terça-feira, 17 de maio de 2011

2º Ramones Day acontece nesta quinta em Curitiba


Um grande encontro entre fãs, com shows, venda de materiais para colecionadores e exposição de memoriabília da banda. Este é o 2º Ramones Day, que acontece nesta quinta-feira, dia 19 de maio, em Curitiba (PR). Segundo Otávio Tambosi, um dos organizadores Ramones Day, esta edição do evento terá uma ênfase especial no cantor Joey Ramone, que esta semana completaria 60 anos. Joey faleceu de câncer em abril de 2001.

O organizador comenta que entre os materiais que estarão expostos, encontram-se alguns itens bastante raros, como autógrafos, uma palheta usada pelo guitarrista Johnny, além de baquetas dos bateristas Richie e Marky e camisetas, que eram vendidas nas turnês pelos Ramones.

CD virtual

A banda curitibana Magaivers estará se apresentando no 2º Ramones Day, ao lado de cerca de 25 convidados especiais. Para aumentar o clima festivo, o Magaivers lançou na semana passada o CD virtual “Ramones Day”, trazendo 14 versões de músicas de todas as fases da carreira dos Ramones, entre elas “California Sun”, “S.L.U.G.”, “I Believe In Miracles” e “I Wanna Be Sedated”. Com gravação impecável, o CD pode ser baixado gratuitamente.

O 2º Ramones Day acontece no Vox Bar (Rua Barão do Rio Branco, 418), a partir das 21h00. Mais informações pelo fone (41) 8415-0805.

A primeira edição do encontro foi realizada em 2009 e marcou os 15 anos da apresentação histórica dos Ramones na capital paranaense, ocorrida em 12 de novembro de 1994, na Pedreira Paulo Leminski. Naquela noite, ao lado das bandas Viper, Raimundos e Sepultura, o grupo novaiorquino tocou para 30 mil pessoas, um dos maiores públicos de toda a carreira dos Ramones.

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LINK PARA DOWNLOAD DO CD "RAMONES DAY", DO MAGAIVERS:
http://www.4shared.com/file/LQvNNOeb/Magaivers_-_Ramones_Day.html

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Foo Fighters e o Dia da Loja de Discos


Apenas algumas semanas após o lançamento do aguardado álbum de inéditas “Wasting Light”, o Foo Fighters brindou novamente os fãs no último sábado. Agora, com o disco “Medium Rare”, uma coletânea com 13 músicas, todas regravações realizadas pela bandas ao longo da carreira. Entre as faixas estão músicas de bandas como Pink Floyd, Ramones e Cream.

A compilação do Foo Fighters é um dos lançamentos especiais que incontáveis bandas colocaram à venda no último sábado, 16 de abril, data que marca o Record Store Day. Criado em 2007 nos Estados Unidos, o Dia da Loja de Disco surgiu como uma forma de incentivar a venda de discos nessa época de crise da indústria fonográfica, que também tem obrigado muitas lojas de discos a fecharem as portas.

Desde o primeiro Record Store Day, é cada vez maior o número de bandas que têm preparado materiais especiais para serem lançados na data, com um detalhe: todos os títulos são limitados, lançados apenas em vinil e colocados à venda, preferencialmente, somente em lojas de discos.

Mas isso não impede que esses materiais raros cheguem rapidinho à internet para download dos fãs, como é o caso de “Medium Rare”, do Foo Fighters. O tracklist dessa compilação da banda de Dave Grohl & Cia. é:

1.”Band on the Run” (Wings cover)
2. “I Feel Free” (Cream cover)
3. “Life of Illusion” (Joe Walsh cover) 3:40
4. “Young Man Blues” (Mose Allison cover) (Live at Austin City Limits)
5. “Bad Reputation” (Thin Lizzy cover)
6. “Darling Nikki” (Prince and The Revolution cover)
7. “Down in the Park” (Gary Numan and Tubeway Army cover)
8. “Baker Street” (Gerry Rafferty cover)
9. “Danny Says” (Ramones cover Featuring Greg Bissonette on Drums)
10. “Have a Cigar” (Pink Floyd cover)
11. “Never Talking to You Again” (Hüsker Dü cover) (Live)
12. “Gas Chamber” (Angry Samoans cover)
13. “This Will Be Our Year” (The Zombies cover)

LINK PARA DOWNLOAD:
http://www.filesonic.com/file/718725644/FFighters.rar


Mais informações sobre o Record Store Day:
www.recordstoreday.com

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Joey Ramone: há 10 anos silenciava a voz do pioneiro do punk rock


Há exatos 10 anos, morria Joey Ramone, vocalista dos Ramones – banda novaiorquina que criou, na metade dos anos 70, um dos estilos mais radicais do rock, o punk. Nascido Jeffrey Hyman, o cantor faleceu na tarde de 15 de abril de 2001, quando dormia, cercado por familiares e amigos. Enquanto no quarto tocava “In a Little While”, do U2, Joey (49 anos) foi finalmente derrotado por um linfoma, tipo de câncer contra o qual lutava desde a metade dos anos 90 e que foi um dos motivos que causaram o fim dos Ramones, em 1996.

Fisicamente esquisito nos seus dois metros de altura, diagnosticado já na adolescência com transtorno obsessivo-compulsivo, usando sempre óculos de lentes do tipo “fundo de garrafa”, Joey era o avesso do que geralmente se espera de um rock star. “Um gentleman, quem diria, por baixo daquela cabeleira toda”, escreveu em 1991 o jornalista André Forastieri em uma reportagem sobre o cantor na finada revista Bizz.

“Era um cara muito simples, bem educado, falava com todo mundo, não demonstrava nenhuma afetação ou ar de superioridade. Tudo que se espera de um verdadeiro punk”, definiu por e-mail o também jornalista André Barcinski que, entre outros encontros, entrevistou o cantor no apartamento dele em Nova York para o livro “Barulho”, lançado no início dos anos 90.

Origens

Fã de grupos clássicos como Beatles, Rolling Stones e The Who e de outras lendas do underground como Stooges e New York Dolls, Joey deu o ponta-pé inicial na sua carreira como vocalista da obscura banda de glam rock Sniper, da qual ele logo foi chutado por ser considerado feio demais.

