terça-feira, 3 de agosto de 2010

Trajetória da imprensa rondonense: de 1966 aos dias atuais


Ao longo de seus 50 anos, Marechal Cândido Rondon se consolidou como um dos municípios do Paraná que possui algumas das empresas de comunicação mais influentes do Estado, seja pela solidez de suas empresas como pela qualidade de seu trabalho.

A história da imprensa rondonense começou de fato quando a Rádio Difusora AM foi ao ar pela primeira vez, em 19 de novembro de 1966. A empresa, de propriedade do ex-prefeito Arlindo Alberto Lamb, tinha como diretor Antônio Maximiliano Ceretta. O Primeiro noticiário da rádio se chamava “No Mundo das Notícias, as Notícias do Mundo”, mas mudou de nome em 1971 e passou a ser “O Mundo em Revista”. A mudança definitiva do principal noticiário da emissora ocorreu em 19 de março de 1973, quando passou a ser conhecido como “Frente Ampla de Notícias”.

Já em 19 de novembro de 1988, a Difusora inaugurou a sua emissora FM, 95,1. Na época a empresa era propriedade do empresário Élio Winter. Em 1994, as emissoras AM e FM foi vendidas ao empresário Alcides Waldow.

A Rádio Educadora AM foi inaugurada em 3 de agosto de 1978, com a presença do então governador Ney Braga. Inicialmente, a empresa era propriedade de Werner Wanderer, Guido Port, Arnold Lamb, Almiro Bauermann e Egon Wanderer. Hoje, a empresa pertence a Werner Wanderer, sua esposa Elisabeth e o filho Klaus, além de Dirceu da Cruz Vianna. Já a Atlântida 94,1 FM, emissora irmã da Rádio Educadora, foi ao ar em 25 de julho de 1991.

44 anos no ar

Dirceu da Cruz Vianna é comunicador que há mais tempo atua em Marechal Cândido Rondon: 44 anos. Natural de Ponta Grossa, chegou em Marechal Cândido Rondon em 1960 e começou a sua carreira fazendo anúncios em carros de som na cidade e no interior do município. Depois, trabalhou no serviço de alto falantes Guarani. Contudo, a sua estreia como radialista foi em 19 de novembro de 1966, quando a Rádio Difusora começou a operar. Ele conta que foi convidado pelo então diretor da emissora, Antônio Maximiliano Ceretta. com quem aprendeu a fazer locução, redação de textos comerciais e de notícias e a narrar eventos esportivos. “Eu só não limpei banheiro, porque até cafezinho eu fiz”, afirma o comunicador.

De acordo com ele na época, o rádio era a principal fonte de informações sobre o que acontecia no mundo. Televisão era algo que a maioria das pessoas nem conheciam, as revistas demoravam a chegar. Para as notícias nacionais, internacionais e também do Estado, a emissora gravava o noticiário das grandes emissoras do Paraná, Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Depois, as notícias eram transcritas e levadas ao ar nos noticiários da Rádio Difusora, junto comas notícias locais.

Outro desafio, segundo ele, eram as transmissões ao vivo. Dirceu conta que os funcionários da rádio colocavam cabos em locais onde aconteciam os principais eventos do município, como campos de futebol e salões: “existiam cabos da rádio até o Clube Lira, até o antigo campo do Flamengo, do Botafogo. Puxamos cabos daqui ao salão de Quatro Pontes e no campo de futebol para fazer transmissão. Era um arame comum. Tinha que fazer tudo certinho com isoladores, com postes que a gente mesmo tinha que cavar para colocá-los. Era difícil, mas era gostoso. A gente não reclamava.”

Um dos quadros de maior sucesso na Rádio Difusora, no final dos anos 60, era o programa de auditório que ia ao ar nos domingos pela manhã, transmitidos ao vivo do Cinemaver, onde até recentemente funcionava o Centro Cultural Professor Eloi Urnau. “Era um programa infantil com brincadeiras de palco, a criançada cantava, participava de jogos e eram distribuídos brindes como bolas, doces. Era um programa como esses de auditório que hoje são feitos na televisão. Foi nesse programa que surgiu um cidadão chamado Walter Basso, que cantou a música ‘Futebol da Bicharada’. Depois ele foi operador na rádio. Depois, bem mais tarde ele começou como locutor, teve o conjunto dele, Os Vikings, e alcançou o momento máximo de prosperidade como músico”, destaca.

Dirceu deixou a Difusora em 1980 e passou a ser sócio-proprietário da Rádio Educadora, onde continua a sua carreira até hoje, apresentando diariamente o Programa do Nhô Jeca.

