quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A nossa Biblioteca Cidadã


Inaugurada há pouco menos de um mês, a Biblioteca Cidadã foi um presente e tanto para o aniversário de Marechal Cândido Rondon. Pequena, mas aconchegante, foi construída ao lado do posto de saúde do bairro São Lucas. A biblioteca foi criada através de parceria entre governo do Estado e prefeitura. Conta com um acervo bem modesto, de cerca de dois mil livros. Mas, em literatura, o que importa é a qualidade e a não a quantidade, não é mesmo?

Livros de literatura que vão de autores clássicos até escritores da nova geração, sejam brasileiros ou estrangeiros; títulos sobre história, política, cinema, música, moda, best-sellers. Está tudo lá, novinho, esperando a visita dos rondonenses. Minha visita ao lugar rendeu: encontrei o livro “Tropicália: uma revolução na cultura brasileira”. Um título que estava ensaiando comprar e que custa a “bagatela” de R$ 140,00. Na biblioteca o empréstimo saiu de graça.

Pergunto para a bibliotecária se o espaço tem sido bem frequentado e ela diz que sim. Minha carteirinha é de número 43: contando desde o dia em que a Biblioteca Cidadã foi inaugurada, dá uma média de dois novos leitores cadastrados por dia. Não chega a ser ruim, mas pode melhorar.

E falando em leitura, a Câmara Brasileira do Livro divulgou dias atrás que o brasileiro está comprando mais livros, motivados, principalmente, pela queda dos preços. Nada muito significativo: uma redução de cerca de 4,5%. Pouco, mas já é alguma coisa. Resultado: no ano passado, comparado com 2009, a venda de livros no Brasil cresceu 13,12%.

Dados da pesquisa indicam ainda que um meio de comercialização que tem crescido bastante é a venda de porta em porta, por catálogo. Por exemplo, a Dona Maria que há tempo vende Avon, enquanto oferece cremes e desodorantes pra sua vizinha Lucinha, agora também aproveita pra incentivá-la a comprar em um mês um livrinho do Dan Brown, no outro mês um livrinho do Paulo Coelho e assim vai.

Só que não adiante discutir. Livro no Brasil é caro e são poucos que têm grana ou disposição de comprar. Daí a importância das bibliotecas públicas, como a recém inaugurada em Marechal Cândido Rondon. Mas de nada adianta construir bibliotecas se as pessoas não tiverem o prazer da leitura. Daí a importância dos pais e professores estimularem a paixão pelos livros. Mas nada de enfiar livros goela abaixo da molecada, ainda mais se forem xaropices do José de Alencar. Obrigar adolescente a ler “Iracema” e “Senhora” é matar a vontade de qualquer um de ler para o resto da vida!

Acredito que é negócio é apresentar livros bacanas de autores que entrem em sintonia com as ideias da molecada de hoje em dia. Funcionou comigo, talvez funcione com os outros também. Despertados para o prazer da leitura, terão o resto da vida para entender e apreciar um Machado de Assis da vida. Também tem que cativar pelo exemplo e sem aquele papo chato de que ler é importante pra aprender mais sobre o mundo, pra escrever melhor e bla blá blá.

O amor pela leitura surge quando ela é descompromissada, sem outro objetivo maior do que o puro prazer proporcionado pela companhia de um livro. A literatura basta por si só.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Orgasmo Carlos: Viagra, sexo e rock and roll


O poder do Viagra não tem limites. Praticamente qualquer homem agora anda de cabeça em pé, sem essa de andar cabisbaixo por causa da impotência. E a bendita pílula azul tem dado novo fôlego também em outras áreas. Só isso explica a disposição do tremendão Erasmo Carlos, que aos 70 anos está prestes a lançar um disco totalmente dedicado aos prazeres da carne. Sacanagem pura da capa (imagem acima) até o último verso do álbum. É o legítimo Viagra, sexo e rock and roll!

“Sexo”, o novo disco do Orgasmo Carlos, digo, Erasmo Carlos, chega às lojas e na internet nos próximos dias. E pelo que deu pra ouvir de algumas canções previamente disponibilizadas, periga do Tremendão da terceira idade, quem diria, ter feito um dos melhores discos de rock dos últimos tempos no Brasil.