Já o início da banda que o tornou famoso se deu em 1974, no bairro do Queens, em Nova York. Inicialmente, o grupo era um trio formado por Johnny na guitarra, Dee Dee no baixo e vocal e Joey na bateria. Mas, logo nos primeiros ensaios o empresário da banda Thomas Erdelyi percebeu a falta de aptidão de Joey com as baquetas e convenceu-o a assumir os vocais, enquanto também tentava conseguir um novo baterista para a banda. Como ninguém apareceu, o próprio empresário ficou com o posto: adotou o apelido de Tommy e, como os demais músicos da banda, assumiu o sobrenome Ramone.

Nascia assim a formação clássica dos Ramones e o que veio depois disso todo mundo que se interessa por rock já conhece. Com o álbum de estreia, lançado em 1976 e que trazia apenas o nome da banda e 14 faixas espremidas em apenas 29 minutos, o grupo inaugurou o punk rock e influenciou toda uma cena musical que, mais do que nos Estados Unidos, fez explodir um barril de pólvora na Inglaterra e inspirou o surgimento imediato de grupos como os Sex Pistols, The Clash e Buzzcocks, que imitavam os ídolos novaiorquinos na música e nas roupas.

Na sequência do primeiro disco, em 1977 os Ramones lançaram também os álbuns “Leave Home” e “Rocket to Rússia” (este considerado por muitos a obra-prima da banda). No ano seguinte, já com o baterista Marky, o grupo lançou “Road to Ruin”, disco que encerra a fase áurea do grupo, que depois disso viu seus membros se afundarem cada vez mais em problemas com drogas e álcool, ao mesmo tempo em que o relacionamento entre eles começava a ficar cada vez mais hostil – o que pode ser visto no documentário “End of The Century: the story of the Ramones (direção de Michael Gramaglia e Jim Fields, de 2003).

Mesmo com todos os problemas, o grupo manteve uma produção intensa até o fim da carreira. Foram 14 discos de estúdio, quatro álbuns ao vivo e 2.263 apresentações nos 22 anos que duraram os Ramones.

Carreira solo

Contrariando o que os próprios colegas dos Ramones consideravam um caminho natural, Joey nunca arriscou um voo solo enquanto a banda existiu. Mas, várias vezes ele esteve perto disso, principalmente no começo da década de 1980, quando o clima dentro do grupo, que já não era bom, azedou de vez.

Joey Ramone e o guitarrista Johnny eram duas personalidades opostas tendo que se aturar diariamente. O cantor, com ideologias políticas esquerdistas; o guitarrista, um defensor extremo da direita e das políticas dos presidentes estadunidenses Richard Nixon, Ronald Reagan e dos Bush pai e filho. Artisticamente, Joey era a favor de algumas mudanças na direção da banda; enquanto Johnny, que comandava com mãos de ferro o grupo, fazia de tudo para que os Ramones repetissem sempre a mesma sonoridade dos primeiros discos.

A rivalidade entre Joey e Johnny se acentuou em 1979, durante as gravações do álbum “End of The Century”. Desde o início do trabalho o guitarrista não escondeu a antipatia pelo famoso produtor Phil Spector, o qual deu especial atenção a Joey, impressionado pelas qualidades vocais do cantor.

Se estivesse à espera de um bom motivo para abandonar o grupo, Joey o teve em 1981, quando Johnny “roubou” e depois se casou com Linda, a então namorada do cantor. O episódio rompeu definitivamente qualquer laço de amizade que ainda existia entre o cantor e o guitarrista, que se conviveram dentro dos Ramones ainda por longos 15 anos. Depois do fim da banda, os dois nunca mais se falaram.

Se optou por permanecer na banda, contudo Joey não se privou de fazer participações especiais em discos de diversas outras bandas. O mais inusitado foi um projeto de 1994, Sibling Rivalry, que o vocalista montou com o irmão Mickey e resultou no lançamento de um EP com três músicas. Em 1999, também produziu o EP “She Talks to Rainbows”, de Ronnie Spector.

Disco solo

Encerrada a carreira dos Ramones, Joey finalmente se dedicou ao primeiro disco solo. As gravações foram complicadas, uma vez que os dias no estúdio eram intercalados com as constantes internações que cantor era submetido para tratar da saúde, já bastante debilitada pela doença que o matou. Joey morreu antes do lançamento de “Don’t Worry About Me”, o disco solo que chegou ao mercado em 2002.

Com 11 faixas, o álbum manteve a pegada ramoníaca, ou seja, as guitarras distorcidas e a economia de acordes. O que chamou a atenção foram algumas letras, que expressavam um lado mais espiritual de Joey, provavelmente reflexo da percepção de que a vida lhe escapava mais e mais a cada dia. É o caso de músicas como “Stop Thinking About It”, “Venting (Is a Different World Today)” e “Searching for Something”, além do cover “What a Wonderful World”, clássico de Louis Armstrong.

Joey também fez questão de transformar em música a sua luta contra o câncer na faixa “I Got Knocked Down (But I’ll Get Up)” [Sentado na cama do hospital / Eu quero a minha vida / Isso é um saco / Frustração passando pela minha cabeça / Desligo a televisão, tomo alguns remédios e então posso esquecer / Eu fui nocauteado / Mas vou me levantar].

Logo após o lançamento de “Don’t Worry About Me” começaram a pipocar aqui e ali rumores de que Joey teria deixado gravadas as vozes para canções que poderiam resultar em segundo álbum solo do cantor, o que de fato acabou se confirmando. Porém, dez anos após a morte do cantor, a maioria dessas canções ainda permanece guardada a sete chaves. Entre os fãs e pessoas que eram próximas a Joey, circula a informação de que a demora em lançar esse disco se deve a brigas sobre os direitos das gravações.

Contudo, no início deste ano o irmão de Joey teria anunciado que essas pendengas foram resolvidas e que o disco, ainda sem nome, será lançado em 2011. Ao todo, serão 16 canções e existe ainda a possibilidade do material vir acompanhado de um DVD. O disco está sendo produzido por Ed Stasium, que trabalhou com os Ramones, e conta com diversas participações especiais, entre elas de Richie Ramone, que foi o baterista do grupo entre 1983 e 1987.

