Cartão-postal promocional |
Em 2006 Mique Willmott, o artista
responsável pela arte da capa do disco “Acid Eaters”, lançado pelos Ramones em
1993, publicou na internet um relato dos atropelos envolvidos no
projeto. Mais bacana ainda, publicou também os esboços de ideias que se tornaram a arte final, que curiosamente ele nunca chegou a "finalizar".
Esta semana o ex-empresário da
banda, Monte Melnick, compartilhou na sua página no Facebook o artigo de Mique. Por ser um material bacana, decidi deixar registrado aqui no
blog.
“Acid Eaters” é o disco de covers
de músicas dos anos 60 lançado pelos Ramones três anos antes do fim de sua
carreira, em 1996. Regravações de clássicos eram normais nos discos da banda nova-iorquina, mas a
coragem de lançar um disco inteiro só de covers veio com a boa aceitação que
teve a versão de “Take It As It Comes”, uma música de menor importância do
Doors, que o Ramones “coverizou” magistralmente no disco “Mondo Bizarro”, de 1992.
Para “Acid Eaters” a banda pinçou
12 canções de artistas como Rolling Stones, The Who, The Troggs, Bob Dylan,
Jefferson Airplane, Creedence Clearwater Revival, entre outros. Pra variar,
tudo gravado com o típico tratamento de choque com as características maiores
da banda: a velocidade e a produção minimalista.
Hoje, nesses tempos de MP3 onde
as músicas ficam arquivadas em um computador ou em um celular, a arte da capa
de disco pouco importa para a maioria das pessoas. Mas para quem é aficionado
por discos, que gosta de ler os créditos, letras, enfim, que se
interessa por tudo o que o conceito de um álbum de música representa, a arte da
capa é fundamental.
Antes de continuar com essa
história sobre o disco “Acid Eaters”, cabe uma recordação sobre como surgiu
esse negócio de embrulhar os álbuns dentro de um pacote mais atraente. O primeiro
disco a ser vendido com uma arte na capa chegou às prateleiras em 1939, nos
Estados Unidos. Tratava-se de um LP de canções orquestradas de Rodgers and
Hart – artistas bastante populares à época.
Primeiro disco com arte de capa foi lançado em 1939 |
O responsável pelo trabalho e a ideia de ilustrar as capas de discos foi o designer gráfico estadunidense
Alex Steinweiss, contratado aos 22 anos pela gravadora Columbia. Até então, os
discos de 78 RPM eram vendidos em um pacote com mais de um bolachão, em
embalagens parecidas com álbuns de fotografia (daí surgiu o termo álbum de
músicas). As capas desses álbuns eram bastante simples, impressas geralmente em
simples cores pretas ou cinzas, trazendo estampados na frente apenas os
nomes dos artistas e das músicas.
A ideia
de Alex Steinweiss foi um sucesso e, desde então, todo disco passou a contar
com uma capa que tentava ao máximo chamar a atenção dos compradores nas lojas.
Alex Steinweiss morreu em 17 de julho de 2011, aos 94 anos. Ao longo de sua
carreira ilustrou mais de 2.500 capas de discos.
De volta ao “Acid Eaters”, Mique
Willmott conta que, como fã dos Ramones, obviamente ficou feliz quando recebeu o convite para criar a arte do álbum. Contudo, no final do
projeto, ele ficou meio desapontado um tanto quanto desapontado. Mas isso fica pra depois.
Comedores de ácido
Comedores de ácido
Como o disco contaria com regravações
da era psicodélica do rock, nos primeiros contatos com os Ramones, sempre por telefone, surgiu a
ideia de que a arte deveria ter algum
tipo de zoação com os hippies. O conceito então evoluiu para um sujeito tendo
uma bad trip de ácido e em seus delírios de alguma maneira os Ramones tinham
algo a ver com a parada.
Daí surgiu este primeiro esboço:
A segunda ideia foi a
de um monstro ramônico devorando um hippie – inspirado no título do disco, que
significa comedor de ácido... Mique
lembra que o desenho causou muitos risos pois os membros do Ramones acharam que
o hippie no desenho era Axl Rose. Embora realmente lembre o cantor do Guns n’
Roses, o ilustrador jura que não era essa a intenção.
O terceiro esboço é o que serviu
de base para a arte definitiva do álbum, com os Ramones psicodélicos saindo dos
olhos de um hippie numa viagem ruim de LSD. Quase toda a banda curtiu a ideia. Já o
vocalista Joey ficou meio puto porque achou que Mique não o tinha desenhado de
uma maneira legal...
Redesenhado o cantor e aprovado o conceito,
Mique teria um mês para fazer toda a arte do álbum. Teria porque depois
do terceiro dia de trabalho a gravadora ligou avisando que iria antecipar o lançamento
e precisava das artes no dia seguinte. O ilustrador tinha apenas a contracapa
pronta e o esboço da capa. O pessoal da gravadora respondeu que não teria
problema porque finalizaria a arte no computador, no então novíssimo programa chamado Photoshop.
Tirando a frustração do ilustrador que não pode completar o trabalho, “Acid Eaters” é uma das mais bacanas da banda,
principalmente quando impressa no formato LP ao invés do CD. Mesmo puto com o resultado final, Mique se diz orgulhoso por ter
ilustrado uma capa dos Ramones. E não, ele nunca terminou de pintar o esboço que enviou para a gravadora...
(*) O texto original de
você lê aqui.
(**) Para quem quiser saber mais
histórias sobre capas de discos dos Ramones, recomendo o livro “Eu Falo Música:Ramones”, de George Dubose, o fotógrafo oficial da banda entre 1983 e 1996.
(***) Para ficar por dentro de
tudo a respeito de Acid Eaters, visite o site Sequela Coletiva.
- MÚSICAS DE “ACID
EATERS”:
02 “Substitute” – 3:15 (The Who)
03 “Out of Time” – 2:41 (Rolling Stones)
04 “The Shape of Things to Come”– 1:46 (Max Frost and the Troopers)
05 “Somebody to Love” – 2:31 (Jefferson Airplane)
06 “When I Was Young” – 3:16 (The Animals)
07 “7 and 7 Is”– 1:50 (Love)
08 “My Back Pages”– 2:27 (Bob Dylan)
09 “Can’t Seem to Make You Mine” – 2:42 (The Seeds)
10 “Have You Ever Seen the Rain?” – 2:22 (Creedence Clearwater Revival)
11 “I Can’t Control Myself” – 2:55 (The Troggs)
12 “Surf City” – 2:26 (Jan and Dean)
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