quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Duff McKagan: memórias de um ex-Guns n’ Roses





“Para mim, a época realmente incrível da banda foi de 1985 a 1988, um período de três anos que havia terminado quase uma década antes daquela conversa com Susan em agosto de 1997. A banda não ficou mais importante na medida em que ficávamos maiores, só ficou maior – e mais inchada e mais vaidosa. Um bando de gente do círculo social do Guns nunca conseguiu seguir em frente com suas vidas. Talvez nem o quisessem. Eu sabia agora que podia seguir. E eu queria.”

- Duff McKagan, ex-baixista do Guns n’ Roses

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Entre as várias biografias de músicos que chegaram às livrarias nos últimos anos, acabo de ler uma das que mais prendeu minha atenção. Trata-se de “É tão fácil e outras mentiras”, a autobiografia de Duff McKagan (Michael Andrew McKagan, nascido em 05/02/1964), que ficou famoso como baixista do Guns n’ Roses. Lançado nos Estados Unidos em 2011 e publicado no Brasil no ano seguinte, o livro revela a transformação traumática do baixista: de um junkie completo na época de rock star quando o Guns era conhecido como a banda “mais perigosa do mundo”, para um dedicado e careta pai de família.

Entre 1987 e 1991 o Guns n’ Roses reinou absoluto no mundo do rock. Com o sucesso do disco de estreia “Appetite for Destruction”, a banda ganhou notoriedade tanto pela música e como pelos escândalos em que se metia. Vândalos empunhando instrumentos, Axl Rose, Slash, Duff McKagan, Izzy Stradlin e Steven Adler era uma máquina sonora que varreu do mapa as bandas de metal afrescalhado que faziam sucesso.

Duff (1º à direita): mucho loco na época do Guns n' Roses

A moral da banda, que não era pouca, chegou às alturas quando do lançamento dos discos “Use Your Illusion” I e II, em 1991. Porém nessa época as estruturas do Guns n’ Roses já estavam ruindo. Problemas com drogas já haviam tirado do páreo o baterista Steven Adler e o guitarrista Izzy Stradlin. E mesmo quem continuava no barco não estava em melhor situação. Axl... bem, foi naquela época que ele resolveu virar o babaca que ainda é hoje. O guitarrista Slash se tornou o viciado em heroína. Já Duff bebeu demais e cheirou tanta cocaína que é um verdadeiro milagre ainda estar vivo.

Em “É tão fácil e outras mentiras” Duff McKagan não tem receios para contar a sua história de ascensão, queda e renascimento. Estão lá as durezas que passou desde que decidiu ser músico tocando em pequenas bandas punks de Seattle – sua cidade Natal -, seguido da mudança para Los Angeles em busca de sucesso, a consagração com os Guns n’ Roses e sua decadência quase fatal.

O músico chegou ao fundo do poço em maio de 1994, logo após o fim da turnê mundial de “Use Your Illusion”. “Meu pâncreas”, escreve Duff, “aparentemente inchado e do tamanho de uma bola de futebol devido a tanta bebida, tinha estourado.  (...) De repente entendi todas as súplicas feitas pelas almas miseráveis na Antiguidade, aqueles deixados com vida após serem atravessados por espadas enferrujadas ou escaldados por óleo fervente. Eu estava lá. Reuni todas as minhas forças para sussurrar ao médico de emergência:  Mate-me. Apenas me mate. Por favor!”.


Mas o médico era bom e o santo de Duff melhor ainda e, enfim, ele sobreviveu. E é o que ele fez depois da sua quase morte que torna esta bioagrafia especial. Até então, a vida do baixista havia sido o clichê patético do rockstar: menino pobre forma banda, consegue a fama e sucesso. Junto com isso chegaram as drogas, as turnês ao redor do mundo, as festas em que loucura pouca era bobagen, a perda do controle sobre a própria vida e a inevitável decadência.

Foi preciso beijar a lona para ter um recomeço. Decidido a se recuperar, Duff abandonou as drogas e a bebida assim que saiu do hospital. Parou de badalar pelas noites de Los Angeles e deixou para trás os amigos de festa e os traficantes. Passou a viver como eremita, solitário, ocupando o tempo com longas voltas de bicicletas, meditando, lendo, dedicando-se às artes marciais e aos estudos. Uma mudança da água pro vinho – ou melhor – do vinho pra água na vida do cara.

Sóbrio há duas décadas, casado com a modelo Susan Holmes e pai de duas adolescentes, Duff agora leva uma vida tranquila. Largou definitivamente o Guns n’ Roses em 1997. Entre 2004 e 2007 voltou à mídia com o Velvet Revolver e atualmente tem uma carreira modesta com a banda Loaded. 

O músico com a esposa, a modelo Susan Holmes

Duff dá pinta de quem não tem saudade dos tempos em que era integrante da banda mais perigosa do mundo. Parece que nada sobrou da antiga vida de estrela de rock.  Agora ele se orgulha de ser um pai dedicado cuja maior preocupação é orientar as filhas para mantê-las o mais longe possível dos abismos mais fundos e escuros onde ele caiu.

Quando começamos a ler uma biografia de um roqueiro ou de uma banda, geralmente estamos atrás da podreiras e baixarias da vida dos artistas. Mas essa, definitivamente, não é a praia de “É tão fácil e outras mentiras”. Há até quem diga que se trata de um livro de autoajuda escrito por Duff. Pode até ser, mas ainda assim é de uma honestidade tremenda na sua intenção de destruir o glamour patético que existe no estilo de vida marcado por sexo, drogas e rock and roll.


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