação do Purple Majesty estivessem perdidas para sempre. Foi por acaso Doug Scott encontrou o seu exemplar guardado dentro da capa de um disco dos Beach Boys. Mas foi só no final de 2013, 47 anos depois de gravadas, que as duas canções foram lançadas pelo selo nova-iorquino Norton Records em uma edição limitada a apenas algumas centenas de cópias em vinil colorido de sete polegadas.

Claro que as canções não têm nada de especial e a qualidade da gravação é mais tosca ainda, comprovando que como produtor Joey Ramone ainda estava anos-luz atrás do seu ídolo, o notório produtor Phil Spector. 

Mas, esse disquinho do Purple Majesty vale como um registro histórico. Ele prova de que ainda adolescente o futuro cantor dos Ramones já acreditava naquele que seria o maior lema do punk rock: o faça você mesmo. 

Então, dá ou não vontade de ter esse disquinho na sua coleção?

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Novo documentário investiga: quem matou Kurt Cobain?

Filme reconstitui cenário da morte de Kurt Cobain

Ontem, 08 de abril, data em que há 20 anos o músico Kurt Cobain foi encontrado morto, foi divulgado o trailer de um novo documentário que se propõe a desmentir a versão de que o líder do Nirvana tenha cometido suicídio. Para Benjamin Statler, diretor do filme “Soaked in Bleach” – ainda sem data de estreia –, o cantor foi assassinado.

Essa teoria não é novidade. Alguns já defendem essa hipótese desde o dia em que Kurt Cobain foi encontrado morto com um tiro na cabeça em um quarto acima da garagem de sua mansão em Seattle.

Em 1998, o diretor Nike Bloomfield lançou o filme “Kurt & Courtney”, no qual deu a sua versão sobre o relacionamento entre o músico e a esposa Courtney Love. Segundo a teoria de Bloomfield, Courtney mandou mandar matar o marido depois que ele ameaçou se divorciar e ficar com a guarda da filha de dois anos do casal.

“Kurt & Courtney” trazia depoimentos que tentavam justificar a teoria de assassinato planejado pela esposa. Um dos que sugerem isso é o próprio pai de Courtney, assim como o detetive particular Tom Grant, que foi contratado por ela para descobrir o paradeiro de Kurt nos dias em que ele esteve desaparecido antes do corpo ser descoberto. 

A filha Frances Bean e o casal Courtney e Kurt

Há até mesmo um músico chapadaço de Seattle, El Duce, que afirma que Courtney teria lhe oferecido 50 mil dólares para matar Kurt. El Duce disse ter negado a oferta, mas declarou saber quem teria aceitado a proposta. Estranhamente, dias após dar esse depoimento, El Duce foi encontrado morto, atropelado por um trem.

A tese mostrada em “Kurt & Courtney” foi tratada como mera teoria da conspiração. Então, qual o interesse em se produzir mais um documentário sobre o assunto? Pelo trailer de “Soaked in Bleach”, o objetivo é forçar a polícia de Seattle a reabrir o caso e investigar novamente as circunstâncias da morte de Kurt Cobain.

Novamente o detetive particular Tom Grant aparece defendendo a tese de que Courtney Love tem culpa no cartório. Especialistas apresentam as teses já anteriormente levantadas de que Kurt não teria condições de atirar contra si próprio após ter injetado a quantidade gigantesca de heroína que foi encontrada em seu corpo. Ressurge também a teoria, entre outras, de que não foi Kurt quem escreveu as últimas linhas de sua carta de suicídio, pois as letras são diferentes. Quem teria escrito? Courtney Love.

Com acesso direto aos arquivos da polícia de Seattle envolvendo o caso, uma das principais cenas do documentário é a reconstituição exata da cena em que Kurt Cobain foi encontrado, um segredo que vinha sendo guardado há sete chaves nos últimos 20 anos.

Puro sensacionalismo ou uma investigação séria e reveladora? Aguardemos a estreia de “Soaked in Bleach”...

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ASSISTA AO TRAILER:



sábado, 5 de abril de 2014

Kurt Cobain: o último rock star


Kurt Cobain (1967-1994)


Há exatos 20 anos morreu Kurt Cobain. Cerca de 30 meses após se tornar uma estrela da música e um ídolo para milhões de pessoas, o líder do Nirvana decidiu por fim à própria vida. O seu corpo foi encontrado em 08 de abril, mas os legistas confirmaram: a morte ocorreu três dias antes, em 05 de abril de 1994. Tinha 27 anos.