Homenagens

Enquanto os fãs aguardam ansiosamente o lançamento do segundo disco do cantor, a fama dos Ramones não para de crescer ao redor do mundo. Praticamente renegados pela indústria musical, pelas rádios e pela MTV enquanto existiram, os Ramones hoje são reconhecidos como uma das mais influentes bandas de rock de todos os tempos. Provas disso são a inclusão em 2002 dos Ramones na Galeria da Fama do Rock and Roll e a homenagem feita à banda no Grammy deste ano.

Joey Ramone, em especial, também não é esquecido. Em 2003, o vocalista virou nome de rua em Nova York. O “Joey Ramone Place” fica na East 2nd Street, próximo ao moquifo onde os Ramones realizaram seus primeiros shows, o hoje lendário CGBG. Além disso, desde 2001 é realizado anualmente o Joey Ramone Bash, evento que reúne artistas e amigos que promovem um show em memória do pioneiro do punk rock.

No Brasil, o cantor também é sempre lembrado. No ano passado, o irmão do cantor e o baterista Richie estiveram se apresentando no Brasil, oportunidade em que inauguraram a loja Joey Ramone Place, no Rio de Janeiro.

Em Curitiba, no próximo dia 19 de maio (data em que Joey completaria 60 anos) acontece a segunda edição do Ramones Day. O evento – que foi realizado pela primeira vez em 2009 para marcar os 15 anos da histórica apresentação da banda diante de 30 mil fãs na capital paranaense – terá exposição e venda de memoriabília dos Ramones e shows de tributo.

Uma das bandas a se apresentar é a curitibana Magaivers. Segundo o vocalista Rodrigo Porco, o grupo novaiorquino sempre será lembrado. “Os Ramones foram uma combinação improvável de quatro pessoas muito diferentes e que tinha tudo para dar errado. No entanto, eles transformaram a música”, define. Nos próximos dias a banda Magaivers estará disponibilizando para download gratuito 15 versões de canções dos Ramones, uma seleção do que o grupo apresenta uma vez por mês na noite curitibana, em show tributo aos Ramones.

E se estivesse vivo?

Quando um artista morre de forma precoce, é comum os fãs se perguntarem: se estivesse vivo, o que ele estaria fazendo hoje?

“Ele sempre foi ligado em bandas novas e tinha um gosto musical diversificado. Eu acho que ele estaria experimentando com outros gêneros, quem sabe fazendo algum projeto de country ou cantando baladas. O cara gostava de vários gêneros musicais”, arrisca o jornalista André Barcinski.

Mas isso são só suposições. De certo mesmo só que o próprio Barcinski afirma: “Os Ramones faziam os shows mais divertidos do mundo. Fazem muita falta”.

Além de Joey, também são falecidos outros dois integrantes da formação original dos Ramones: o baixista Dee Dee, de overdose em 2002; e o guitarrista Johnny, de câncer em 2004.

sábado, 26 de março de 2011

Nevilton: uma banda brasileira


Há duas semanas, recebi no meu programa de rádio (Garagem 95, que vai ao ar pela Difusora FM todos os sábados, das 18h00 às 20h00) a banda Nevilton. Ainda desconhecidos por aqui, esse trio é considerado uma das maiores revelações do rock brasileiro de 2010. Tanto é que a revista Rolling Stone considerou o disquinho de estreia do grupo o 4º melhor do ano passado e a faixa "O Morno", a segunda melhor música.

Para se ter ideia do peso dessa escolha da revista Rolling Stone, é como se fulano de tal fosse escolhido pela revista Veja como um dos políticos do ano. O que Veja representa para o povão de uma maneira geral, a Rolling Stone tem um peso igual para a música brasileira. E o que é mais surpreendente de tudo é que o Nevilton é aqui de Umuarama, cidade praticamente vizinha de Marechal Cândido Rondon.

Após a participação no Garagem 95, a banda Nevilton se apresentou em Toledo, onde concedeu uma nova e mais longa entrevista, que está disponibilizada logo abaixo.

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Nevilton: uma banda brasileira

“nossa cidade é tão pequena
e tão ingênua
estamos longe demais
das capitais”


Nos já distantes anos 80, Humberto Gessinger e sua banda Engenheiros do Havaí fizeram poesia sobre o drama que pode ser para um jovem viver afastado dos grandes centros urbanos, estando, portanto, distante das virtudes e pecados oferecidos pelas metrópoles.

O reclame foi registrado na faixa “Longe Demais das Capitais”, sendo o sujeito longínquo a cidade de Porto Alegre. A música pode até fazer sentido, se pensarmos que a capital gaúcha, de certo modo, não tem aquela grandiosidade toda de uma São Paulo da vida... Mas, em todo o caso, os versos de “Longe Demais das Capitais” nunca serviram tão bem como para descrever a epopeia da banda Nevilton.

Surgido em 2007, em pouco mais de três anos de atividade o grupo teve uma ascensão inimaginável para uma banda nascida em Umuarama, cidade localizada na região Noroeste do Paraná, interiorzão do Estado. Com cerca de 100 mil habitantes, a cidade está a cerca de 600 Km de Curitiba, tão distante da capital que é muito mais fácil e rápido chegar ao Paraguai pela Ponte Ayrton Senna, na cidade de Guaíra, viajando apenas 150 Km.

Sem qualquer tradição roqueira, Umuarama é regionalmente conhecida pelas suas festas de peões e de sertanejos universitários, tribos que têm muito mais a ver com a principal vocação econômica da cidade, a bovinocultura de corte. É desse cenário improvável que surgiu a principal revelação do rock nacional em 2010, que com apenas um EP com cinco músicas (“Pressuposto”, lançado em fevereiro do ano passado) recebeu elogios rasgados da crítica, fez aparições frequentes na MTV, conquistou lugar nos palcos dos principais festivais independentes do país e foi até mesmo foi escalada para abrir o recente show do Green Day em São Paulo. Como se não bastasse, teve coroada a trajetória do EP “Pressuposto” pela revista Rolling Stone, que elegeu o disquinho como o quarto melhor lançamento nacional de 2010 e a faixa “O Morno”, a segunda melhor música.

Formado por Nevilton (voz e guitarra), Lobão (baixo e backing vocals) e Chapolla (bateria e backing vocals), o grupo está preparando as malas para mudar-se para São Paulo. Sem pressa, mas confiando no próprio taco, o Nevilton leva na bagagem um disco novo já gravado, esperando apenas a melhor hora/proposta para lançá-lo. E, quem sabe, cumprir a missão da banda que, segundo eles afirmam na entrevista a seguir, “é não deixar o samba morrer”.