Entre os momentos mais marcantes da carreira ele cita a visita do presidente Ernesto Geisel em 19 de março de 1976: “foi um tumulto, no bom sentido. Foi muito gratificante”. Dirceu também cita o acidente em Sete Quedas e depois acompanhar a formação do lago de Itaipu, em 1982.

Na opinião de Dirceu, as emissoras de rádio tiveram um papel muito importante na história rondonense. “Nós acompanhamos aquela garra dos pioneiros, aquele sentimento de unidade, de batalhar junto. Esse sentimento a gente transmitia. Uma emissora de rádio, um jornal, tem sempre que fazer com que essa motivação continue viva. A nossa atividade é essa. Nunca desanimar, porque se a gente desanimar vamos desanimar uma região inteira”, argumenta.

Impressos

Na imprensa escrita, o primeiro jornal foi o Desbravador, que começou a circular em 31 de julho de 1968. Apesar de ser o órgão oficial da Associação Rondonense de Estudantes Secundários (Ares), o tablóide, dirigido por Elio Winter, cobria os fatos que aconteciam também no município. Em 25 de março de 1970, o jornal passou a se chamar Impulso, que encerrou as atividades em setembro do mesmo ano.

No dia 15 de março de 1974 nasceu o segundo jornal do município, Rondon Comunicação, de propriedade da Editora Grafo-Set. Posteriormente, o jornal foi vendido para a Editora Oeste e depois para a Editora Independente, de Cascavel, que mudou o nome do veículo para Rondon Hoje. O jornal circulou até o início dos anos 1980.

Antes disso, em 1979, o atual sócio-proprietário e editor do semanário O Jornal, Hugo Balko, foi o editor do jornal O Alento, que passou a circular em 04 de agosto de 1979. A empresa era de propriedade de Frederico von Borstel, Ralf Konieczniak, Ido Welp e Harri Strenske.. Em 1982, Hugo Balko e seu irmão Richardt compraram a empresa e mudaram o nome do veículo para A Semana, que deixou de circular em 1985, quando os novos proprietários Airton Kraemer e Freddy Schlosser assumiram o jornal, que passou a ser conhecido como A Tribuna. Este deixou de circular no início dos anos 1990.

Foi então que em 4 de outubro de 1991 nasceu O Presente, do jornalista Arno Kunzler, que desde 1983 já administrava a sucursal rondonense do jornal O Paraná, de Cascavel. O Presente inovou no município ao publicar a sua primeira edição em cores em 24 de outubro de 1997. Mas a maior mudança ocorreu em 03 de março de 2001, quando O Presente passou a ser diário. O fato foi marcado por um grande evento no Clube Concórdia, que contou com a presença do então secretário estadual de Comunicação, Rafael Greca. Hoje, O Presente é um dos principais jornais diários do Paraná e desde 2004, conta na sua direção com o sócio-proprietário Paulo Rodrigo Coppetti.

Também fazem parte da história da imprensa escrita do município os jornais A Notícia, fundado em 1994 por Freddy Schlosser; O Pasquim do Oeste, criado em 1995 por Ana Maria de Carvalho; a Fronteira Rural, lançado em 1995 por Airton Kraemer; Nossa Terra, surgido em 2000 por iniciativa do empresário Arno Kunzler; Livre Expressão, que nasceu em 2005 e era propriedade de Egon Hachmann, Dieter Seyboth, Sidnei Pruinelli e Anna Bersch; e Olho no Lance, que surgiu em 2006 por iniciativa de Anderson Pícolo e Alsemir Wilhelms.

No segmento de revistas, fazem parte da trajetória jornalística do município a Região em Revista, fundada em 1999 por Jadir Zimmermann e Luis Carlos Diesel, empreendimento que depois foi assumido pelo empresário Neri Wagner; a Revista Amigos da Natureza, criada em 2001 por Arno Kunzler e que até hoje mantém ampla circulação nacional, atendendo a mais de 700 municípios com suas produções pedagógicas e jornalísticas focadas no meio ambiente. Atualmente, também circulam no município a Conceito em Revista e a Life.

Desde 2004, o município também conta com uma emissora de televisão, a TV Rondon, que inicialmente se chamava Canal 10, e dois sites focados na produção de notícias regionais: AquiAgora.Net, que surgiu em 2009 e é propriedade de Jadir Zimmermann; e MCR em Foco, criado este ano. O município conta com a Rádio Comunitária, que está sob responsabilidade de diversas entidades.

Rádio e jornal


Outra trajetória marcante na imprensa rondonense é a de Harto Viteck, que há 20 anos apresenta o programa Música Alemã, na Rádio Difusora AM, e há 19 anos assina a coluna que leva seu nome, no jornal O Presente.