Aliás, de um tempinho pra cá, Erasmo Carlos tem sido resgatado do limbo pela geração mais nova da música brasileira, corrigindo uma injustiça tremenda contra um dos maiores cantores do país. Parceiro de longa data de Roberto, Erasmo sempre foi o Carlos menos famoso dos dois. Embora já durante a Jovem Guarda muitos acreditassem que o Tremendão possuía qualidades bem mais interessantes do que o brasa Roberto Carlos. Se for comparar no estágio atual da carreira dos dois, certamente o é.

Para fazer “Sexo” – o disco, e não o ato físico em si -, Erasmo cercou-se de bambas como Arnaldo Antunes, Nelson Motta, Adriana Calcanhoto e Chico Amaral, com quem assina algumas músicas. E o resultado dessa suruba criativa é um disco que “traz a alegria das transas loucas (...) nas mais impossíveis posições (...) para levantar os espíritos e sacudir as libidos”, como descreveu a escritora Fernanda Young no release assinado por ela. Para Fernanda, “Sexo com Erasmo é doce, divertido e apaixonante. Eu não fiz, mas ouvi. E como é bom escutar um homem tratar de sexo assim, sem pudor porém com ternura, sem medo de se expor porém delicadamente”.

Frontal, de pé, por trás ou de lado
A hidra às voltas com o dragão
Tesoura, fechadura ou de quatro
Em que posição?
Coqueirinho ajoelhado
Trapézio ou carrinho de mão
Gangorra de cabeça pra baixo
Em que posição?
Ficamos de mãos dadas no improvável caranguejo
Mas foi com a chave de ouro que o namoro começou
No 69 a gente deu nosso primeiro beijo
O que faremos hoje com nosso desejo?
Onde colocar o amor?
O enroscado da trepadeira
Picada de escorpião
Guindaste, tartaruga ou vaqueira
Em que posição?
Fênix na caverna vermelha
Noventa graus de conexão
Carrossel ou chão de estrelas
Em que posição?
Já experimentamos quase o Kama Sutra inteiro
Até contorcionismo a gente às vezes praticou
A borboleta em concha fez você gozar primeiro
Mas no tradicional papai-mamãe
Foi que a gente mais arrebentou
O parafuso, a ponte e o arco
Da rã, do carangueijo ou do cão
Lótus, vai e vem, tiro ao alvo
Em que posição?


Esse é o Tremendão cantando na música “Kamasutra”, apenas uma preliminar do que vem com o “Sexo” completo. Muito safadinho esse Orgasmo Carlos...

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Punk is not dead: Londres está queimando


Desde o final de semana, os ingleses e o mundo assistem atônitos os atos de violência, vandalismo, furto e destruição que tomaram conta das ruas de Londres após um homem de 29 anos ter sido morto em uma operação policial. A barbárie se espalhou para outras cidades, enquanto autoridades políticas e policiais agem como moscas-tontas para tentar conter a rebelião, sem muito sucesso até o momento.

Também surpreende a desorientação com que a imprensa trata do assunto. Como de costume, a horda de troglodistas que está levando pânico às ruas são simplesmente tratados como vândalos se divertindo em período de férias escolares. Não que não sejam, mas a classificação é pobre e burra demais, por não se abrir à percepção dos reais motivos de tamanha revolta.

Nos noticiários de hoje pela manhã, pela primeira vez as notícias sobre as manifestações vieram com um pouco mais de consistência informativa. Embora mascarados, começaram a ser identificados esses baderneiros atém então sem rosto. Enfim, os ingleses estão se dando conta de que a morte que teria dado início a toda essa confusão foi apenas o estopim que detonou um cenário sócio-econômico pra lá de explosivo.

Atualmente, cerca de 1 milhão de jovens ingleses estão desempregados. Grande parte deles não tem acesso ao sistema educacional. Nesse ambiente, drogas e sexo fácil se proliferam, motivados pela alienação e total descrença em um futuro melhor. Ao mesmo tempo, essa massa de homens-nada é bombardeada pela propaganda que incentiva e associa ao status social o consumo de roupas caras, celulares e aparelhos eletrônicos sofisticados, por exemplo, sem que ela tenha qualquer possibilidade de adquiri-los. Uma geração perdida que poucos turistas enxergaram quando foram abanar bandeirinhas da Inglaterra pelas ruas de Londres durante o casamento do príncipe William e a plebeia Kate.

