Capa do livro escrito por Stephen Tow |
A história do grunge depois que ele se tornou um sucesso
mundial entre 1991 e 1994 através das bandas Pearl Jam, Nirvana, Alice in
Chains e Soundgarden todo mundo já conhece. Juntos a com outros grupos de menor
apelo comercial, eles levaram o rock feito em Seattle (EUA) para os quatro
cantos do mundo. Mas, a cena de Seattle não surgiu da noite para o dia.
Antes de “Smells Like Teen Spirit” e “Even Flow” se tornarem hits, o grunge teve uma longa trajetória. Um período de mais de uma década em que a música feita na cidade e arredores permaneceu restrita à região Noroeste dos Estados Unidos despertando o interesse de quase ninguém.
O livro “The Strangest Tribe: how a group of Seattle rock bands invented grunge” (A Tribo Mais Estranha: como um grupo de bandas de rock de Seattle inventou o grunge) é uma boa oportunidade para conhecer as origens do estilo musical.
Publicado nos Estados Unidos em 2011 e ainda sem tradução
para o português, o livro foi escrito pelo professor e historiador Stephen Tow.
Durante sua pesquisa o autor entrevistou mais de 120 músicos, jornalistas, produtores,
fotógrafos, ilustradores e quem mais tenha tido um papel relevante na gestação
do grunge. Assim, conseguiu chegar bem próximo das tais “origens” da cena.
O marco zero Stephen Tow situa mais ou menos em algum ponto
no início da segunda metade da década de 1970, quando garotos motivados pelo
lema “faça você mesmo” do punk começaram a formar suas próprias bandas, abrir
casas de shows e a escrever os próprios fanzines. Nada muito diferente do que
aconteceu em praticamente todos os cantos dos Estados Unidos quando o punk rock
apareceu.
Mesmo quem conhece um pouco
mais profundamente a história do grunge vai se animar com “The Stragest Tribe”,
que traz informações poucas vezes detectadas na radiografia histórica do grunge.
É interessante conhecer como bandas, programas de rádio, fanzines, casas de
shows, minúsculos estúdios e gravadoras tão pequenas criaram uma intrincada
rede que permitiu a criação de uma cena underground autêntica.
"Seattle Syndrome - Vol. 1" |
Stephen Tow escreve a respeito
da primeira coletânea de bandas de rock da cidade, lançada em 1981 com o nome
de “Seattle Syndrome – Vol. 1”. Conforme
o autor, muito da cena de Seattle deve-se às coletâneas que serviram como um
cartão de visitas das bandas da cidade. Entre as mais famosas estão a “Deep
Six”, lançada em 1986 pela pequena gravadora C/Z , e “Sub Pop 200”, lançada em
1988 pela gravadora mais famosas da cidade, a Sub Pop.
O autor também se arrisca a
apresentar uma teoria até que razoável
para explicar como teria surgido a fusão de punk rock e metal, característica
da música grunge. Segundo ele, na primeira metade dos anos 80 havia uma divisão
entre as bandas dos dois estilos. Os punks rockers se concentravam em regiões
como Belltown, Capital Hill, U-District e Pionner Square, no lado Oeste do Lago
Washington. Já os metaleiros tinham a sua cena na região ao leste do lago,
chamada de Eastside.
Segundo depoimentos gravados
pelo autor, a cena de Eastside tinha as melhores casas de shows, mais público,
as garotas mais bonitas e os melhores músicos. Porém, criativamente era quase
estéril, afinal a maioria das bandas de metal eram grupos de covers. Havia
exceções, como o Alice in Chains, que ironicamente acabou sendo a primeira
banda da Seattle a ter um grande sucesso com a música “Man In The Box”.
Ao atravessar o Lago Washington
rumo ao Eastside, alguns músicos ligados à cena punk sentiram-se tentados a
fazer um som mais comercial e investir um pouco mais na técnica musical, ao
invés de tocar o mesmo punk tosco. Daí é que teria surgido a mistura de punk e
metal típica do grunge e que fica evidente em bandas como Soundgarden e Pearl
Jam, cujos integrantes foram alguns dos primeiros que se arriscaram a conhecer
o que havia no lado leste do Lago Washington e voltaram de Eastside bastante
inspirados.
Soundgarden em 1988 |
“The Strangest Tribe” termina
sua narrativa às vésperas do lançamento de “Nevermind”. Não se aprofunda nas
tragédias pessoais que marcaram a derrocada da cena, especialmente o suicídio
de Kurt Cobain em 1994 e a morte por overdose de Layne Staley em 2002. Para “Stephen
Tow” o grunge acabou antes mesmo do sucesso mundial da cena a partir de 1991. No
início dos anos 90, segundo ele, as novas bandas de que surgiam na região de
Seattle já se distanciavam da fusão de punk e metal e estavam direcionando seus
sons influenciados pelo punk rock clássico e o garage rock sessentista (The
Gits e Monomen são bons exemplos).
Porém, com a fama inesperada de
Nirvana, Alice In Chains, Pearl Jam e Soundgarden o som grunge ganhou projeção
e Seattle, pelos próximos três anos, se tornou a capital mundial da música e da
moda. Para Kurt Danielson, da banda TAD, o grunge pós- Nevermind não passou de
uma encenação artificial da era dourada da cena nos anos 80. Opinião
compartilhada por muitos músicos, principalmente por aqueles que não ficaram
famosos...
Morta ou não já na época de
lançamento de Nevermind, o certo é que por tudo que aconteceu após 1991 foi que a cena
de Seattle ganhou respeito e admiração. Não é preciso dizer que muita coisa
bacana foi produzida ainda na década de 1980, mas é preciso ter em mente que se
não fosse pelo sucesso comercial de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in
Chains, hoje em dia ninguém daria a mínima para as bandas daquela época. E tampouco
a história contada por Stephen Tow em “The Strangest Tribe” teria qualquer
importância.
Mas, aconteceu do grunge se
tornar um capítulo importante na história da música. Nos últimos anos cresceu o
número de publicações que pretendem contar e explicar a cena. Ao lado de livros como “Everybody Loves OurTown”, escrito por Mark Yarm, e “Grunge is Dead”, de Greg Prato, a obra de
Stephen Tow é uma peça essencial para se entender como a cena de Seattle transformou
o rock.
Genial. Viva o Grunge!
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