Estava nos planos da banda ter uma ascensão tão rápida a partir do lançamento do EP “Pressuposto”?
NEVILTON (N):
Todo o trabalho que a gente vai fazendo é sempre querendo cada vez mais repercussão e chegar mais longe. Mas, não tínhamos uma meta de ficar entre os melhores discos... O lance foi fazer com muito carinho para que se diferenciasse dos outros discos. O EP tem músicas legais, com uma textura legal. O pessoal viu que estávamos ralando mesmo para o disco sair. Aliado aos shows e muito trabalho, conseguimos ótimas repercussões, acima do que tínhamos esperado.

A banda ainda mora em Umuarama, mas está preparando a mudança pra São Paulo. É uma coisa meio louca isso que está acontecendo com o Nevilton, até porque Umuarama não tem nenhuma tradição roqueira...
(N):
Em Umuarama houve poucas bandas de rock. A banda que mais conseguiu repercussão, a Hipnoise, foi no final dos anos 90 e começo de 2000 e que era a banda que o Lobão tocava. Essa banda tocou muito na região, mas a ênfase era nos covers de bandas alternativas como Pixies, Weezer. Acho que isso foi parte do processo até que surgisse uma banda que fizesse um som autoral e que mergulhasse de cabeça no trabalho. Espero que o nosso trabalho, não só pra Umuarama, mas para outras cidades interioranas, que não têm essa cultura, que o nosso trabalho possa servir de exemplo para mais bandas de cidades menores trabalharem com garra e irem pra cima que as coisas vão acontecendo. É parte por parte, tijolo a tijolo.

Mudou alguma coisa pra banda em Umuarama ou impera a regra que santo de casa não faz milagre?
(N):
Rola muito disso de santo de casa não fazer milagre. Mas nossa preocupação não é fazer milagre em Umuarama, nem em Cianorte (cidade do baterista Chapolla). A gente continua fazendo um show ou outro lá. A repercussão junto às pessoas que sempre acompanharam o nosso trabalho não mudou. Acontece de ir em alguns lugares aleatórios e o pessoal diz que já te viu no jornal, na TV e que não imaginava isso quando a gente só tocava na garagem ou no bar lá da cidade. É legal ver como a abrangência aumenta até numa visão micro, uma visão local, na cidade.

Nessa época do ano em 2010, vocês estavam lançando o EP lá em Umuarama e meses depois estavam tocando pelo Brasil e inclusive abrindo um show para o Green Day em São Paulo. Como lidar com isso?
(N):
A gente também não sabia... A gente só vai fazendo e querendo fazer cada vez mais. Ano passado, janeiro, fevereiro foram meio parados pra gente. Mas ainda em 10 de fevereiro a gente lançou o disco e nisso já estávamos em São Paulo e saímos em turnê, que já vinha sendo planejada desde dezembro de 2009 junto com o pessoal do Fora do Eixo, que é uma plataforma que tem trabalhado com muitas bandas para aumentar as atividades culturais em vários pontos do país. Cada coisa que vai acontecendo a gente curte muito. Mas, vamos sempre devagar porque a gente sabe que nada vai ser pra sempre assim, com gostinho de novidade. Mas, olha o que a gente é? A gente não é nada ainda. Temos muito que fazer e essa é a motivação.

Quando vocês lançaram o disco e começaram a receber o retorno na forma de críticas positivas da imprensa, de pessoas interessadas no trabalho do Nevilton, como foi isso?
(N):
A triagem inicial foi ver os veículos onde as pessoas falam de música nova, descobrir uns programas bacanas de rádio... Mandamos o disco para vários lugares e acabou virando uma bola de neve. Alguns lugares-chave começam a falar e vários outros vão na onda mesmo, porque viram que saiu a resenha na Rolling Stone, que saiu na Noize e isso vai virando uma cauda longa, assim... num jeito inocente de falar.

Várias bandas têm surgido no Brasil fora do eixo de São Paulo, como Vanguart, o Macaco Bong, mas ainda assim são bandas centradas em capitais de seus Estados de origem. Mas, entre essas, o Nevilton é a que está realmente longe demais das capitais.
LOBÃO (L):
A gente tentou não se prender a esses conceitos. Mesmo no interior, se não tinha lugar pra tocar, a gente fez. Se o lugar pra tocar era longe e a van era muito cara, a gente foi de carro. A gente tinha um Uno, o saudoso Átila...
(N): Viajamos pra Palmas, no Tocantins, 2.300 km de Umuarama a Palmas, dois dias na estrada pra chegar lá e tocar com Pato Fu, Ratos de Porão... Depois saiu no Estado de Tocantins, talvez o jornal mais bacana de Tocantins, uma puta resenha legal dizendo que quem brilhou na noite foi o Nevilton... Algumas coisas assim que a gente viajou, tocou com garra e conseguiu uma repercussão legal. Isso abre portas para outros festivais chamarem...
(L): Vindo de uma cidade pequena, a gente teve que aprender tudo, desde tocar e produzir as músicas, administrar a banda, fazer as artes gráficas, mexer com as mídias sociais. Se a gente estivesse em uma cidade grande teríamos os amigos que fariam. Então, isso foi muito importante pra gente, que hoje consegue fazer sozinho o que uma equipe faria. Com esse know-how de fazer tudo, é possível otimizar a nossa profissão pra atingir o nosso objetivo com mais clareza.
(N): Do jeito que a gente está falando parece uma entrevista de negócios. Mas, é um negócio inteiramente punk, nós mesmos fazendo a história...

Vocês estão frequentemente tocando em São Paulo, onde tem incontáveis bandas batalhando um espaço pra tocar. Vocês foram bem recebidos no começo ou teve um certo bairrismo?
(L):
Não me lembro de ter sentido isso... Muito pelo contrário. Até por a gente ser do interior, rola um interesse maior... Fomos muito bem recebidos, ficamos na casa de bandas de lá, usamos equipamentos delas.

