sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Divagações sobre J. D. Salinger


“O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O homem maduro contenta-se em viver humildemente por ela.”
J. D. Salinger

“O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger é um romance obrigatório, que deveria ser lido por todos os estudantes do ensino fundamental. Nada de José de Alencar e aqueles escritores chatos que matam para sempre a vontade de ler dos alunoss. Adolescente não quer saber de Iracema, a virgem dos lábios de mel. Adolescente quer é se identificar com alguém que passe pelos mesmos problemas que os dele, que sinta o mesmo vazio, que tenha a mesma vontade de experimentar, de amar o novo, de odiar o velho. Adolescente quer ser como Holden Caulfield, o personagem principal de “O Apanhador no Campo de Centeio”.

Li o livro pela primeira vez em 1999, quando já estava com 21 anos. A obra era difícil de achar, já que a editora que o publica no Brasil é bem pequena. Quem me passou o livro, fotocopiado, foi meu amigo Glauco. Leitura imediata. Comecei à noite e no outro dia de manhã tinha terminado. Numa tacada só. Outro livro que tenha me atraído tanto assim, que eu me lembre, só “On The Road”, de Jack Kerouac. Mas aí já é outra história...

“O Apanhador no Campo de Centeio” conta alguns dias da vida de Holden Caulfield que, expulso da escola nas vésperas do Natal, perambula por Nova York por alguns dias antes de ir para casa contar aos pais o que havia acontecido. Bebe, fuma, encontra os amigos, perambula sem rumo, curte a noite... E no meio de tudo isso, vai construindo uma imagem bem negativa do mundo adulto. Contando assim parece banal. Mas, experimente ler... Não é à toa que o livro, publicado em 1951 e um sucesso de venda, foi considerado um dos eventos responsáveis pela construção do conceito de “adolescente” que nós temos hoje em dia, o qual ganhou força e se firmou a partir da década de 1950. "O Apanhador no Campo de Centeio" causa uma minirrevolução.

Pois, bem. O escritor J. D. Salinger morreu ontem, de causas naturais, aos 91 anos de idade. A repercussão da sua morte é imensa em todo mundo. Mesmo não tendo publicado nada de novo há mais de 40 anos, esse norte-americano é lembrado como um dos maiores escritores do século XX. Recluso, era avesso a entrevistas. A última que concedeu foi em 1980. Também não se deixava fotografar. Escreveu pouco. Além de “O Apanhador no Campo de Centeio”, publicou apenas alguns conto e outros três livros, entre eles o também elogiado “Franny e Zooey”, no qual consta aquilo que considero a melhor e mais bela definição já feita sobre o que vem a ser Deus.

Mesmo vivendo isolado, sem querer J. D. Salinger fazia muito barulho. Quando Mark Chapman foi preso depois de matar John Lennon, no dia 8 de dezembro de 1980, ele segurava nas mãos um exemplar de “O Apanhador no Campo de Centeio”. Justificou o assassinato dizendo ter encontrado mensagens na obra que o incitavam a matar o ex-beatle. No dia 30 de abril de 1981, o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagen foi vítima de um atentado. O atirador se disse inspirado também pelo livro.

Mas “O Apanhador no Campo de Centeio” não tem nada a ver com morte. Pelo contrário, é sobre a vida. O famoso publicitário brasileiro Washington Olivetto disse certa vez que tem sempre vários exemplares do livro em casa, com os quais costuma presentear os amigos. Outro ilustre apaixonado pela obra é o escritor Luis Fernando Veríssimo. Em um texto que escreveu, decifrou o enigma da atração de “O Apanhador no Campo de Centeio”:

“Pois o livro é sobre o que todos nós fomos na adolescência, revoltados incompreendidos, nos achando melhores do que os adultos porque ainda não éramos ridículos como eles, e sobre a maior banalidade de todas, a protobanalidade que embala boa parte da arte humana: a perda da inocência da infância, a sua corrupção pela vida. Se o leitor também é um jovem, não identifica a banalidade, ou a toma como uma sacada e se encanta com ela”.

Um escritor ímpar, J. D. Salinger se foi, mas a sua obra está aí, pronta para despertar o Holden Caulfield que existe em cada um de nós. Quem se aventurar, não vai se arrepender...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Entrevista exclusiva com Marcelo D2



Nos tempos da faculdade de Jornalismo lá em Ponta Grossa (PR) – que cursei entre 1997 e 2000, volta e meia lançava uns fanzines (pra quem não sabe, uma espécie de revista xerocada, montada praticamente de forma artesanal) onde escrevia algumas bobagens que hoje eu não mostro pra ninguém... hahahahhahha... Mas, fuçando nos arquivos aqui, hoje vejo que até saíam algumas coisas do caralho. Uma delas, publicada na segunda edição do fanzine Outsider (de novembro de 1998), foi uma entrevista exclusiva que fiz com Marcelo D2.

