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É engraçado pensar que este é o primeiro disco solo do
Humberto Gessinger quando lembramos que após 1994, com o fim da formação
clássica do grupo (com Carlos Maltz na bateria e Augusto Licks na guitarra),
tudo o que levou o nome de Engenheiros do Havaii foi um esforço único do cantor.
Houve ainda o projeto “Humberto Gessinger Trio”, que lançou ótimo disco
homônimo em 1996. Depois, com o fim dos Engenheiros do Havaii em 2008, ele
encarou uma parceria que com o músico Duca Leindecker, que rendeu dois discos
sob o nome de Pouca Vogal.
Mas foi apenas com “Insular” que Humberto decidiu se assumir
solo. E o disco é um projeto tão individual que a maioria das canções é sobre
ele mesmo. Cantado não mais pela mais ótica de quem percorre uma infinita
highway a “110, 120, 160, só pra ver até quando o motor aguenta”. Mas agora
como um homem de meia idade que aprendeu que o segredo é ir sem pressa e pra
sempre.
Ou como um cara que vê a própria imagem no espelho e se assusta
com as marcas da velhice que se aproxima, mas que nem por isso sofre com a
síndrome de Dorian Gray. Pelo contrário, Humberto Gessinger em “Insular” é um
artista que despido de ego reflete sobre seu passado, mas olha para o futuro.
“Não tá morto quem peleia, tchê! Game over ainda não”, aconselha ele na faixa
“Recarga”.
O Engenheiros do Havaii sempre foi um estranho no ninho. No
auge do rock nacional na década de 80 e no início dos anos 90, quando
predominavam as bandas do eixo Rio-São Paulo e a Legião Urbana de Brasília, lá
de Porto Alegre a banda chamava a atenção do país. O Engenheiros do Havaii
também apanhou horrores da crítica especializada. Tornou-se clássica a capa da
revista Bizz, que estampou Humberto Gessinger na sua edição dedicada aos
melhores do ano de 1990 com a manchete: “Os leitores consagram o Engenheiros.
Já os críticos...”.
Fato é que Humberto Gessinger fica à vontade estando à
margem. “Eu me sinto um estrangeiro” cantava ele no clássico “A Revolta dos
Dândis I” em 1987. Já em faixa do disco “Várias Variáveis”, de 1991,
confessava: “Ando só, pois só eu sei pra onde ir”. Referências sobre essa
sensação de isolamento ou de não pertencer a nenhuma panela não faltam em sua
obra. Sendo “Insular” um disco tão pessoal, não seria agora que essa
característica seria deixada de lado.
“Fica pra outra hora ser alguém importante. Se o que importa
não importa, não dá nada ser irrelevante”, canta Humberto Gessinger na faixa
“Tchau Radar, a Canção”. Há que se considerar ainda o próprio título do disco,
“Insular”: palavra que enquanto adjetivo significa algo relativo ou pertencente
a ilha; ou que se entendida como verbo se refere à ação de afastar-se do
convívio social.
Nestes tempos de superexposição nas mídias sociais e de fama
a qualquer preço, em “Insular” o músico dá o seu recado. Prefere ser o exército
de um homem só. O azar dele é que, com um álbum tão marcante, a última coisa
que Humberto Gessinger consegue é passar despercebido, ficar alheio, longe da
multidão.
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