segunda-feira, 9 de novembro de 2009

31 Canções


Nick Hornby: ninguém transforma música pop em literatura tão bem quanto ele.

31 Canções

Se o inglês Nick Hornby tivesse se aposentado logo após publicar, em 1995, o seu segundo romance “Alta Fidelidade”, é bem provável que ele sentisse a mesma sensação daquelas pessoas que chegam ao final da vida com o sentimento de dever cumprido. Afinal, ele conseguiu traduzir em palavras tudo aquilo que gente como você e eu sentimos ao ouvir uma nova canção da banda preferida ou uma música obscura de um grupo tão obscuro quanto, seja dirigindo o carro por uma estrada deserta ou na companhia daquela pessoa especial ou refestelado no sofá de casa após um exaustivo dia de trabalho. Com uma linguagem pop, sem espaços para erudições e uma sinceridade cativante, o autor mostrou em “Alta Fidelidade” que ninguém com mais de 25 anos precisa sentir vergonha por consumir discos como se ainda estivesse na adolescência ou vergonha de, ao abrir o jornal, correr os olhos primeiro pelos cadernos de cultura ao invés de buscar as novidades do mundinho da política ou da economia.

Ao invés da aposentadoria, Nick Hornby – que já havia falado sobre a paixão por futebol em “Febre de Bola” – continuou publicando alguns livros que são considerados clássicos da literatura contemporânea, como “Um Grande Garoto” e “Como Ser Lega”l, que também figuraram na lista de best-sellers em vários países. Em comum, os protagonistas destes livros apresentam um tom despojado de levar a vida. E, mesmo que nas entrelinhas, a música pop está lá, ocupando espaços importantes na vida de cada personagem.

Porém, se nas últimas obras a música vinha ocupando um papel periférico, Hornby voltou a escrever sobre um dos seus assuntos prediletos em “31 Canções”, livro de ensaios que ganhou edição nacional caprichada em 2005 pela Editora Rocco. Longe de escrever um apanhado de resenhas, para esta obra o britânico elaborou mais uma de suas famosas listas: agora de 31 canções que, por um motivo ou outro, acompanharam-no de forma especial durante os seus primeiros 45 anos de vida. A partir de cada uma das canções, o escritor parte por caminhos diferentes para discorrer sobre as emoções, sentimentos, lembranças e esperanças que uma boa música pop é capaz de detonar naquelas pessoas que, como ele, desenvolveram um tipo estreito de relacionamento com esta forma de arte.

Uma das primeiras coisas que chamam a atenção na obra é a seleção eclética das canções. O autor não tem receio de escrever sobre a cantora Nelly Furtado com o mesmo entusiasmo que se refere à Patti Smith. Ou de assumir que não tem preferência entre uma versão do cantor Rod Stewart e a original de Bob Dylan. “Hoje em dia é difícil de imaginar, mas adorar Rod Stewart em 1973 era o mesmo que adorar o Oasis em 1994 ou Stone Roses em 1989”, afirma. Provavelmente, este despojamento em reunir canções tão díspares entre si – ou colocar em um mesmo nível músicos que assumiram uma aura quase erudita e aqueles que são a própria expressão daquilo que o pop tem de mais descartável – vem do fato de que, antes de ser um fã de artistas em particular, Nick Hornby é um apaixonado por música em geral.

”31 Canções” tem também momentos polêmicos e que devem desagradar principalmente os leitores mais jovens. Tal qual uma tia velha, o escritor tenta explicar a necessidade que um garoto tem, aos 15 anos, de ouvir rock o mais barulhento possível em detrimento a canções que sejam feitas por músicos sem bigode que costumam comer saladas ao invés de roedores. “Com o barulho, você não tem como errar muito. (...) Para mim, aprender a amar canções mais calmas (...) não tem a ver com ficar mais velho e sim com o fato de adquirir confiança musical”, escreve no capítulo dedicado a “Heartbreaker”, do Led Zeppelin. Por outro lado, para o delírio da garotada, Nick Hornby destrói aquelas pessoas de meia-idade que insistem em dizer que música boa era aquela feita há, no mínimo, 20 anos atrás.

E assim segue o livro, passando por canções de Bruce Springsteen, Beatles, Teenage Fanclub [duas, por sinal], Santana, Badly Drown Boy. E também por Mark Mulcahy, O. V. Wright, Röyksopp, Butch Hancock e Marce LaCouture... Para se interessar pelo livro você não precisa ter mais de 40 anos ou conhecer todas as músicas que foram tema dos ensaios. Não importa se a sua preferência é pelo rock tradicional, pelas complicações do mundinho indie ou pelos hits que entopem a programação das rádios. “31 Canções” é sobre o fato de se gostar de música pop. Se você gosta de verdade, este livro foi escrito para você.

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