O papo rolou no camarim, minutos antes do então vocalista do Planet Hemp subir ao palco para mostrar aos curitibanos as músicas do, na época, recém lançado primeiro disco solo de Marcelo D2, “Eu Tiro É Onda”. Noite fodida mesmo. Eu moleque, lá com 20 anos, cabeludo (Jesus!!!), cabaço pra caralho nessa de jornalismo musical, com credencial de imprensa no peito, circulando pelos camarins do Marcelo D2, Raimundos, Nação Zumbi e Pavilhão 9, só a nata da maloqueiragem rock and roll brasileira anos 90...

Mas, voltando à entrevista com o Marcelo D2, dá pra perceber que, passados quase 12 anos, tem muita coisa que vale a pena ser lida ainda. Tá certo que o Marcelo D2 de hoje não é mais o mesmo porralouca da época do Planet Hemp e tal, mas tem muita coisa aí sobre drogas, preconceito, polícia, etc. que são bem atuais. Vale lembrar que alguns meses antes da entrevista, o Planet Hemp havia sido preso em Brasília por apologia à maconha. A banda ficou em cana por uma semana e o fato virou polêmica nacional. Marcelo D2 comenta isso na entrevista também.

Bom, não vou ficar aqui contando o que ele disse ou deixou de dizer. Veja com seus próprios olhos a bagaça, que tá na íntegra aí embaixo!

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MARCELO D2:
“É difícil ser honesto em um país de ladrão!”


De camelô que estudou até a 6ª série a músico mais polêmico do Brasil. Assim pode ser resumida a vida de Mareclo D2, o vocalista e letrista da banda Planet Hemp. Por defender a legalização da maconha, a banda foi presa no final do ano passado e chegou a ficar uma semana atrás das grades. O fato virou notícia nacional e o Planet Hemp nunca vendeu tantos discos, seja do primeiro trabalho “Usuário”, como do seguinte, “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára”.

Na verdade, a caravana deu um tempo e Marcelo D2 aproveitou para realizar um antigo sonho, gravar um disco solo de hip-hop. “Eu Tiro É Onda” foi lançado em setembro e já está sendo cotado para o melhor lançamento nacional do ano. A receita é simples: letras que retratam o dia-a-dia urbano da periferia e dos malandros do Rio, além, é claro, de muita maconha. Para dar um toque ainda mais brasileiro ao seu disco solo, Marcelo também convidou vários cantores de samba, como Martinho da Vila. Com vocês, Marcelo D2.

Qual a maior diferença entre o seu disco solo “Eu Tiro É Onda” e o Planet Hemp?
Cara, esse sonho é meu, é próprio. É uma parada que há muito tempo eu estava a fim de fazer, um disco de rap só com sampler de música brasileira. E é isso aí, o Planet vai continuar, o Planet Hemp não acabou. No ano que vem a gente vai estar gravando disco novo. Há muito tempo que eu estou a fim de fazer esse disco meu. Acho que a hora era agora.

A hora foi agora por causa dos problemas do Planet Hemp?
Eu já estava pensando em gravar este disco em 98, antes da gente ir pra cadeia no ano passado. A gente ficou meio em dúvida se gravaria este disco ou gravaria o Planet. Então resolvi manter os planos da gente sem deixar que a cadeia alterasse nossas mentes. É muito difícil depois daquilo tudo não ter abalado a estrutura da banda. O grupo ficou meio... Mas, a gente tá acostumado e sabia que isso ia acontecer mais dia menos dia.

O que mudou na banda depois da prisão do grupo?
A gente tinha a ficha limpa e agora não tem mais (risos)! Mudou isso. Agora tá todo mundo fichado na polícia.

Mas, em relação ao som e às idéias da banda?
A mesma coisa. Se a prisão mudasse alguma coisa a gente não ia nem começar a fazer um trabalho como o do Planet.

E como surgiu a idéia de fazer um disco de hip-hop misturando samba?
Eu estou afim de fazer um disco de hip-hop há uns cinco anos. Desde o começo do Planet eu estava a fim de fazer um disco só meu de hip-hop. Só que com o tempo foi amadurecendo a idéia: “vamos misturar hip-hop com samba”. O Planet Hemp tem umas quatro músicas que já fazem isso. Como eu te disse, foi amadurecendo. Eu montei um estúdio em casa, comecei a fazer uma pré... Não foi bem uma pré, foi uma dita demozinho, fazendo som, fazendo som e foi saindo para esse lado. A parada tem muito da veia, não foi muito pensado, entendeu?

Como é poder gravar em um estúdio em casa, com os amigos, um disco que lembra a produção de fita demo?
Eu acho que os esquemas são os mesmos porque quem escreve as letras no Planet sou eu e no “Eu Tiro É Onda” também. Eu acho que o som está mais cool, está mais hip-hop, mais funkeado. Agora, os temas são os mesmos. Falo tudo o que eu falo no Planet Hemp.