Com mais de 30 milhões de discos vendidos ao redor do mundo, especialmente o clássico “Nevermind”, que tornou o grupo famoso em 1991, o Nirvana foi a última banda a ter um impacto gigante não só no meio musical, mas na própria cultura de massa, incluindo aí suas ramificações principalmente na moda com aquela história de grunge.

Kurt morreu, mas o mundo nunca deixou de falar e ouvir a música do artista. E não apenas a geração que era adolescente na época do sucesso do Nirvana. Dias atrás circulou na internet um vídeo que mostrava a reação de adolescentes americanos ao ouvirem músicas e assistirem clipes da banda pela primeira vez. Era lindo ver aqueles jovens sendo impactados pela criação artística de Kurt Cobain, assim como a minha geração foi também no início da década de 90.

Em seu novo livro, o principal biógrafo de Kurt Cobain, o jornalista Charles R. Cross, usa o benefício da perspectiva do tempo para tentar entender/explicar o porquê o Nirvana se tornou um fenômeno e porque Kurt Cobain é e vai continuar sendo por muito tempo um ídolo, influenciando sempre novas gerações:



Kurt se transformou numa referência, tendo em vista que a música do Nirvana continua a encontrar público diante das novas gerações de adolescentes a cada ano que passa. Vejo nessa popularidade permanente uma semelhança ao modo como todo adolescente que conheço acaba lendo O Apanhador no Campo de Centeio a certa altura. Kurt Cobain e o Nirvana agora fazem parte de um rito de passagem pela adolescência, o verdadeiro teen spirit.”

O novo livro de Charles R. Cross, “Kurt Cobain: a construção do mito”, foi lançado às vésperas da efeméride dos 20 anos da morte do líder do Nirvana. A obra teve lançamento mundial em março e, nesta semana, chegou às livrarias brasileiras em edição nacional. Em pouco mais de 170 páginas, o jornalista analisa a carreira do Nirvana e sua influência no mundo da música; o grunge e a cultura; o estilo e a moda; as cidades de Aberdeen e Seattle antes e depois da fama do Nirvana; o vício e o suicídio de Kurt Cobain e, por sim, o seu legado.

Nem de longe é o melhor livro para conhecer e entender a vida de Kurt Cobain. Quem estiver interessado nisso o melhor é ler “Mais Pesado que o Céu”, a extensa biografia do músico também escrita por Charles R. Cross e publicada em 2002. Já “Kurt Cobain: a construção do mito” é um livro de poucas novidades para os fãs mais dedicados. Porém, é uma peça importante para aqueles que estão começando a se familiarizar com a música e a história do Nirvana.

Foto do corpo de Kurt Cobain, divulgada pela primeira vez esta semana

Mas o livro não pretende ser um trabalho definitivo, a última palavra sobre Kurt. E o autor é correto ao reconhecer que nenhuma análise, por mais abrangente que seja, consegue explicar o fenômeno que foi o Nirvana: "No fim, a influência de um artista é uma questão pessoal. Se você foi tocado ou se emocionou de alguma maneira por Kurt Cobain, o que o atraiu é a chave para o que o legado dele significa para você hoje."

Para a edição nacional fica a crítica para o título dado ao livro. Nos Estados Unidos publicado como “Here We Are Now: The Lasting Impact of Kurt Cobain” (Aqui estamos nós: o duradouro impacto de Kurt Cobain), o título é mais apropriado para o que o leitor encontra no livro .

Já o título da edição brasileira, “Kurt Cobain: a construção do mito” soa inapropriado. Primeiro porque nem de longe se trata de uma obra que reconstrói os passos do Nirvana ao sucesso. Segundo que Kurt e o Nirvana não foram “construídos” por empresários, pela gravadora, pela MTV. Se Kurt Cobain tornou-se um mito, ele se fez pelo talento e pelo seu legado artístico irretocável e, convenhamos, por um bocado de sorte. O Nirvana foi a banda certo no lugar e na época certas. 

E Kurt foi o último grande rock star cujo fim trágico, 20 anos depois, nunca deixamos de lamentar.