sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Disparos do Front da Cultura Pop


Tony Parsons (o sujeito aí da foto) é um cara invejável. Nascido em Londres em 1953, abandonou a escola aos 16 anos para trabalhar numa destilaria de gim e hoje é um renomado autor de romances, cujos direitos para o cinema despertam o interesse de gente como Julia Roberts. Mas o que causa admiração - ou inveja, mesmo - não é o fato de que seus livros façam brilhar os olhos das estrelas de Hollywood, e sim, o seu currículo como jornalista que estreou na profissão aos 23 anos saindo do nada e caindo direto na redação da New Musical Express (NME). Isso foi em 1976 e hoje, quase 30 anos depois, Tony Parsons pode se orgulhar de ser um dos comentaristas mais polêmicos da Inglaterra, tendo espalhado seus ácidos comentários e reportagens sobre os mais variados temas em publicações como Arena, Elle, Daily Telegraph e The Guardian.

Um bom apanhado de sua produção na área do jornalismo está no livro "Disparos do Front da Cultura Pop", que a Editora Barracuda lançou no mercado brasileiro em 2005com tradução de Alyne Azuma. A coletânea de 55 textos, que cobre seus primeiros 18 anos de carreira, foi publicada originalmente em 1994. Ela está dividida entre os temas "Música", "Amor e Sexo", "Polêmica", "Viagens" e "Cultura". Ao todo, são mais de 350 páginas que, de tão ácidas, chegam a corroer os olhos do leitor.

Escola punk

Esse cinismo e o gosto pela provocação podem até ter vindo do berço, mas com certeza foram aprimorados nos tempos em que ele trabalhou para a NME cobrindo o surgimento do movimento punk londrino. Tony Parsons apanhou junto com os Sex Pistols após a banda dar o seu polêmico passeio de barco pelo Rio Tâmisa no Jubileu da rainha Elizabeth em junho de 1977; teve a honra de ser convidado por Joe Strummer para assumir as baquetas do The Clash; e desmascarou Billy Idol e o Generation X (um bando de "desmiolados se comparados ao Sex Pistols"). Tudo isso e muito mais nos seus tempos de NME, uma revista que "tomava conta da sua vida porque literalmente não se precisava de mais nada" e onde se conseguia "bebidas pesadas, mulheres delicadas, sexo esquisito, bebidas exóticas, um soco na boca, tudo - sem nem ao menos sair da redação".

Mas, por mais absurdo que pareça, depois de três anos Tony Parsons simplesmente cansou de tudo isso e no final da década de 70 foi atrás de novas histórias. É claro que ainda dedicou muitas linhas à música. Perguntou para George Michael se era verdade que ele era um cretino arrogante; descobriu que, assim como David Bowie, a sua narina direita também ficou praticamente inútil após aspirar quilômetros de cocaína; e ainda jogou muitas fichas e perdeu a aposta de que Brett Anderson (do Suede) seria o maior nome do rock dos anos 90, deixando para trás Kurt Cobain, a quem se refere apenas como "um rico fazendo tudo errado" em texto sobre o suicídio do líder do Nirvana. Perto das suas impressões sobre bateristas ("tradicionalmente os idiotas de qualquer grupo") e Kylie Minogue ("um copo de leite semi-desnatado"), até que a definição de Tony Parsons sobre Kurt Cobain parece um elogio.

Só que não é só no reino dos cabeludos e drogados do rock que Tony Parsons mostra ser alguém de profundo talento para transformar seus pensamentos em textos sempre prontos para aumentar um pouco mais a venda de jornais e revistas. "Ninguém ama a classe média", decreta o jornalista, para logo depois chutar a bunda dos mendigos ao revelar que não acredita "que as pessoas pedindo esmola sejam as mais azaradas do mundo. Eles são simplesmente pessoas com menos orgulho, dignidade, auto-estima - todos os valores intangíveis que sustentam o espírito humano". Não espere comiseração desse jornalista que ainda é capaz de escrever com o mesmo entusiasmo sobre a decadência da União Soviética, o retorno das torcidas inglesas aos campos de futebol e o quanto é desagradável ter uma mulher alcoolizada ao seu lado: "ficar bêbado é como ter um bigode. Fica bem num homem e horrível numa mulher".

Homens dos jornais

O autor recorda no livro que "antes de entrar para o NME eu achava que o mercado fonográfico seria um ciclo eterno de descobrir bandas novas e geniais, compartilhar os ritos de gratificação promíscua com rock star e viajar para os EUA. Quando entrei no NME, descobri que era exatamente assim que as coisas funcionavam". É, Tony Parsons. Você é um cara de sorte, do mesmo tipo de Cameron Crowe que aos 15 anos recebeu uma máquina fotográfica, uma caneta e uma caderneta junto com a missão de cobrir uma turnê do Led Zeppelin para a revista Rolling Stone. Poderia ter escolhido ser o baterista - o idiota de qualquer grupo, lembra? - do The Clash, mas preferiu viver "a fantasia de homem dos jornais" ao lado de "repórteres bêbados" como na Chicago de 1928. E essa fantasia está aí para ser partilhada, disparada direto do front da cultura pop.

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