Quanto ao Planet, vocês já estão pensando no novo disco?
Ano que vem a gente começa a gravar o disco. Mas o Black Alien vai gravar o disco dele solo, o Zé Gonzáles vai gravar o disco dele solo e até no meio do ano que vem a gente vai se reunir de novo e aí fazer um disco do Planet Hemp.

O que o público pode esperar do novo disco e se a prisão serviu de publicidade para a banda?
Lógico! Todo mundo começou a ter uma curiosidade muito grande em cima da banda. Eu acho que a banda vendeu bastante disco por causa disso. Mas isso não afeta a gente até mesmo porque nós resolvemos não gravar o disco do Planet agora. Assim seria muito fácil, é o que todo mundo queria, o Planet Hemp falando das suas aventuras na cadeia. Mas, não era isso que a gente queria, não era isso que a gente estava afim, ta ligado? Eu estava a fim de fazer o meu disco e a banda vai continuar. Ano que vem vai ser uma bomba que nem foi “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára”, que nem foi o “Usuário”. Acho que disco é uma parada muito importante e eu não quero nunca soltar um disco por, sei lá, pra vender ou fazer publicidade.

Como vocês vão tentar trabalhar os shows, já que vocês estão sendo processados e podem ser presos novamente?
Não sei, só no ano que vem pra ver isso. Mas, eu tô pouco me fodendo, tá ligado? Não tenho medo de ser preso de novo. O nosso trabalho é honesto e é difícil ser honesto em um país de ladrão. Eu faço um trabalho honesto, digno e me sinto orgulhoso de fazer esse trabalho. Os caras acham que eu sou o bandido na história. Estão errados, estão totalmente errados. E não me amedronta nada essa situação. Todo dia na minha casa tem telefone com neguinho falando “você vai morrer”, não sei o que. Mas, cara, todo mundo vai morrer aqui e esse trampo que eu faço é muito bom. Eu fico muito satisfeito em fazer esse trampo. O Planet Hemp me dá muito orgulho. Se eu não tocasse no Planet Hemp eu ia ser fã da banda. Eu tenho orgulho de estar na banda, de participar. Polícia? Desde que eu tinha dois anos que eu estou acostumado a correr da polícia.

Fale um pouco sobre o seu selo Positivo e como você vai conciliar as carreiras de músico e empresário?
Na verdade, a idéia é minha, mas eu não tenho nenhuma manha de ficar atrás de uma mesa de escritório trabalhando, administrando. Não sou administrador, por isso vai trabalhar uma galera comigo. O selo é meu, mas eu não vou ficar 24 horas lá. Eu só quero poder fazer som e lançar pelo selo. Vai ter uma galera legal. A gente está fazendo um fanzine, vai lançar uma revista na seqüência, vai ter dois discos do Zé Gonzáles e do Black Alien, vai ter um disco de uma festa que eu faço no Rio de Janeiro que se chama Hip-Hop Rio, vai ter uma coletânea de bandas dos anos 90 tocando bandas dos anos 80: Raimundos, Nação Zumbi, Planet Hemp e isso vai rolando. Positivo não é só para ser um selo. Positivo é tipo uma parada para o bem. Toda parada que quiser ser maneira e quiser arrecadar dinheiro para ajudar pessoas com AIDS e, principalmente, crianças, vai ter o selo Positivo lá.

Você perdeu um grande amigo, o Skunk, em decorrência da AIDS, em 1995. De que forma isso influenciou no seu trabalho?
Eu estava num rombo na minha vida e, de repente, o cara entrou nela e em três anos a minha vida tinha mudado totalmente. Eu nunca tinha pensado em fazer uma banda. O cara encheu o saco e a gente fez o Planet Hemp. Ele morreu e eu fiquei aqui: “caralho, o meu melhor amigo morreu de AIDS!”. E rola um preconceito muito grande. Eu tenho certeza que se eu não fosse amigo do Skunk eu teria preconceito também. Mas isso acontece pela falta de informação das pessoas. A gente, pelo menos eu que estou aí, tem que tentar quebrar isso.

Como você analisa as campanhas antidrogas que são transmitidas na mídia?
Essas campanhas contra drogas, contra sei lá o que, tratam as pessoas como imbecis. “Droga mata. Ah, corre, sai correndo porque droga mata”. Não é assim. Está aí, todo mundo sabe, está aqui. É muito fácil. É só você estender a mão que vai pegar, vai cheirar, vai fumar, vai beber. Acho que ninguém é imbecil. Tem que tratar de outra maneira. O governo, ao invés de colocar uma mulher toda ensangüentada dizendo que ela vai dominar seu corpo e não sei mais o que, tinha que falar: “cocaína, se você cheirar, faz mal para o coração, você vai ter um ataque” e pronto. Não precisa mais. Essas campanhas são imbecis, tratam principalmente os adolescentes como se fosse imbecis.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ditadura militar e a guerrilha no Oeste do Paraná


A proposta do governo federal de criar a Comissão da Verdade para apurar crimes cometidos durante o regime militar, abriu mais uma vez as feridas deixadas por este período negro da história do país e que custam a cicatrizar. Familiares de vítimas (presas, torturadas, mortas ou que estão desaparecidas) aplaudiram, o Exército reagiu contra e o governo federal deu pra trás. Esse episódio da Comissão da Verdade, contudo, serviu para mostrar o quanto o assunto ainda é espinhoso.