Impossível não fazer a ligação com a situação vivida esta semana na Inglaterra como o que acontecia naquele país em meados dos anos 70, e que ajudou a formatar um dos movimentos político-culturais mais significativos do século XX: o punk.

Há cerca de 35 anos, os ingleses viviam situação semelhante à de hoje. Escreveu Paul Friedlander, no seu livro “Rock and Roll: uma história social” (Editora Record, 2002, p. 354) que naquele cenário:

“Surgiu um crescente segmento de jovens de classes menos favorecidas que se mostravam insatisfeitos com a falta de oportunidades econômica e educacional na Inglaterra. Empregos e salários decentes não estavam disponíveis e o acesso às escolas só era permitido às classes mais privilegiadas, forçando vários jovens operários a desistir da educação. Esta juventude desiludida cada vez mais numerosa vislumbrava um futuro de subsistência à custa do sistema de previdência social britânico. Os jovens perceberam que para eles não havia futuro, e por isso se revoltaram”.


Dessa massa de inconformados da década de 70, muitos foram para as ruas protestar, fazer greves, promover quebra-quebras. Outros, além disso, também manifestaram sua indignação através da arte (principalmente o rock) e do estilo de vida punk que tinham como uma das premissas básicas a revolta contra a esquerda e a direita e um niilismo latente que se manifestava na falta de respeito ao patrimônio e desobediência às autoridades em favor da total liberdade individual.

Duas entre as centenas de bandas punks inglesas surgidas na década de 70 são emblemáticas: os Sex Pistols e o Clash. A primeira, uma verdadeira máquina de caos, que tinha como premissa a ofensa a tudo e a todos e que musicalizava e verbalizava a sua revolta em canções como “Anarchy in the UK” (Não sei o que quero mas/Eu sei como conseguir/ Eu quero destruir todos os transeuntes porque /Eu quero ser a anarquia) ou “No Feelings” (Sem sentimentos por ninguém/Exceto por mim mesmo, pela minha bela pessoa, querida).

Mas é na canção “God Save The Queen” que os Sex Pistols, mais do que provocar a ira da família real inglesa e grande parte da população da Inglaterra, conseguiu fazer um retrato realista e cruel da sociedade britânica da metade dos anos 70:

“Deus salve a rainha/ O regime fascista dela/ Fez de você um retardado/ Uma bomba H em potencial/ Deus salve a rainha/ Ela não é um ser humano/ Não há futuro/ Nos sonhos da Inglaterra/ (...) Quando não há futuro/ Como pode haver pecado?/ Nós somos as flores na lixeira/ Nós somos o veneno na sua máquina humana/ Nós somos o futuro/ Seu futuro”

Mais profícua e consistente no discurso rebelde era a banda Clash, que em várias canções pregou justamente a utilização da força para, se não mudar, pelo menos manifestar a indignação à situação vivida na época. O próprio nome do grupo (Clash também significa confronto) já dava a tônica da postura do grupo, que não deixava qualquer dúvida dos seus ideais em canções como a visionária “London’s Burning” (Londres está queimando com o tédio agora), “Hate and War” (Ódio e guerra/Eu tenho vontade de sobreviver/ Eu engano se eu não conseguir ganhar/ Se alguém me deixa de lado/ Eu chuto à minha volta) ou “Guns of Brixton” (Quando a lei entrar à força/ Como você vai agir?/ Deitado no chão/ Ou esperando uma briga mortal/ Vocês podem nos esmagar/ Vocês podem nos machucar/ Mas vão ter que responder para/ Os atiradores de Brixton).

E se o lema do Clash era o confronto, a banda fez da música “London Calling” a convocação para a pancadaria:

“Londres chamando todas as cidades distantes/ Agora a guerra está declarada e a batalha começa/ Londres chamando o submundo/ Saiam todos do armário, garotos e garotas/ (...) A era do gelo está vindo, o sol está sumindo/ Máquinas param de funcionar e o trigo está rareando/ Um erro nuclear mas não temo/ Porque Londres está sendo inundada e eu/ Eu vivo perto do rio”

O movimento punk inglês original teve uma existência efêmera que pode ser considerada entre 1975-1979, com uns anos a mais ou menos, dependendo do ponto de vista. Mas no geral foi isso. O punk, acreditava-se, havia virado coisa de butique. E as próprias ideias e estímulos ao confronto, tão presentes nas canções do Sex Pistols e do Clash, eram vistos como uma poesia datada. Hoje, vendo o que acontece em Londres, fica a sensação de que elas eram proféticas.