Antes de formar a banda, em 2006, Nevilton e Lobão foram morar um tempo em Los Angeles, nos Estados Unidos. Qual era a ideia de vocês quando se mudaram pra lá? Era aprender como funciona o mercado musical de lá ou o quê?
(L):
A ideia foi ficar fluente no inglês. E que bom que a gente conheceu a cultura norte-americana e o music business. Assim como a gente tem aqui os cursos do Senac, Sebrae, cursos de microempresas, eles têm monografias, livros sobre music business. Isso é uma coisa muito interessante! A gente trabalhou pra caramba também fora da música. Conseguimos ver o show business funcionando porque a gente também trabalhou em eventos. Então, esse negócio de ir pra lá aprender inglês acabou refletindo diretamente na nossa questão musical. Trabalhamos em estruturas de shows enormes, como do Guns n’ Roses...

Como vocês foram trabalhar num show do Guns n’ Roses?
(L):
O nosso emprego era ser segurança de eventos.

O Nevilton de segurança? (risos)
(L):
(risos) O Nevilton botava uma ordem na casa que você tinha que ver! Deixava um costeletão e uma cara de mau! (risos). A gente trabalhou tanto na frente recepcionando o público como no backstage, toda a movimentação de iluminação, estrutura física, coisa louca cara!
(N): Eu tava sempre muito bem armado com um rádio amador e um farolete. Eu podia chamar reforço a qualquer hora!
(L): A gente trabalhou no Oscar também! Vimos vários tipos de eventos, de vários níveis diferentes e percebemos que o negócio é ser profissional. Trabalhando profissionalmente, não tem como dar errado.

E o primeiro álbum, em que pé está o novo trabalho?
(N):
Está pronto.
(L): Está gravado, masterizado, capa feita. Só falta resolver o lançamento.

Alguma gravadora ou selo interessado?
(L):
Propostas existem. Tem gente que procura, quer saber, mas não desenvolve... A gente quer lançar legal, com boa distribuição... Não adianta fechar qualquer negócio só pra lançar.
(N): Por isso que ele está pronto há algum tempo e a gente não lançou. Mais cedo ou mais tarde a gente lança. Estamos fazendo bastante shows, tendo boa repercussão, temos um clip pronto pra lançar logo e estamos em pré-produção de um outro clip. Tem muito o que rolar, então não há pressa. E mesmo que o disco seja lançado só por nós, vamos tomar todos os cuidados para que seja divulgado de uma maneira legal e que consiga chegar a todos os lugares. A gente vai fazer bonito...

Abrir o show do Green Day ajudou bastante na divulgação da banda?
(L):
Tocar pra 30 mil pessoas e abrir o show do Green Day foi bastante emocionante. E a repercussão foi boa. Os fãs do Green Day que viram a gente, alguns adoraram outros não. Mas mesmo quando rolou papo negativo na internet, foi bom porque tinha gente que ia lá e defendia. É legal quando as coisas saem do nosso poder e a gente não controla mais. Dá um pouco de medo porque temos que pensar mais no que estamos fazendo. Mas é legal saber que tem gente que hoje conhece a nossa banda por causa dessa aparição no show do Green Day.

As influências da banda são diversas...
(N):
Ainda mais agora, com o Chapolla na banda, a salada está completa...
CHAPOLA: Eu tenho muito da escola do hardcore, mas também muita coisa de rock, como Led Zeppelin, Queens of The Stone Age, Foo Fighters... E depois que eu entrei na banda comecei a ouvir mais coisas brasileiras. Estou ouvindo até Alceu Valença!
(L): Eu tive uma formação alternativa dos anos 80, 90: Superchunk, Pixies, Pearl Jam... Mas eu tenho muito dos anos 50 também e eu tento mixar isso.
(N): O Lobão me fez gostar de Pink Floyd também. A gente gosta também de jazz e um monte de bebop estranho... Eu gosto de muita música brasileira, principalmente falando a respeito de letras. Temos ótimos letristas no Brasil como Belchior, Fagner, Chico Buarque, Zé Rodriguez, Zé Geraldo, Alceu Valença. E gosto também de muito rock and roll, da guitarra do Jimmy Page, Jimi Hendrix, Clapton, B. B. King... Ao mesmo tempo gosto desde de Tom Jobim ao Pavement, as guitarras malucas dos Smiths, Modest Mouse, Cake... A gente sempre está escutando várias coisas...

Hoje, então, vocês já conseguem definir que tipo de banda é a Nevilton, ou vocês ainda estão descobrindo isso? Que rumos musicais a banda deve seguir no futuro?
(N):
A definição de gênero seria uma banda brasileira. Talvez uma banda brasileira de rock... Com relação ao futuro da banda, talvez a resposta seja a mesma se você tivesse perguntado isso pra mim há três anos ou um ano atrás: é trabalhar cada vez mais e tentar fazer cada vez melhor as coisas pra não decepcionar a galera que já nos acompanha e, ao mesmo tempo, cativar mais pessoas para chegar sempre em mais lugares. A missão é não deixar o samba morrer!

terça-feira, 1 de março de 2011

Entrevista: jornalista André Trigueiro, da Globo News


Entrevista que realizei com o jornalista André Trigueiro, da Globo News, do Rio de Janeiro. Ela está publicada na última edição da revista Amigos da Natureza. Na conversa, ele fala sobre o trabalho dele como jornalista que dedica grande parte de seu trabalho para as questões ambientais.

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“O discurso desenvolvimentista dissociado da sustentabilidade caducou no século passado”

Há quase duas décadas, o jornalista André Trigueiro vem dedicando grande parte do seu trabalho a temas ligados ao meio ambiente. Repórter e apresentador do “Jornal das Dez” e editor-chefe do programa "Cidades e Soluções", ambos da Globo News, Trigueiro também é professor do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ e autor dos livros “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação” e “Espiritismo e Ecologia”, além de também ter sido coordenador editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no Século XXI”.

Nesta entrevista, o jornalista – que, em 2008, recebeu a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, a mais importante comenda do município do Rio de Janeiro – critica a forma alarmista como a mídia muitas vezes divulga os assuntos ligados ao meio ambiente, defende a necessidade de superar o atual modelo de desenvolvimento e explica que religião e ecologia podem andar juntas.


