sábado, 12 de maio de 2012
"Ya Know?" mostra o melhor e o pior de Joey Ramone
Após 10 anos de espera, os fãs dos Ramones finalmente podem curtir o tão aguardado segundo álbum solo do vocalista Joey Ramone, morto em 2001. Pela lógica, o disco já deveria ter saído há muito tempo. Porém, brigas intermináveis pelos direitos das gravações se arrastaram por muitos anos. Reza a lenda que Mickey Leigh, irmão do cantor, e o produtor Daniel Rey sabotaram-se mutuamente no duelo pelo comando do projeto.
Verdade ou não, o fato é que “Ya know?”, o nome do disco que tem lançamento previsto para 22 de maio, mas que vazou esta semana na internet, foi todo capitaneado por Mickey Leigh. Para juntar as peças de gravações esparsas registradas sem muito método por Joey Ramone ao longo da sua carreira, foi recrutado o produtor Ed Stasium, que dirigiu ou foi engenheiro de som dos Ramones em discos clássicos como “Road to Ruin” (1978) e “End of the Century” (1980). Além dele, músicos amigos ou fãs de Joey, como Lenny kaye, Joan Jett, Steven Van Zandt, entre outros, também colaboraram com o projeto.
“Ya know?” é bastante diferente de “Don’t Worry About Me”, o primeiro disco solo do cantor – também lançado postumamente, em 2002. Embora não tenha vivido para realizar o sonho de ver o seu primeiro trabalho individual chegar às lojas, Joey teve envolvimento direto com ele. Escreveu as canções a partir do conceito de criar um álbum, dando a unidade necessária para aquele conjunto de canções. Além de musicalmente, liricamente “Don’t Worry About Me” refletia o momento que o cantor vinha passado com o fim dos Ramones após 22 anos de carreira e a luta contra o câncer, que lhe tirou a vida.
Neste novo disco, fica clara a irregularidade que dá uma cara mais de coletânea do que de um álbum para “Ya know?”. Isso transparece claramente na qualidade das 15 “novas” canções. O resultado é que ao ouvir o disco ocorre um estranhamento com o que sai das caixas do som. E a pergunta que surge é: seria desse jeito que Joey gostaria que este disco soasse? Como a grande maioria das canções foram construídas em cima de gravações deixadas inacabadas pelo cantor, muito do que se ouve é o resultado mais das inspirações e suposições de Mickey Leigh e Ed Stasium do que da criatividade Joey Ramone.
Para quem esperava ouvir neste segundo disco solo algo próximo dos Ramones, “Ya Know...” decepciona bastante. É um disco de rock, não de punk ramônico. Aceitando isso e varrendo para debaixo do tapete as expectativas alimentadas por uma década, resta ao fã separar das 15 canções aquilo que é joio e o que é trigo.
O disco abre lindamente com “Rock and Roll Is The Answer”, lançada como single em abril no Record Store Day. Desde já um hino de rock, a faixa é a que mais traz o selo de qualidade JOEY RAMONE. Outras canções que se aproximam bastante disso são “I Couldn’t Sleep”, “What Did I Do to Deserve You” e “Seven Days of Gloom”. São de longe as quatro melhores faixas.
Já canções como “Going Nowhere Fast”, “New York City”, “Eyes of Green”, “Party Line”, “21st Century Girl” e “Cabin Fever” sofrem com a interpretação meio monótona com que Joey as registrou, o que dá um contraste grotesco com o excesso de produção a elas dedicada. Uma compensação, talvez, para salvar as canções.
Também há baladas, que Joey tanto amava. “Make Me Tremble”, demo descartada na época do disco “Mondo Bizarro” dos Ramones, cativa de primeira com seus “la la las”. “Waiting for the Railroad” é broxante. Joey cantando um country rock sobre ele estar esperando um trem no meio do nada para ir para casa não convence ninguém. Já a releitura de “Life’s a Gas”, canção monstruosa do disco de despedida dos Ramones “Adios Amigos!”, fica reduzida a um inseto nessa versão acústica que encerra “Ya Know?”. Por sua vez, “Merry Christmas”, sucesso do álbum “Brain Drain” e que já havia sido lançada como single solo de Joey Ramone, só que toda retrabalhada com arranjos natalinos, é mera curiosidade.
Na sua jornada promocional para promover o disco, Mickey Leigh não cansava dizer que “Ya Know?” era de longe um dos melhores trabalhos feitos por Joey. Não é bem por aí. Tamanha animação dele é compreensível, afinal, foi duro dar vida a essas canções que, de outro modo, ficariam para sempre esquecidas. Mas, daí a pensar que este disco é fantástico é coisa impossível até para o fã mais fanático de Joey e do Ramones.
É um disco importante, claro. Afinal, revela algumas facetas que Joey nunca quis ou não pode mostrar na sua carreira com os Ramones. Importante também por instigar a pensar no que o artista estaria fazendo se ainda estivesse vivo.
“Ya Know?”, assim como todos os demais discos solo dos outros Ramone, confirma a tese de que, sozinhos, eles patinavam com suas incompletudes artísticas. O lado bom disso é que leva os fãs a lembrarem o quanto os Ramones, enquanto uma “família” de malucos reunidos em uma banda, eram definitivamente os fodões do pedaço...
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