A horda que hoje põe cidades inglesas em pânico talvez nem se dê conta que um dia existiu o punk e bandas como Sex Pistols e Clash. Talvez seus inspiradores da rebeldia sejam os gagsta rappers, autores anarquistas do momento ou coisa assim. Mas, as motivações e modos de agir entre aquela e a atual geração de descontentes da sociedade inglesa são as mesmas. Mais do que o discurso, é a manifestação violenta que é usada para chamar a atenção sobre uma situação que já estava em ebulição e que definitivamente entornou o caldo no último final de semana.

Craig O’Hara escreveu no livro “A Filosofia do Punk: mais do que barulho” (Radical Livros, 2005, p. 92-93) que “não é a devoção a um conjunto fixo de normas de protesto que pode mudar a sociedade, mas o uso apropriado de táticas para alcançar objetivos. Às vezes a violência é necessária, às vezes ela é contraprodutiva”.

Antes que me acusem de apologista da violência, que fique claro que nem de longe pretendo fazer a defesa da violência ou dizer que acho justo ou não a pancadaria que está comendo solta em Londres. Tento apenas mostrar que por trás da atitude das autoridades e da mídia de reduzir a interpretação aos protestos a simples atos de vândalos que depredam e roubam roupas de grife e celulares pode estar uma tentativa de esconder causas bem mais profundas, que talvez nem os próprios manifestantes consigam explicar.

Talvez ajam apenas por impulso, alimentados por um ódio há muito guardado e que tem origem na sensação de alienação social e econômica em que vivem. E nessas horas, é perfeitamente compreensível a máxima punk de que “se você não tem nada, então não tem nada a perder”. Para quem vive assim, é até meio que natural sair às ruas com pedras e paus nas mãos porque, como profetizou o grupo Clash, “a guerra está declarada” e “Londres está chamando”.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ARQUIVO: entrevista Marky Ramone


No último sábado (06), completaram-se 15 anos do fim da carreira dos Ramones, que realoizou sua última apresentação, em Los Angeles, em 06 de agosto de 1996. Coincidentemente, 2006, no exato dia em que fazia 10 anos que os Ramones havia colocado um ponto final na sua história, o baterista Marky Ramone esteve em Curitiba para o show de lançamento do seu disco e dvd ao vivo gravado com a Tequila Baby. Antes da apresentação, entrevistei Marky Ramone no hotel onde ele estava hospedado.

A conversa foi ao ar alguns dias depois, no Garagem 95.Para lembrar daquele show e marcar os 15 anos anos do fim do grupo, posto a seguir a entrevista com Marky Ramone, com as devidas observações feitas às respostas, em relação aquilo que aconteceu ou deixou de acontecer a respeito da entrevista de cinco anos atrás até o dia de hoje.
Confira aí:


Hoje, 6 de agosto (de 2006) faz dez anos que os Ramones encerraram as atividades. Você concorda que a banda parou na hora certa?

Nós paramos quando a banda não podia mais continuar. Naquele período Joey já estava com câncer e nós paramos. O que podíamos fazer? Ele tinha que ir ao médico e fazer exames a toda hora. Nós nos separamos depois de 22 anos. Fomos uma das bandas mais longevas do punk. Então decidimos que era a hora certa. Mas, se todos estivessem saudáveis e vivos hoje em dia, certamente estaríamos juntos novamente.

No filme End of the Century é mostrada uma imagem muito mórbida da carreira dos Ramones - discussões, abusos de drogas e frustração pelo fato dos Ramones não serem uma banda top. Por outro lado, o filme Raw mostra que os Ramones tiveram uma vida mais feliz...

Se tivesse sido tão ruim, nós não teríamos ficado juntos. Raw mostra o lado bom, o motivo pelo qual ficamos juntos, que é a diversão. End of the Century mostra apenas um lado. Fizemos um monte de entrevistas, mas apenas os momentos negativos foram explorados. Mas na verdade, nós chegamos lá. Nos tornamos famosos em todo o mundo. Demorou para acontecer porque éramos muito diferentes, mas memoravelmente conseguimos. Éramos felizes com as nossas vidas e carreiras.