Quando e por que o senhor começou a se dedicar ao jornalismo ambiental?
A cobertura da conferência internacional da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento, a Rio-92, foi muito marcante para mim. Ficou muito claro que esse era um assunto inevitável, do momento. Eu me senti completamente inebriado. Fui buscar formação fora do jornalismo, em grupos de estudos, em livros para entender e reportar melhor aquilo que eu estava julgando entender. Isso num momento em que ainda havia preconceito sobre o tema, que era um assunto periférico. Com muita alegria, nessas quase duas décadas eu tenho acompanhado a mudança muito clara na forma como assunto é percebido pela mídia. Hoje, esse assunto, por conveniência ou convicção, se tornou importante. Agora, eu não me sinto muito confortável no rótulo de jornalista ambiental. Me sinto mais confortável me assumindo como jornalista interessado nos assuntos da sustentabilidade. Também não sou defensor de uma editoria de meio ambiente na atividade jornalística. Eu prefiro entender que os assuntos da sustentabilidade alcançam todas as editorias.

A imprensa brasileira ainda está aprendendo como trabalhar os temas do meio ambiente?
É um processo. A gente já esteve mais atrasado, com uma visão mais provinciana, até ultrapassada eu diria. Uma dificuldade de entender que a dimensão ambiental vai além da proteção dos recursos naturais. Esse é o ponto de partida, mas transcende e vai na direção dos comportamentos, estilos de vida, padrões de consumo, modelos de desenvolvimento e de civilização. O olhar da gente é fragmentado culturalmente. Na escola, temos as disciplinas segmentadas e, na faculdade, isso se agrava. As áreas do saber e do conhecimento são fracionadas e muito autossuficientes. Isso não é pensar sistemicamente. Essa é uma das causas dessa crise ambiental sem precedentes. Esse olhar fragmentado da realidade. E a realidade não é fragmentada.

Cada vez mais a mídia tem tratado do meio ambiente. Mas, em muitos casos, o faz de forma alarmista, impondo o medo em relação ao futuro. Essa é a melhor maneira de informar as pessoas sobre as questões do meio ambiente?
Sensacionalismo não combina com credibilidade. Um dos assuntos fundamentais na minha profissão é a calibragem que precisa existir entre como reportar a crise sem esvaziar a perspectiva da mudança. As pessoas precisam se sentir não apenas como parte do problema, mas também como parte da solução. Como você salientou, há um risco de causar uma prostração nas pessoas, pois elas acabam desestimuladas em relação ao futuro. Quando você perde a esperança, você perde tudo. Isso é muito sério porque o jornalismo não pode ser pensado apenas em termos lógicos e racionais. O jornalismo tem uma dimensão emocional, a qual é pouco trabalhada. Uma das questões que precisam ser refletidas no jornalismo no século XXI é justamente o cuidado com a forma como se reportam certos assuntos. É preciso ter a ética do cuidado. Quanto mais sensacionalista for uma mídia na cobertura dos assuntos ambientais, menos credibilidade ela tem. O recurso do jornalismo pobre é a apelação. O desafio que está colocado para o profissional de comunicação é ser claro o suficiente para demonstrar para as pessoas o senso de urgência, mostrar que não basta mudar, tem que mudar rápido.

Nos debates sobre o meio ambiente existe, em muitos momentos, uma polarização entre o homem e a natureza. Passar a perceber o homem como parte da natureza é um dos desafios atuais?
Temos que entender o universo como um conjunto de fenômenos interligados, interdependentes e que interagem o tempo todo. O homem nunca se separou do meio ambiente e essa é uma ilusão que alcançou significado e projeção a partir do desenvolvimento científico. A ciência é uma ferramenta muito importante de percepção da realidade. Mas a metodologia científica, a forma de explicar a vida e o universo nos projetou numa direção equivocada. A humanidade não pode se perceber dissociada do meio em que está inserida. O preço que se paga por essa falsa dualidade é enorme. Não podemos colocar meio ambiente e desenvolvimento em lados opostos. Quando falamos de mundo sustentável, estamos falando de novos valores, de uma nova cultura. É um novo olhar sobre o meio que nos cerca. Por exemplo, o lixo que você produz em casa não é assunto da prefeitura somente. É assunto teu! E a Política Nacional de Resíduos Sólidos, recém aprovada depois de tramitar 20 anos no Congresso, estabeleceu a verdade. Lixo não é assunto só de quem tem o ônus de coletar os resíduos na rua. É assunto de quem gera e de quem fabrica. Ou seja, responsabilidades compartilhadas. Essa é uma visão moderna. Eu diria que hoje estamos melhores do que já estivemos, mas ainda tem muitos degraus para subir.

O caráter econômico parece sempre ser o norte principal das ações políticas e empresariais. É possível buscar o desenvolvimento sustentável sem que ocorram perdas econômicas?
Não sei e não sei se alguém sabe. Nós estamos testando o desenvolvimento sustentável. Isso significa que estamos tentando conjugar diversos interesses em uma mesma bússola que aponta a mesma direção. O desenvolvimento sustentável é aquele que atende ao interesse econômico, é socialmente responsável e tem harmonia na relação com o meio natural. Nós estamos experimentando isso. Agora, se esse é o único caminho, eu não sei. Eu tenho muito interesse em acompanhar debates que não usam apenas o desenvolvimento sustentável como única saída, mas que falam, por exemplo, de retirada sustentável, de decrescimento. Teoricamente, é possível explicar que o crescimento da economia nem sempre gera benefício social e ambiental. Então, nem sempre o crescimento deveria ser a meta, por mais surpreendente que isso possa parecer. Essa perseguição implacável do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) tem sido muito criticada. É um momento muito interessante que estamos testemunhando. Até aqui, o desenvolvimento sustentável soa como a ideia mais inspirada. Mas, daí afirmar categoricamente que essa é a solução, eu não tenho motivos para endossar isso. É preciso ter muita humildade para reconhecermos que não houve tempo suficiente para saber qual a melhor maneira de promover a mudança.

O senhor é autor do livro “Espiritismo e Ecologia”. Trabalhar juntos o lado espiritual e o meio ambiente é uma proposta bastante interessante.
Todas as grandes tradições religiosas se preocupam em explicar essa crise. No site do Dalai Lama, o assunto que mais reúne textos é justamente a sustentabilidade. Há dois anos, o Papa Bento XVI elevou à categoria de pecado o dano ambiental. O tema da Campanha da Fraternidade dos católicos deste ano é “florestas”, em sintonia com a ONU que elegeu este o Ano Internacional das Florestas. Aqui no Brasil, as religiões afro-brasileiras dependem de recursos da natureza para sobreviverem. Por sua vez, a forma como se estruturou o espiritismo de Allan Kardec 150 anos atrás tem várias questões muito modernas no sentido de defender pontos de vista que são caros aos ecologistas e ambientalistas. Existe toda uma teologia ambiental que diversas tradições estão construindo ou ajustando. As informações já estão nas escrituras ou nos textos referenciais dessas doutrinas. Só que rabinos, padres, pastores, pensadores espíritas, lideranças budistas estão oxigenando esses textos de forma a emprestar sentido para um novo contexto. Eu sou espírita e tive muito prazer em tentar identificar esses elementos comuns entre a doutrina espírita e o pensamento ecológico.