Revirando meus arquivos, encontrei uma reportagem que escrevi em julho de 2007, a partir de uma entrevista com o ex-guerrilheiro Aluízio Palmar (foto), que reside em Foz do Iguaçu. Carioca, ele se envolveu na luta armada no final dos anos 60 e uma das suas missões na época foi implantar a luta armada na região Oeste do Paraná. Acabou preso em 1969, em Cascavel. Foi torturado por diversas vezes, até ser mandado para fora do país no início dos anos 70. Durante aquela década, viveu na clandestinidade no Chile e na Argentina e, por pura intuição, acabou se safando de uma chacina que teria sido promovida contra ex-guerrilheiros brasileiros em meados da década de 70, e que teve como palco a Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu. É esse a história que ele conta no livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, publicado em 2005.

É sobre o livro e a guerrilha que tentou se instalar no Oeste do Paraná que trata a reportagem que foi capa da edição de julho de 2007 da Revista Região, a qual segue reproduzida abaixo. O texto é longo, mas vale a pena conferir...

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Mistério e mortes no Parque Nacional do Iguaçu

Ex-guerrilheiro revela ações de extermínio de exilados políticos praticadas pelo Exército na Estrada do Colono durante os anos de ferro da ditadura militar

Por Cristiano Viteck

“Eles foram atraídos pelo ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Alberi Vieira dos Santos, para uma emboscada armada dentro do Parque Nacional do Iguaçu. A Rural Willys dirigida por Távio Camargo, militar do Centro de Informações do Exército, apresentado ao grupo como membro da base de apoio, trafegou seis quilômetros pela Estrada do Colono levando Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José Lavéchia, Víctor Carlos Ramos e Ernesto Ruggia em direção à morte. De repente, no meio da floresta exuberante, os cinco militantes da esquerda revolucionária caíram fuzilados pelo grupo de extermínio. Os cães de guerra comandados pelos chefões do Centro de Inteligência do Exército executavam a fase final da Operação Juriti, que consistia em atrair exilados políticos para área fictícias de guerrilha e matá-los”

Os fatos narrados acima aconteceram na noite de 13 de julho de 1974, no Parque Nacional do Iguaçu, e permaneceram fora dos livros de história do Brasil até pouco tempo atrás. E, provavelmente, ficariam para sempre enterrados junto às ossadas dos jovens guerrilheiros se não fosse a perseverança e a dedicação do jornalista Aluízio Palmar, que dedicou praticamente 26 anos de sua vida investigando este caso.

Porém, mais do que um forte gosto pelo jornalismo investigativo, razões muito maiores instigaram Aluízio Palmar a desvendar o mistério do desaparecimento desses jovens guerrilheiros. Exilado político que viveu durante a maior parte da década de 70 na clandestinidade – escondido na Argentina –, caso o plano do Centro de Informações do Exército tivesse se concretizado totalmente, Aluízio Palmar também teria morrido naquela mesma noite de 13 de julho de 1974.

É em torno desta história que gira o livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos” (Editora Travessa dos Editores, 386 páginas), de Aluízio Palmar, publicado em 2005 e que acaba de ganhar uma segunda edição. A obra, uma pesquisa de grande fôlego, é recheada de documentos, fontes e depoimentos que desnudam um período negro vivido durante a ditadura brasileira (1964-1985) que até então era praticamente desconhecido pelos moradores da região Oeste do Paraná.

O autor

Aluízio Palmar nasceu em 1943, na cidade de São Fidélis (RJ). Na adolescência a sua família se mudou para Niterói, onde começou a entrar em contato com a militância política ainda no colégio, quando integrou a Juventude do Partido Comunista. Depois, acabou também pertencendo ao Comitê Municipal do Partido Comunista em Niterói, durante o período de universitário.

Segundo ele afirmou em entrevista exclusiva à Revista Região – que conversou com Aluízio durante sua recente visita a Marechal Cândido Rondon onde proferiu palestras a convite dos cursos de História e Direito da Unioeste –, de 1960 a 1964, havia “uma agitação enorme dentro do movimento estudantil. O país vivia um período de mudanças com a renúncia de Jânio Quadros, a mobilização pela posse de João Goulart”. Porém, com o golpe militar de 31 de março de 1964, este grande momento de debate político que acabava por envolver diversos setores, começou a diminuir cada vez mais graças à forte repressão contra aqueles que se opunham à ditadura. O golpe final contra as instituições democráticas do país veio com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em maio de 1968. Com o aumento da repressão, àqueles que se colocavam contra o governo militar restavam poucas opções: o exílio, a desmobilização ou a luta armada. E foi esta última que Aluízio Palmar escolheu.