A carreira de Harto na imprensa iniciou em 1971 como sonoplasta na Rádio Difusora. Três meses depois, passou a fazer também locução e também a trabalhar na redação da emissora, ajudando na compilação de notícias nacionais e internacionais. “Em 1973 fiz minha estréia como repórter na Rádio Difusora. Fui destacado para fazer a cobertura da grande enchente daquele ano que acabou levando a ponte de madeira sobre o Rio São Francisco, na estrada que liga Pato Bragado a Entre Rios do Oeste, então distritos rondonenses. Anos depois acabei saindo da emissora, mas retornei em setembro de 1989, a convite do então diretor da Rádio Difusora, Elio Winter, para reestruturar o programa de música popular alemã, um dos mais tradicionais da emissora. E lá estou até hoje como muito apreço”, afirma.

Já na mídia impressa, Harto começou trabalhando no jornal Rondon Comunicação. Apesar de ser um período em que a imprensa era bastante controlada pelo regime de governo da época, ele não lembra de algum episódio em que o veículo tenha sofrido censura, até porque “a linha editorial adotada pelos proprietários do semanário não era ideológica. Seguia a política da ‘verga’”. Embora tenha sido um tempo bastante curto de trabalho na empresa, Harto garante que a experiência foi de grande aprendizado, entre tropeços e acertos: “muito do que tinha aprendido na área de notícias da Rádio Difusora foi extremamente útil no novo emprego”.

Por outro lado, ele ressalta que tão semelhante como volta dele à Rádio Difusora foi o regresso ao jornalismo impresso em 1991. A convite de Arno Kunzler, passou a escrever uma coluna semanal no O Presente. Nesse período, Harto já assinou cerca de 900 colunas.

Questionado sobre a diferença de se produzir um jornal nos dias de hoje em relação ao período em que iniciou na imprensa, nos anos 70, ele afirma que a informática facilitou muito o trabalho. “O que não mudou e é um mal em toda a imprensa nacional, com raras exceções, é o departamento comercial ainda ditando muitas vezes as pautas de redação. Não deveria ser assim. Quando isso acontece a verdade, muitas vezes , fica obscurecida e as relevâncias relegadas. Matérias de menos importância acabam alçadas à condição de super notícias”, pondera.

Nessa linha, Harto entende que apesar dos pecados cometidos e alguns que ainda vem cometendo, a imprensa local foi e é de grande importância para Marechal Cândido Rondon e região: “mesmo cometendo erros, o saldo de acertos e de relevância da imprensa para Marechal Cândido Rondon é altamente positivo. Sempre foi responsável, de alguma forma, por encaminhar e conduzir as grandes bandeiras do nosso crescimento e desenvolvimento. Certamente, sem o abnegado trabalho dos profissionais da imprensa, muitos de nossos interesses não teriam se concretizado. E será este o papel da nossa imprensa : construir e reconstruir nossas melhores aspirações e buscar incessantemente elevar o nível cultural de nossa gente”.

LEGENDA: Edição nº 1 de O Desbravador, primeiro jornal do município.


Mídia e Memória

“Foi pensando na relação entre jornalismo e história que resolvemos reconstruir a trajetória dos veículos de comunicação de Marechal Cândido Rondon em um livro-reportagem, trazendo a público elementos historiográficos do município rondonense, com o propósito de enriquecer o arsenal cultural local.

'Mídia e Memória: estórias dos veículos de comunicação do município de Marechal Cândido Rondon contadas por seus protagonistas' foi publicado em 2009 e teve sua origem como um trabalho de conclusão do curso de Jornalismo. No livro, apresentamos, especificamente, os veículos de comunicação que surgiram após a emancipação do município. Sabemos que antes disso, quando Marechal Cândido Rondon ainda se chamava General Rondon e era distrito de Toledo, existiu outro veículo de comunicação na área impressa, caso do jornal O Minuano. Há pessoas que dizem, inclusive, que além do Minuano, existiram outros jornais na década de 50.

A obra é importante porque os veículos de comunicação estão presentes diariamente na vida das pessoas, mas muitas não sabem a história da rádio que escutam, do jornal e da revista que leem e nem da televisão que assistem. Além de não deixar a história morrer, encontramos relíquias para o jornalismo rondonense".


* Ana Paula Wilmsen e Maria Cristina Kunzler, jornalistas e autoras do livro "Mídia e Memória: estórias dos veículos de comunicação do município de Marechal Cândido Rondon contadas por seus protagonistas"


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

4 comentários:

  1. Fala Viteck, ótima postagem como sempre e desta vez ainda com a presença ilustre do saudoso vô Ceretta!
    Abraço

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  2. Parabéns Viteck. Só você para escrever um texto primoroso como esse, que resgata a história do bom jornalismo do Oeste do Paraná. Continue assim
    Abraço
    Luciano Barros

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  3. Olá Cristiano, sabes o nome deste programa de auditório?

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