Buscar a mudança do atual modo de vida é o grande desafio da humanidade no século XXI?
A mudança virá e isso já está acontecendo em escala global. Para mim não faz sentido acreditar em outra tese que não a da mudança inevitável. Pelo menos estamos percebendo um cuidado em não replicar o nível de destruição da natureza que a gente vem testemunhando desde o pós-Guerra. Esse discurso “desenvolvimentista” dissociado da sustentabilidade caducou no século passado. A mudança de cultura está sendo muito bem semeada e isso vai eclodir de forma irreversível. Se isso vai levar 50 ou 100 anos faz muita diferença. Nem nossos avós e nem nossos pais se depararam com a situação que estamos vivendo hoje no seguinte sentido. As decisões que tomarmos coletivamente nos próximos anos será absolutamente determinante na qualidade de vida das gerações futuras. A pergunta é: quanto tempo levaremos, e não temos muito tempo é bom frisar, para que coletivamente a escolha que a nossa civilização faz seja na direção certa? A direção certa é a que repensar os valores da sociedade de consumo, que não apregoa a opulência como condição do sucesso, que estabelece critérios no uso dos recursos naturais.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um estranho no ninho


Fim de semana passado, por acaso acabei ouvindo, depois de muito tempo, “Tijolo na Vidraça”, uma coletânea de três CDs que reúnem 29 canções do cantor Marcelo Nova, tanto em carreira solo como frente à banda Camisa de Vênus. Pensei: “caramba, não se fazem mais bandas de rock como antigamente!”.

Baiano hoje quase sessentão, sempre teve uma carreira polêmica, o que lhe impediu de ter uma projeção maior na música nacional. Pra ajudar a sua fama de mau, foi parceiro de Raul Seixas, com quem fez shows e dividiu a gravação do último disco do ex-parceiro de Paulo Coelho, “A Panela do Diabo” (1989).

Embora tenha se tornado conhecido com o Camisa de Vênus na mesma época em que o rock brasileiro teve seu auge comercial nos anos 80 (quando surgiram bandas como Barão Vermelho, Blitz, Titãs, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Havaí e afins), Marcelo Nova nunca se sentiu muito parte dessa turma. Foi e ainda é um estranho no ninho.

Formado em Salvador em 1980, o Camisa de Vênus tinha como objetivo maior esculhambar a cultura oficial de que "a Bahia é liiiinndaaa”, colorida. A banda cuspia na cara dos turistas o mundo underground baiano que fica escondido atrás de tanto axé, fitinhas do Senhor do Bonfim e trios elétricos. Logo nas primeiras apresentações o grupo atraiu o interesse da molecada de Salvador e provocou indignação dos conservadores que, com a boca cheia de acarajé, vociferavam toda a sua fúria contra músicas como "Meu Primo Zé", "Controle Total" e "Bete Morreu".

Tamanha polêmica extrapolou os limites da Bahia e a banda se mandou pra São Paulo lançar um disco por uma gravadora independente. Em meio às gravações, a Som Livre, pertencente à Rede Globo, interessou-se pela banda e arrastou o Camisa de Vênus para debaixo de suas asas. O único porém era quanto ao nome do grupo – afinal, em 1983, ninguém ousava falar abertamente sobre o nome e sobrenome das populares camisinhas de hoje. Acreditando que o nome Camisa de Vênus traria problemas junto à censura da época, a Som Livre insinuou uma mudança. Como proposta, Marcelo Nova retrucou, em tom de deboche, que o grupo então iria se chamar Capa de Pica. A resposta da gravadora veio duas horas depois: o Camisa de Vênus estava no olho da rua.

Entre polêmicas aqui e ali, problemas com a censura e discos retirados das lojas pela Polícia Federal, o negócio é que o Camisa de Vênus estreou com um álbum homônimo pela RGE [gravadora menor, também ligada ao grupo da Rede Globo!] em 1983. Alcançou o sucesso dois anos depois, com o segundo disco, Batalhões de Estranhos. Atingiu o auge em 1986 e lançou um álbum ao vivo, chamado Viva. Passou para a multinacional Warner e lançou em dois anos outros dois álbuns, entre eles o duplo Duplo Sentido. Logo depois, encerrou suas atividades. Já em 1994, a banda promoveu um retorno com o lançamento do ao vivo Plugado e, em 1996, reapareceu com novas músicas em Quem É Você?. Não tardou a sumir, para ressurgir mais uma vez no início de 2004, sem dois integrantes originais, para a gravação deste DVD ao vivo.

A justificativa da banda para o projeto do DVD convenceu. Afinal, era inadmissível que um dos mais autênticos representantes do rock nacional não tivesse um registro próprio em vídeo, enquanto muitas bandas medíocres de hoje – e com poucos meses na estrada – já contam seus DVDs, que para ter o espaço preenchido precisam de remixes, releituras e o escambau. O Camisa de Vênus poderia ainda na época optar por um Acústico MTV, mas isso não faria justiça à sua história. O negócio tinha que ser mesmo “ao vivo” e “elétrico”, com os amplificadores no volume máximo.

E o show não poderia ser mais simbólico. Não bastasse o lançamento do DVD estar nas mãos da mesma gravadora que renegara a banda lá no seu início, o vídeo foi gravado no palco do Festival de Verão de Salvador em 2004 [na própria "cidade do axé, na cidade do pavor" como registrado na música "Controle Total"], em meio a grupos de pagode, samba e pop medíocre.