“Nós tínhamos algumas ilusões desarmadas até 1966. Em 13 de dezembro de 1968 a ditadura baixa o Ato Institucional nº 5 e daí não existiam mais condições de ir pra rua de cara aberta, fazer contestação. Aí a discussão acabou se dando ao ponto de acreditarmos que a contestação se daria através da resistência da luta armada nas cidades, sob influência de Che Guevara e também abrindo frentes de guerrilha rural”, recorda o ex-guerrilheiro.

Guerrilha no Oeste

Mas, antes mesmo do AI-5, o Aluízio Palmar já estava integrado à guerrilha e, em meados de 1968, chegou à Foz do Iguaçu (PR), enviado pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) para, juntamente com outra colega, dar início a um foco guerrilheiro na região Oeste do Paraná.

Ele revela quais eram os planos de ação na região: “A idéia era a implantação de um foco guerrilheiro no Oeste do Paraná, em Cascavel e Toledo. Nosso objetivo, primeiro, era montar uma rede de apoio no campo. Segundo, adaptação na região e no mato. Então, começamos a recrutar simpatizantes e assim criamos uma malha de apoio de Santa Helena até a barranca do Rio Iguaçu, principalmente de camponeses prontos para aderir à causa. O papel deles não era ir para o confronto. Seria nossa base de apoio para propaganda, pra guardar gente, guardar material. Durante um ano fizemos caminhadas. Várias vezes eu caminhei de Santa Helena a Foz do Iguaçu. Mais tarde, ficamos um ano dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Essas caminhadas eram para adaptação. Nenhum de nós foi pra Cuba, o nosso treinamento foi aqui mesmo na região Oeste. Aí, além do pessoal do Estado do Rio de Janeiro, participava também gente do Paraná, estudantes. Esse era nosso grupo. Nós compramos dois sítios, um no Boi Picuá, que fica na região de Assis, Toledo, e outro sítio em Matelândia”.

Contudo, a presença do grupo na região começou a levantar suspeitas, revela Aluízio Palmar. “Nós éramos estranhos na região do Boi Picuá. Éramos estudantes, nenhum sabia mexer com terra, nem cavalo e nem com boi. Todo mundo ficava cabreiro e o povo comentava na festa, na igreja”. Diante dessa situação e com a queda de outros focos guerrilheiros no país, o grupo que estava agindo na região Oeste do Paraná decidiu pela desmobilização, Assim, e diante outros fatos, em 1969 resolveram encerrar a operação.

Prisão e torturas

Dentro desse trabalho de desmobilização, no dia 04 de abril de 1969 Aluízio Palmar e o colega Mauro Fernando de Souza estavam evacuando a casa de um dos contatos do grupo em Vera Cruz do Oeste. Era Sexta-Feira Santa e, no retorno ao sítio onde ainda estavam instalados, passavam por Cascavel quando Mauro resolveu parar para comprar um peixe.

Para azar da dupla, Mauro bateu o Jeep que estava dirigindo na traseira de um carro próximo à rodoviária de Cascavel. Era o início dos fatos que resultariam na prisão de Aluízio Palmar, que conta: “O Mauro foi atrás de um mecânico e eu fiquei cuidando do Jeep, que estava cheio de material subversivo, livros, manuais de arma. Nesse momento chega Marins Bello, fiscal da Loteadora Pinho e Terra, acompanhado de alguns policiais. Ele apontou pra mim e começou a me chamar de comunista, subversivo. Nesse momento fui preso. Fui até a delegacia embaixo de cacete”.

Contudo essa não seria a única surra que ele levaria. A partir de então, para todos os locais onde foi levado, Aluízio Palmar foi torturado. Conforme contou para a reportagem da Revista Região, ele apanhou “bastante, como todos! Nem mais, nem menos que a maioria. Resumindo: eu fui torturado em Cascavel, no Batalhão de Fronteiras em Foz do Iguaçu, no quartel da Polícia do Exército em Curitiba, no DOPS de Curitiba com o... esqueci o nome do desgraçado do delegado do DOPS! Depois, na Ilha das Cobras, no Arsenal da Marinha, e depois na Ilha das Flores, também na Marinha.”

Aluízio Palmar ficou preso até 9 de janeiro de 1971, quando foi banido do território nacional após ser trocado – juntamente com outros 69 presos políticos – pelo embaixador da Suíça no Brasil, Giovani Bucher. Expulso do país, Aluízio Palmar viveu no Chile até 1972, de onde também saiu clandestino. O seu novo destino foi o interior da Argentina. Ele recorda que ainda nesse período estava participando de algumas movimentações subversivas.

