terça-feira, 6 de agosto de 2013

Carter e o Diabo



 

Carter, que agora tinha maquinado um plano completo, olhou fixo por sobre o ombro de Houdini. Houdini virou-se e viu que ele olhava para o leão, o qual como se satisfeito com o espancamento de Mysterioso, estava tranquilo, a ponta da língua para fora, as patas entre as grades da jaula. Houdini olhou para o palco. De novo para o leão. Olhou para Carter, que olhava para os acessórios deixados no palco com um interesse de proprietário, e Carter pensou alto:
- Faça-me a atração principal. Que eu faça o trabalho para o qual nasci.

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Um livro com um título bacana, uma sinopse atraente, uma bela capa, lançado por uma editora respeitável e que estava à venda por apenas R$ 4,90 dias atrás em uma grande livraria em Curitiba. Foi assim, como num passe de mágica, que tomei conhecimento da obra “Carter e o Diabo”, livro de estreia do escritor estadunidense Glen David Gold lançado em 2002 e que ganhou uma edição brasileira em 2004 pela Editora Record.

Reunindo personagens reais em situações fictícias, a história se desenrola quase toda na cidade de São Francisco (EUA), na década de 1920. O Carter do título do livro é Charles Joseph Carter, também conhecido como “Carter, o Grande”. Nascido em 1874 e morto em 1936, ele é considerado um dos maiores mágicos dos Estados Unidos à época. 

O verdadeiro mágico Charles Carter (1874-1936)

No livro de Gold, Carter é suspeito de ter assassinado o presidente Warren Gamaliel Harding poucas horas depois deste ter participado de um número arriscado do espetáculo do mágico. Na vida real, Harding morreu em condições misteriosas em 02 de agosto de 1923, no hotel onde estava hospedado na cidade de São Francisco.

Suspeito do crime, a trama principal do romance desenvolve-se com o mágico sendo perseguido por agentes federais, entre eles o atrapalhado Jack Griffin. As escapadas de Carter diante da lei são tão misteriosas quanto àquelas que ele executa em suas apresentações, o que garante um ritmo frenético de leitura. Carter ainda precisa lidar com um mágico rival, o demente e arrogante Mysterioso!

Presidente dos EUA Warren Gamaliel Harding morreu em circunstâncias misteriosas em 1923

O clima de thriller policial, contudo, é interrompido pelos saltos temporais feitos pelo autor, que não deixa de descrever várias fases da vida de Carter, passando pela sua infância e o início de seu envolvimento com os segredos da mágica até os seus anos de formação quando viajou por vários países do mundo apresentando truques que encantaram inclusive vários chefes de Estado. No romance, até mesmo para piratas o mágico teve que atuar!

Além de Carter e do presidente Harding, outros personagens reais desfilam pelo livro. É o caso, entre outros, de Harry Houdini (1874-1926), ilusionista de grande fama nos Estados Unidos por suas fugas “impossíveis” de correntes e algemas, e Max Friz, fundador da BMW. Outro nome importante na história (no livro e na vida real) é Philo Farnsworth, o inventor da televisão.

Philo Farnsworth, inventor da televisão

Com tantos nomes interessantes e descrições pormenorizadas da cidade de São Francisco, mais do que criar um romance policial, Glen David Gold também consegue traçar um painel de uma época marcada por diversas invenções e costumes que ficariam marcados na história do século XX. 

Mas, ao mesmo tempo, também assinala o fim da era dourada dos espetáculos ao vivo de mágica e de outras formas de entretenimento que perdiam cada vez mais espaço para o cinema e, algumas décadas depois, também para a televisão, que se popularizou na década de 1950.

Com uma mistura acertada entre realidade e ficção, “Carter e o Diabo” é uma leitura prazerosa que leva o leitor para um universo onde nem tudo é o que parece ser...

Pôster usado por Charles Carter para divulgar seu espetáculo na década de 1920

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Empolgante e repleto de ação, “Carter e o Diabo” – o título do livro foi tirado de um truque no qual Charles Carter duelava com o capeta para ver quem realizava a melhor mágica – pode virar filme em breve através da Warner Bros., inclusive com Johnny Deep no papel principal.

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