Quem viu o grupo em ação sabe que o Camisa de Vênus ao vivo é uma máquina de triturar ouvidos. Tive a sorte de ver o grupo ao vivo em Toledo (!!!) no comecinho de 1997. Umas das três melhores horas de rock que já ouvi na vida. Em 2005, assisti também outro show de Marcelo Nova em Cascavel, em 2005. Tá certo, o show foi chato, o lugar e o público mauricinho não ajudavam. Na oportunidade também entrevistei o cantor. Procurei a entrevista para postar junto com este texto, mas ela se perdeu por aí, infelizmente. Ah, também pedi pra ele autografar o seu primeiro LP da carreira solo, pra surpresa dele: “onde você conseguiu isso rapaz!?”.

Hoje Marcelo Nova continua por aí, lançando discos que só seus fãs mais fervorosos se interessam em ouvir. Suas músicas, com exceção dos antigos sucessos, não fazem parte da programação das rádios. Mas o músico segue em frente, fazendo seus shows e dando muitas entrevistas. Quer polêmica? Declarações bombásticas? Comentários ácidos? Liga pro Marcelo que ele solta a língua! Hoje, tirando o Lobão, não sei se existe outro artista renomado da música que seja tão autêntico quanto ele.

Veja aí o que ele disse pro jornalista Vladimir Cunha, em entrevista em 2008 para a MTV: “Aí não… emo é foda. Esse negócio de emo me torra a porra do saco. Pega essas bandinhas aí… tudo com aquele cabelinho, aquele… aquele sebo no cabelo, aquela seborréia... ‘Levei um chifre’, ‘ai meu cu’, ‘ai não sei o quê’… Porra, isso não é rock, meu filho. Isso é uma porra de SERTANEJO DISFARÇADO. PUTAQUEOPARIU!”.

O Brasil geralmente é injusto com quem tem algo a dizer. Mas acho que Marcelo Nova não liga muito pra isso não. Deve seguir a máxima anárquica que ele mesmo ensinou pra todo mundo num clássico do Camisa de Vênus:

“Se você não ganhou nada, não tem nada pra perder. Então bota pra fudê!”.

Sábio Marcelo...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Vida: a biografia de Keith Richards


Como se estivesse em uma longa, mas agradável e divertida conversa de boteco com um dos maiores rock stars de todos os tempos. É assim que a gente se sente lendo “Vida” – a autobiografia de Keith Richards, o famoso guitarrista dos Rolling Stones. Lançada no finalzinho de 2010 no Brasil, o livro (com mais de 600 páginas) já é um dos atuais campeões de venda. E não é para menos, afinal, o músico é uma das personalidades mais icônicas do mundo artístico do século XX. Bom, nem sei porque eu estou apresentando o cara... Afinal, estamos falando de Keith Richards!

Beirando os 70 anos, mas com um corpinho de 130, Keith Richards é um sobrevivente do rock and roll. De garoto pobre que odiava a escola, encontrou na música a sua razão de viver. Da linhagem dos blueseiros iniciada por Robert Johnson na década de 1920, o guitarrista dos Stones absorveu e aprimorou ao longo de sua carreira uma gama enorme de estilos que vão do country ao rock and roll da década de 50, passando pelo reggae e até mesmo pela disco music. Toda essa trajetória de sua formação músical é claro que é contada em “Vida”, que o guitarrista escreveu em parceria com o jornalista James Fox.

Mas, o que a gente quer saber mesmo é das festas, das prisões, dos vícios, das brigas com o parceiro Mick Jagger e dos fatos que estiveram atrás das gravações dos discos clássicos dos Rolling Stones. A gente quer saber é como Keith Richards trasformou a sua vida num inferno na década de 70 e conseguiu se safar, ao contrário de muitos dos amigos deles que ficaram no meio do caminho ao se aventurarem na brincadeira perigosa que é viver intensamente o espírito sexo, drogas e rock and roll. E Keith Richards não esconde nada, no máximo, dá a sua versão dos fatos...

Com a autoridade que a sua carreira lhe confere, no livro Keith Richards dá algumas dicas que podem ser bem úteis, tanto para uma dona de casa como para quem sonha em se tornar uma estrela de rock. Para estes, o guitarrista afirma que em primeiro lugar é preciso se dedicar muito, buscar aprender sempre as infinitas possibilidades de um instrumento, tocar sempre por prazer em primeiro lugar e, se tiver um pouco de talento e muita, mas muita sorte, quem sabe um dia pode virar uma estrela.

Para quem quer ser malaco ou bandido, o recado é o seguinte: um revólver você usa quando realmente está falando sério. Já uma faca você deve usar apenas para distrair seu oponente, que vai estar preocupado com a lâmina enquanto você está chutando as bolas dele.

Quer ser um drogado? Bom, o melhor é: não entre nessa achando que poderá sair quando quiser. Mas, se mesmo assim insistir, nunca compre drogas das ruas. Vá atrás das melhores. É devido ao fato de ter os melhores fornecedores que Keith Richards credita o fato de ainda estar vivo. As drogas mais poderosas? Heroína e crack. Melhor não brincar com elas...

Foi preso? Para se safar você precisa de duas coisas: seja amigo de pessoas importantes e influentes e, principalmente, tenha muita grana. Foi assim que ele acabou escampando da cadeia tantas vezes...

Tá a fim de matar a fome? Keith Richards dá a receita do seu prato favorito. Purê de batatas com linguiça frita. O segredo é iniciar a fritura da linguiça com a frigideira fria! E mais, do manual de sobrevivência de Keith Richards ainda vem essa outra dica. Para manter a forma, coma sempre que tiver fome. Não caia nessa de se alimentar apenas três vezes ao dia. O ideal é fazer pequenas refeições durante o dia, o que facilita a digestão e ainda ajuda manter a forma!

Está vendo, “Vida” é um livro pra todo mundo. Cabe a cada um tirar suas lições dos ensinamentos de Keith Richards. Ah, é claro que ele ainda fala de dois assuntos polêmicos. Um deles é a lenda de que certa vez ele trocou todo o sangue do seu corpo todo envenenado por drogas por sangue novinho em folha. Outro é o oba-oba que saiu na imprensa há quatro ou cinco anos, quando o guitarrista disse que cheirou as cinzas do próprio pai. Mas isso eu não revelo. Quer saber? Leia o livro.

E já que estamos falando dos Rolling Stones, vale a pena conferir o documentário “Stones In Exile”, lançado também em 2010 e que conta a história da gravação do álbum “Exile in the Main Street”: o melhor álbum do grupo, gravado de forma caótica na mansão de Keith Richards na França em 1972. Um vídeo não apenas recomendável, mas obrigatório!