Operação Juriti

Enquanto isso, no Brasil, o Centro de Informações do Exército colocava em prática a Operação Juriti, que consistia em infiltrar agentes dentro dos grupos de exilados políticos que estavam fora do país, convencendo-os a voltarem para o Brasil com o suposto objetivo de retomar a luta armada contra o governo militar. No fundo, tudo não passava de uma cilada para matar os exilados políticos, que eram levados para regiões remotas do Brasil, onde eram covardemente assassinados.

Este é o caso da chacina ocorrida em 13 de julho de 1974 no Parque Nacional do Iguaçu, na Estrada do Colono. O agente utilizado para atrair os exilados nesta ação foi o ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Alberi Vieira dos Santos. Ele conquistou a confiança de Onofre Pinto, um dos cabeças da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Com o apoio garantido de Onofre Pinto, uma liderança respeitada na esquerda brasileira, ficou fácil para Alberi dos Santos convencer outros exilados políticos a retornarem para o Brasil, utilizando a mesma história de que estariam voltando para o país para retomar a luta armada. Juntamente com Onofre Pinto, também foram enganados e levados para a morte os irmãos Daniel e João Carvalho, Victor Ramos, José Lavéchia e o jovem estudante argentino de 18 anos, Ernesto Ruggia.

Por muito pouco, Aluízio Palmar também não passou a integrar essa lista. Segundo ele, foi a desconfiança na pessoa de Alberi Vieira dos Santos, a quem conheceu quando esteve preso no Presídio do Ahú, em Curitiba, que acendeu o sinal de alerta em sua mente e o fez fugir para o interior da Argentina – onde já vivia – e levar um vida totalmente na clandestinidade.

Ele lembra que, coincidentemente, em janeiro de 1974, encontrou com o agente disfarçado do Exército, que o convidou para se juntar ao grupo que estava retornando ao Brasil para reiniciar as ações de guerrilha contra o governo militar no Oeste paranaense. “Eu estava realizando alguns contatos e, numa dessas minhas idas a Buenos Aires – já para desmobilizar alguns companheiros do Norte do Paraná, porque a gente já estava desmobilizando tudo – eu vi o último comandante da VPR, Onofre Pinto, junto com o ex-sargento do Exército, que tinha conhecido no Ahú, que é o Alberi Vieira dos Santos. Vi mas não me encontrei com ele, vi de longe. Eles que me viram e o Alberi foi atrás de mim. Ele me falou que estavam voltando para o Brasil para retomar a luta armada. Então eu falei pra ele: ‘tudo bem, vamos nos encontrar mais tarde da noite para acertar os detalhes da minha ida e do contato lá na fronteira dos nossos trabalhos’. Eu marquei o encontro, mas não fui. Fui embora, sumi, fui embora de táxi, ônibus, sumi! Mas tarde, quando eu voltei do exílio, esse grupo não apareceu na lista dos sobreviventes.”

O massacre

O plano que Alberi Vieira dos Santos havia descrito para convencer os exilados políticos era o seguinte: o grupo entraria no Brasil por Santo Antônio do Sudoeste (PR), aproveitando a fronteira seca da cidade com a Argentina. Uma vez na cidade brasileira, ficariam escondidos em um sítio no interior de Santo Antônio do Sudoeste, onde havia contatos e estariam mais seguros para reiniciar a guerrilha rural.

Convencidos de que isso seria possível, no início de julho eles conseguem entrar sem dificuldades no país. Estabelecidos, a primeira suposta ação do grupo seria um assalto a uma agência bancária em Medianeira para conseguir dinheiro para iniciar o trabalho. Onofre Pinto, um dos líderes da VPR, foi convencido a ficar de fora, pois a ação envolvia riscos.

Assim, na noite de 13 de julho de 1974, Daniel Carvalho, João Carvalho, Victor Ramos, José Lavéchia e Ernesto Ruggia acompanharam Alberi Vieira dos Santos rumo à Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu, convencidos de que iriam realmente praticar o assalto em Medianeira. O carro em que estavam era dirigido por Otávio Camargo, um suposto guerrilheiro, que na verdade era um militar do Centro de Inteligência do Exército. De repente, cerca de seis quilômetros adentro do Parque Nacional do Iguaçu, o carro pára. A ação é rápida e, de dentro da floresta, um grupo de extermínio do Exército cumpre com sucesso mais uma missão da Operação Juriti. Todos os guerrilheiros foram mortos. Os corpos, cravejados de balas, são enterrados no Parque Nacional do Iguaçu, onde as ossadas permanecem, ainda hoje, aguardando serem descobertas.