Então você não gostou de End of The Century?

Ele é sombrio demais. Na vida existem dois lados da história: o bom e o ruim. E as nossas vidas não poderiam ter sido melhores.

Depois do fim da banda, foram dadas várias entrevistas polêmicas. Você era um dos mais indignados. Lembro de uma entrevista sua para uma revista brasileira, em que você dizia que nunca mais tocaria novamente com Joey Ramone. Depois você acabou participando do disco solo dele. O que o fez mudar de ideia?

Joey e eu tivemos uma pequena discussão porque ele queria que eu tocasse com a sua banda The Resistence e eu tinha a minha própria banda, The Intruders. Ele não podia fazer turnês por causa do câncer, tinha que ficar no hospital e talvez não sobrevivesse. Eu comecei a pensar em tocar e gravar de novo. Nós conversamos sobre isso e ele me pediu para tocar no seu álbum solo em 1999, 2000. Nós éramos muito próximos. Eu fui o único Ramone a tocar naquele disco e o único Ramone a visitá-lo no hospital. Ninguém mais o visitou. Eu o visitei. Tommy, não. Dee Dee, não. Johnny, não. Joey e Johnny nem se falavam mais, essa era a verdade. Eu falava com todos.

Existem boatos de que você está trabalhando em um segundo disco de Joey Ramone. É verdade (o disco ainda não foi lançado)?

Eu não vou participar. Acho que o primeiro disco basta. As melhores canções estão lá. Eu ouvi as outras canções, são legais, mas quero ter participação apenas no primeiro. Tenho certeza que existem muitos outros bateristas que gostariam de trabalhar neste novo disco.

Os primeiros discos dos Ramones foram relançados trazendo demos e b-sides. Existem outros discos que serão relançados no mesmo formato?

Sim. Eu acho que Mondo Bizarro, Adios Amigos e Halfway to Sanity (nenhum foi lançado, ainda).

O disco Hey Ho Let's Go: The Greatest Hits acaba de ser lançado no Brasil. Você não concorda que os Ramones já têm muitos discos com "as melhores"?

Existem muitas canções que podem ser "greatest hits". Mas Tommy e eu só pudemos selecionar 20 músicas para este CD. Lá estão provavelmente as melhores canções e talvez duas ou três "esquecidas". Mas este CD pode ganhar uma parte 2.

Joey, Johnny e Dee Dee já não estão mais entre nós. Como você se sente sendo o responsável por manter viva a memória dos Ramones?

É bom, é muito divertido. As pessoas com quem eu toco conhecem as músicas e isso significa um grande controle de qualidade. É apropriado tocar essas canções hoje em dia porque muitos dos garotos que vem aos shows agora eram muito novos quando os Ramones pararam de tocar. E eles querem ouvir alguém tocar as músicas dos Ramones.

Muitos fãs não gostam que você toque canções dos Ramones com outras bandas. O que você pensa a respeito?

Isso é problema deles. Quem são as pessoas certas para tocar as músicas dos Ramones? Bandas cover? Eu não me importo com o que eles pensam.

A morte de Dee Dee Ramone chocou a todos. Você era uma pessoa muito próxima a ele...

Ele era meu melhor amigo.

Você sabia que ele estava usando drogas novamente?

(Suspira) O problema é que ele gostava de maconha, e isso não é droga. Ele não bebia e não usava drogas pesadas, mas um dia resolveu usá-las e morreu. Ele cometeu suicídio? Não! Ele estava muito feliz. Foi uma overdose acidental.

Você tem feito sucesso tocando músicas dos Ramones com outras bandas. Não pensa em voltar a tocar canções que gravou com The Intruders, Speedkings ou Osaka Popstar?

Não. The Intruders e Speedkings eram mais por diversão. Eu não costumo ficar muito tempo em um mesmo lugar. Foi divertido por um tempo, mas eu quis fazer outras coisas. Foi por isso que eu toquei com Jerry Only e Dez Cadena no Misfits por um tempo. Eu não sei o que estarei fazendo daqui a um ano, mas não quero ficar muito tempo com um mesmo projeto.

