Ingresso de show que deveria ser realizado em 05 de abril de 1994 na Brixton Academy, em Londres. Naquela data Kurt Cobain cometeu suicídio na casa dele, em Seattle |
Imagine que você contratou a maior banda do mundo para
realizar algumas apresentações em um festival que você está organizando, mas
próximo às datas marcadas o líder do grupo resolve se matar com um tiro na
cabeça. Você já investiu toda a grana que tinha na divulgação e preparação dos
shows, ingressos foram vendidos e, como não haverá mais show nenhum, os riscos
do seu negócio falir são enormes. O que fazer para contornar a situação?
O inglês Simon Parkes passou por isso. Dono da tradicional
casa de shows Brixton Academy, em Londres, ele havia contratado o Nirvana para
realizar quatro apresentações seguidas. Porém, precisamente no dia 08 de abril,
como todo mundo Parkes recebeu a notícia de que o corpo de Kurt Cobain havia
sido encontrado e que a provável causa da morte era suicídio.
Imediatamente o sinal de alerta disparou na mente do dono do
Brixton Academy que, além de cancelar o festival, teria que devolver o dinheiro
dos ingressos que já havia vendido. Quando estava a um passo do desespero
total, um dos funcionários da Brixton chegou até Parkes com alguns ingressos dos
shows do Nirvana na mão e comentou que no futuro colecionadores iriam pagar
caro por alguns daqueles tíquetes das apresentações que não iriam mais
acontecer. Desanimado, na hora Parkes não deu muita atenção ao comentário.
Brixton Academy |
Mais tarde naquele mesmo dia, o dono da Brixton Academy
recebeu uma ligação da renomada Radio 1 da BBC. O repórter Zoe Ball queria entrevistá-lo
ao vivo para falar sobre a morte de Kurt Cobain e fazer as perguntas de praxe
naquela situação. Entrevista rolando e de repente o repórter perguntava como
estava o clima na Brixton Academy com a notícia do suicídio. Num estalo Parkes lembrou
do comentário do seu funcionário sobre os ingressos valerem alguma coisa e
assim percebeu que aquela pergunta era tudo o que precisava para salvar o seu
negócio:
“Bem, Zoe, você sabe,
isto é absolutamente extraordinário, nós temos fãs do Nirvana de todo o mundo
nos ligando freneticamente tentando comprar ingressos desses shows. Pessoas da
América e do Japão estão nos oferecendo mais de 100 libras pelos ingressos do
Nirvana para guardar como lembrança” – respondeu Parkes ao repórter da BBC.
Claro que era tudo bobagem, mas a lorota caiu como uma luva.
Ainda naquele dia a edição vespertina de um jornal londrino publicou a “história”
de que fãs estavam travando uma luta para comprar, a preços bastante altos, os ingressos
daqueles shows que Kurt Cobain nunca iria tocar. Não demorou muito para o
telefone da Brixton Academy realmente começar a tocar com pessoas do outro lado
da linha dispostas a pagar muito para comprar os tais tíquetes...
Resumindo a história, além de poucas pessoas que haviam
comprado o ingresso antecipadamente terem pedido o reembolso, muitas outras
acabaram pagando caro pelos ingressos para guardá-lo como suvenir. O lucro foi significativo
e a Brixton Academy foi salva da falência com uma simples mentirinha...
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Essa história é contada pelo próprio Simon Parkes, que
lançou na semana passada na Inglaterra o livro “Live at the Brixton Academy: A
Riotous Life in the Music Business” (Ao vivo na Brixton Academy: uma vida
turbulenta no negócio da música – sem previsão de ser lançado no Brasil).
Pela história acima sobre o “golpe” dado com sucesso a
respeito dos ingressos do Nirvana, imagina-se que o livro seja pra lá de
bacana. Além de contar como ele fundou a Brixton Academy e fez dela uma casa de
shows mundialmente famosa, Parkes conta histórias de bastidores sobre muita
gente que tocou lá. Nomes como Lou Reed, Ramones, Robert Plant e Jimmy Page,
The Smiths, New Order, só para citar alguns...
A história resumida sobre os shows do Nirvana que não
aconteceram foi publicada na sexta-feira (24/01) pelo site do jornal The
Guardian com o título “What to do when Nirvana are playing your venue, but KurtCobain's dead?”.
O livro pode ser encomendado aqui.
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