Onofre Pinto, que havia ficado no sítio em Santo Antônio do Sudoeste, é levado pelos militares até Foz do Iguaçu, onde é interrogado. Porém, como a ordem dentro da Operação Juriti era eliminar todos aqueles que estiveram envolvidos com ações guerrilheiras, o líder da VPR foi morto com um tiro na cabeça e seu corpo então, foi transportado até Santa Helena, onde acabou jogado no Rio São Francisco Falso.

A investigação

Todos esses fatos foram apurados e descritos minuciosamente por Aluízio Palmar no livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”. Contudo, o início das investigações que acabaram por revelar esse capítulo tenebroso da história do país se deu quase por acaso.

Depois que Aluízio saiu da clandestinidade na Argentina e voltou para o Brasil, em 1979, passou um tempo no Rio de Janeiro, mas logo decidiu fixar-se em Foz do Iguaçu, onde já vivia sua esposa e seus filhos e onde passou a atuar na imprensa.
Aluízio Palmar garante que, até voltar para o Brasil, não sabia qual havia sido o destino do grupo que acompanhou Alberi Vieira dos Santos e do qual ele havia sido convidado a participar. “Não sabia de nada. Até porque alguns disseram que eles estavam na Europa, que ficaram em Cuba ou que foram para não sei aonde. Ou estão no Brasil e não querem aparecer. Aí passa um ano, passa dois, passa três e esse povo não aparece! Alguma coisa aconteceu nessa entrada por Santo Antônio do Sudoeste”, desconfiou ele.

As suspeitas de Aluízio Palmar começaram a ganhar vulto depois que ele soube que Alberi Vieira dos Santos foi assassinado em janeiro de 1979, próximo a Medianeira. “Então, na vida de jornalista, começo a levantar teses sobre o que aconteceu com esse grupo e a procurar esporadicamente. Até que surge a irmã do argentino Enrique Ruggia. Ela entra em contato comigo e me estimula mais nessa procura. Quando o Marival Chaves, um ex-agente do DOI-CODI dá uma entrevista pra Veja e fala que esse grupo foi assassinado na fronteira do Brasil com a Argentina, na cidade de Medianeira, eu bato na mesa e digo: ‘E isso aí! O que me disseram lá no exílio bate com o que o agente do DOI-CODI fala e bate, inclusive, com as informações da irmã do Enrique Ruggia, que disse que o grupo veio por essa fronteira. Então, se o grupo veio por essa fronteira, eu tenho que ir buscar nessa fronteira’. Aí eu começo a buscar no Sudoeste. A informação vaza, a imprensa noticia. Eu já falava que eles tinham sido enterrados na Estrada do Colono”.

Depois de centenas de horas passadas em arquivos, quilômetros rodados atrás de pessoal que poderia auxiliar no trabalho e de alguma pistas falsas (como a que o levou a realizar escavações em busca das ossadas em Nova Aurora, em 2001) plantadas para desviar Aluízio Palmar da sua investigação, ele descobriu o fio condutor que o levou à solução do caso.

A peça que faltava

Depois das pistas falsas, Aluízio Palmar só retomou as investigações quando os arquivos da Polícia Federal foram abertos para a Comissão de Mortos e Desaparecidos, que o credenciou para eu fazer esse trabalho em Foz do Iguaçu. Durante as investigações nos arquivos da Polícia Federal em Foz, com as informações que ele já tinha anteriormente, ele chegou ao nome verdadeiro de Otávio Camargo, que na verdade era o nome de guerra utilizado pelo militar que dirigiu o carro que levou o grupo para ser chacinado na Estrada do Colono.

“Eu fui no Google pesquisar esse nome e apareceu uma multa de trânsito. Quando apareceu a multa de trânsito eu penso: ‘esse cara existe e mora em Foz do Iguaçu’, porque a multa de trânsito era da cidade”, explica o jornalista, que conta como a sorte estava do seu lado.

“Eu fui na casa de um empresário e casualmente contei essa história. O empresário me disse que conhecia essa pessoa, que ela morava em Foz e era amigo dele. Eu disse para essa empresário marcar um encontro dessa pessoa comigo. ‘Eu quero conversar, ele tem que falar pra mim como foi essa operação, como morreram’. Essa pessoa era o motorista que levou o grupo até o Parque Nacional do Iguaçu. Essa pessoa não quis falar comigo, talvez porque quis me matar também. Quis falar só com o empresário e com um agente da Polícia Federal que era amigo dele. Esse motorista, esse agente da chacina, essa testemunha contou com detalhes como morreu o grupo. E ele levou o policial federal e o empresário lá no local da chacina. Entraram por Capanema e vieram em direção a Serranópolis e no Km 8 ele localizou. Ele conta que o grupo saiu de Buenos Aires e foi monitorado todo o tempo pelo Centro de Informações do Exército. O grupo chegou na rodoviária de Posadas, capital das Missiones, tomou outro ônibus e foi em direção à fronteira. Atravessaram a pé. No outro lado, ele já estava esperando com uma Rural Willys e levou o grupo até um sítio. Do sítio, cinco guerrilheiros foram levados até o Parque Nacional, onde já havia um grupo de extermínio preparado para matá-los. A chacina aconteceu e os corpos foram arrastados mais pra frente. Era de noite. No escuro, dentro da floresta, essa pessoa não viu o local exato onde eles foram enterrados. O local pode estar a 10, 8, 20, 30 metros do local da chacina.”

