quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Demonstração vulgar de força: biografia revela bastidores do Pantera

 

Lá nos meus tempos de adolescente no início dos anos 90, para a minha turma de amigos música boa era rock e, quase sempre, quanto mais pesado e rápido fosse tocado, melhor era. E naquela época, para nós nada era mais rápido e pesado do que Sepultura, Ministry e Pantera.  Como dizíamos então, essas bandas eram “ANIMAAAAAL”!!!

Especificamente em 1994, para nós e o mundo todo, nada era mais “ANIMAAAAAL” do que o Pantera, que estava no ponto mais alto da carreira quando o seu disco “Far Beyond Driven” foi lançado e imediatamente chegou ao primeiro lugar da parada da Billboard. Talvez, o disco de rock mais pesado a ter atingido aquela posição em toda a história.

Dez anos depois, exatamente em 08 de dezembro de 2004, o Pantera chegava traumaticamente ao fim. Naquela noite, o guitarrista Dimebag Darrel, durante o show de sua outra banda Damageplan, na cidade de Columbus (Ohio/EUA) foi assassinado a tiros no palco por um fã maluco. Para os fãs, até então era questão de tempo para que o grupo voltasse às atividades após as brigas internas que forçaram uma pausa na banda em 2002.  Mas, com a morte do guitarrista, foi passada a régua e fechada a conta do Pantera.

Foi-se a banda, mas ficou a história, a qual é contada no livro “Verdade oficial: nos bastidores do Pantera”, escrito pelo baixista Rex Brown e publicado originalmente em 2013. Agora, recém-lançado no país pela editora Edições Ideal, os fãs brasileiros têm a chance de conhecer melhor como era o tumultuado universo daquela que foi uma das maiores bandas de metal de todos os tempos. Coescrito pelo jornalista inglês Mark Eglinton, para ajudar a revelar os tais bastidores do Pantera, o livro ainda traz depoimentos de ex-namoradas, esposas, amigos, ex-empresários e muito mais gente que esteve no meio daquela zorra toda.

Para começo de conversa, a história do Pantera é tão absurda quanto o trágico fim. A banda foi formada nos Estados Unidos, na cidade texana de Arlington, pelos irmãos Dimebag Darrell (guitarra) e Vinnie Paul (bateria), e por Rex Brown (baixista) e Terry Glaze (vocalista). Com essa formação a banda lançou três discos que não deram em nada. E também não havia como ser diferente porque a banda era ruim em todos os sentidos.

A qualidade das gravações, assim como das músicas, era terrível. O vocalista era uma piada. As tentativas de copiar Van Halen e outras bandas do gênero eram vergonhosas. Some a isso o visual típico dos grupos de metal dos anos 80 com suas calças de lycra e os cabelos com permanente de três metros de altura para dizer que, com certeza, o Pantera não iria para outro lugar a não ser o encantado mundo do fracasso.


A reviravolta começou a acontecer quando a banda trocou o vocalista original por Phil Anselmo. Depois de gravar mais um disco-fiasco com a nova formação, a transformação veio em 1990 com o lançamento de “Cowboys From Hell”. Antes uma banda farofenta, o Pantera renasceu transformado em uma máquina de moer ouvidos que se tornou cada vez mais pesada, famosa e milionária. Depois desse, vieram “Vulgar Display of Power” (1992), “Far Beyond Driven” (1994), “The Great Southern Trendkill” (1996), o ao vivo "Official Live: 101 Proof" (1997) e o derradeiro “Reiventing the Steel” (2000).

Contando assim até parece que tudo foi lindo na vida do Pantera. Só que não. Como é típico nas histórias de banda de rock, junto ao sucesso iniciou a decadência dos músicos. Farras com garotas, bebedeiras antológicas, montanhas de drogas, brigas, separação e, finalmente, o assassinato do guitarrista por um fã.

Em sua biografia sobre o Pantera, Rex Brown traz a sua versão para a trajetória turbulenta da banda. E dá para dizer que tem tudo o que a gente procura ao ler um livro sobre grupos de rock: baixaria, putaria, escândalos e os ex-colegas falando um mal do outro. E Rex Brown não esconde os vícios, problemas e burradas de ninguém, inclusive as dele.

Mas também tem a parte séria da história. O baixista argumenta que a grande sacada do Pantera foi perceber que o rock estava se transformando no final dos anos 80: “A música pesada estava mudando em 1989. Parecia que havia esse tipo diferente de som surgindo no horizonte e que em breve seria rotulado como alternativo: o primeiro disco do Jane’s Addiction, Faith no More, Voivod e Soundgarden – todas essas bandas lançaram discos poderosos. Então, absorvemos essas influências com o que o Metallica havia feito, e criamos o nosso próprio som”.


Com essa mudança de estilo, que incluiu o visual da banda (que por acaso passou a ser muito semelhante com a moda grunge dos grupos de Seattle no início dos anos 90), o Pantera tocava fácil nos toca-discos das mais diversas tribos do rock. Metaleiros, punks, alternativos... Todo mundo curtia numa boa os caras, talvez com exceção das garotas fãs do Bon Jovi.

Independente das fãs do Bon Jovi gostarem ou não, não demorou para os “quatro garotos burros do Texas” (na definição do próprio Rex Brown) caírem em longas turnês pelos Estados Unidos e Europa, com esticadas também para outras partes do mundo, inclusive ao Brasil. Realizaram ainda o sonho da adolescência de tocar com os ídolos do Black Sabbath, Judas Priest, Kiss e tantos outros.

Porém, os sinais de decadência do Pantera surgiram e tornaram-se públicos com a overdose de heroína sofrida por Phil Anselmo em 1996. Daí pra diante, embora mantivesse a quantidade e a qualidade dos shows, as fissuras na estrutura do grupo cresceram tanto até que a casa toda veio abaixo. “Era tudo uma babaquice do caralho”, decreta Rex Brown, explicando porque o Pantera suspendeu suas atividades em 2002. Divididos, na época Rex e Phil Anselmo estavam tocando juntos na nova banda Down e os irmãos Dimebag e Vinnie Paul haviam formado o Damageplan, sendo que em um show destas ocorreu a tragédia. Com o guitarrista morto, o Pantera morreu também.

Éimpressionante o quanto as biografias dos rock stars se parecem. Geralmente é o roteiro da infância pobre, o começo difícil da carreira e a conquista do sucesso. Depois disso, a queda no inferno de onde nem todos conseguem voltar. A história do Pantera, nesse sentido, é igual a de tantas outras bandas. Rex Brown, que também esteve perto de abraçar o capeta algumas vezes, foi um desses que conseguiu voltar. E se você é do rock, tenho certeza que vai gostar da história que ele tem para te contar.


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