A coletânea Start of The Century, que traz os seus dois primeiros discos com o The Intruders (Marky Ramone & The Intruders e Don't Blame Me), vendeu mais em alguns meses do que aqueles álbuns em sete ou oito anos. Qual a razão por esse interesse tardio por aqueles discos?

Start of The Century tem uma distribuição melhor. As pessoas têm acesso a ele nas lojas. Os selos com quem eu havia assinado anteriormente não sabiam como trabalhar com música punk. Mas esta nova gravadora sabe e faz isso muito bem. Quando aqueles discos foram lançados, foram fabricados apenas 30, 40 mil discos de cada e, quando eles foram vendidos, as gravadoras simplesmente pararam de fabricá-los. Eu esperei, peguei os discos de volta, sou o dono deles, remasterizei-os, fiz uma nova arte, juntei-os em um único CD e incluí um CD ao vivo. Ficou bom. É um novo começo.

No primeiro disco dos Intruders existem canções ótimas como "I Want My Beer" e "Telephone Love". O que aconteceu com Skinny Bones (primeiro vocalista do The Intruders)?

Skinny Bones teve um problema com drogas. Heroína. Era um ótimo frontman, mas o que podemos fazer? Eu não aceito que pessoas usem drogas. Maconha é diferente. Mas drogas pesadas são ruins. Álcool em excesso é ruim. Então eu tive que tirá-lo e no seu lugar coloquei Ben Trokan, que também era muito bom.

Skinny Bones ainda está vivo?

Está vivo. Espero que esteja melhor. A droga é um vício. Você não pode julgar a pessoa porque ela está usando drogas. Você tem que gostar dela pelo que ela é. Mas eu não o vejo mais.

O CBGB's está mudando para Las Vegas. Você acha que isso é o fim de uma era?

Eu acho que o fim daquela era foi em 82, 83. O legado do CBGB está espalhado pelo mundo, mas ele já não era mais o mesmo de quando a cena punk original começou. Ele se tornou algo mais representativo. Eu sinto que hoje existe novamente uma nova grande cena em Nova York e essas bandas deveriam começar o seu próprio clube, encontrar um outro clube e torná-lo popular como o CBGB's. É o que elas deveriam fazer. Agora existe essa mentalidade de levá-lo para Las Vegas. Legal, sabe. É um final bonito.

Mesmo com o fim dos Ramones, você não parou de gravar e está sempre viajando pelo mundo. Você pensa em aposentaria? O que pensa em fazer quando parar de tocar?

Eu ainda me divirto tocando, fazendo turnês e encontrando amigos. Um dia eu vou parar. Chuck Berry tem 75 e ainda toca. Os Rolling Stones estão com 65 anos e ainda tocam. Jerry Lee Lewis ainda toca. Você olha para esses caras e diz "hey, se eles podem eu também posso!" e eu sou muito mais novo do que eles.

Hoje você parece mais saudável do que na época do fim dos Ramones. O que você faz para manter a forma?

Toco bateria três horas por dia, ando de bicicleta. Sei lá, só faço o que faço e pronto.

Por que você escolheu a Tequila Baby para gravar este CD/DVD ao vivo (foi gravado no bar Opinião, em Porto Alegre)?

Porque eles são muito bons à sua própria maneira e tocam muito bem comigo. Eles também são grandes fãs dos Ramones. O local e o público foram muito legais na noite em que o show foi gravado. Havia 12 câmeras filmando. Doze câmeras! E você percebe isso no CD e DVD, que vêm em uma embalagem muito legal.

Esse trabalho vai ser lançado ao redor do mundo?

Sim. Quando eu voltar quero negociá-lo com alguém nos Estados Unidos e colocá-lo também na Inglaterra (o disco foi lançado somente no Brasil).

Será um CD oficial de Marky Ramone, então?

Sim. A Tequila Baby é uma boa banda e é um ótimo CD e DVD também. E vou registrá-lo também no meu livro que vai sair em 2007 e que se chamará "Faith in the Backbeat" (o livro ainda não foi lançado).

O seu livro será sobre a sua vida ou sobre a carreira dos Ramones?

Será um livro sobre tudo. Richard Hell & The Voidoids, sobre a cena punk, a gravação com Phil Spector, sobre o filme Rock n' Roll High School. A verdadeira história.