Onde enterraram os mortos?

Aluízio Palmar, de posse dessas informações, lembra que lutou muito com a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, até que em 2005 conseguiu mobilizar uma operação de escavações na tentativa de encontrar os corpos. Porém, os resultados foram decepcionantes. “A busca dentro do Parque Nacional foi uma operação extremamente secreta. Não sei porque tão secreta. Fizeram três, quatro covas, aí vieram ordens de Brasília para evacuar. O plano era ficar um mês, mas em três dias resolveram evacuar”.

Perguntado se ele soube as razões para que viesse essa ordem de evacuação, Aluízio responde em tom de revolta e frustração: “não sei!”, para então desabafar: “se a testemunha deu com riqueza de detalhes como eles morreram, é possível encontrar as ossadas, mas tem que ter paciência, apoio governamental, é preciso haver disposição. E ali naquela expedição que nós fizemos não havia disposição por parte da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e do Ibama. O Ibama criando todo tipo de dificuldade. É samambaia, não sei o que, não sei o que, o impacto ambiental... criando dificuldade! Saímos frustrados e até hoje esperando que alguém resolva esse impasse!”.


Os personagens da chacina do Parque Nacional do Iguaçu

O algoz

Alberi Vieira dos Santos: peça importante da Operação Juriti, montada pelo Exército para atrair de volta ao Brasil guerrilheiros que viviam fora do país para exterminá-los. “Cachorro da ditadura”*, atraiu os cinco brasileiros e o estudante argentino para a cilada montada pelo Exército no Parque Nacional do Iguaçu, em 1974. Morreu em 11 de fevereiro de 1979, na rodovia que liga Medianeira a Missal. Apesar de sua morte estar associada à bandidagem na região, as circunstâncias em que ela aconteceu ainda são misteriosas: foi assassinado a tiros de arma de uso restrito do Exército.

(*) Cachorro era o termo usado pelos militares para designar militantes políticos que traíam os colegas de luta armada para colaborar com a repressão.


As vítimas

Onofre Pinto: era o mais procurado de todos pelo governo militar. Foi um dos fundadores VPR** e recrutou o capitão Carlos Lamarca para essa organização. Foi preso pelos militares em março de e 1969 e solto seis meses depois junto com outros 14 presos políticos (entre eles José Dirceu, que mais tarde seria ministro do governo Lula) em troca do embaixador norte-americano Charles Elbrick, seqüestrado em setembro de 1969 pelos guerrilheiros do MR8. Ao contrário dos demais, não foi assassinado no Parque Nacional do Iguaçu. Acabou morto cerca de dois dias depois, em Foz do Iguaçu. Seu corpo foi desovado pelos militares no Rio São Francisco Falso, em Santa Helena. Tinha 36 anos quando foi morto.

Joel José de Carvalho: iniciou sua militância política no Partido Comunista Brasileiro. Depois do golpe militar de 1964, passou a atuar no PC do B. Integrou a Ala Vermelha, o Movimento Revolucionário Tiradentes e a VPR. Foi um dos 70 presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Bucher, seqüestrado pela VPR em 1971. Morreu aos 26 anos.

Daniel de Carvalho: irmão de Joel José de Carvalho. Também foi preso político, trocado pelo embaixador suíço. Tinha 28 anos quando foi morto na chacina do Parque Nacional do Iguaçu.

José Lavéchia: sapateiro de profissão e comunista, foi membro do PCB. Depois integrou a VPR e participou da guerrilha do Vale da Ribeira, comandada pelo capitão Carlos Lamarca. Foi preso em maio de 1970 e saiu da prisão em troca do embaixador da Alemanha no Brasil. Contava 55 anos quando morreu.

Víctor Carlos Ramos: saiu do Brasil e foi para o Uruguai ao ter sua prisão preventiva decretada pelo Tribunal Militar. Logo após, foi para o Chile. Em 1974 ingressou no grupo de Onofre Pinto e retornou clandestinamente ao Brasil, sendo logo assassinado no Parque Nacional do Iguaçu com 30 anos de idade.

Ernesto Ruggia: com 18 anos, era o mais novo do grupo assassinado. Argentino, estudante de agronomia, veio para o Brasil acompanhado do amigo Joel Carvalho. Não tinha ligações partidárias

(*) A Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foi criada em 1968. A organização participou de assaltos e do sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher.