sexta-feira, 22 de julho de 2011
Hey Ho Let’s Go: a história da maior banda do mundo
Demorou, mas finalmente uma editora brasileira teve a coragem de bancar uma edição nacional de uma entre as várias biografias dos Ramones. E a escolha foi acertada. “Hey Ho Let’s Go: a história dos Ramones”, do jornalista inglês Everett True, é uma das melhores já escritas sobre a banda nova-iorquina. Muito mais interessante, por exemplo, que a famosa e oficial biografia “Ramones: an american band”, lançada no começo dos anos 90 por Jim Bessmann, em parceria com o grupo.
Com uma carreira jornalística que inclui trabalhos para as revistas New Musical Express e Melody Maker, Everett True ficou conhecido na história da imprensa como um dos primeiros repórteres a dizer ao mundo, em 1989, que havia algo muito interessante acontecendo na cena musical de Seattle (EUA), efervescência cultural que dois anos depois ficou mundialmente famosa como “grunge”. Com esse histórico, o autor de “Hey Ho Let’s Go” já merecia um bom crédito para escrever uma biografia dos Ramones, o que melhorou ainda mais quando ele desavergonhadamente se assume um fã de carteirinha dos reis do punk rock logo nas primeiras páginas do livro. Mas se engana quem pensa que por ser fã Everett True amaciou a história que pretendeu contar.
O livro começa de maneira óbvia contando a infância e adolescência de Joey, Johnny, Tommy e Dee Dee, até o momento em que esses quatro desajustados resolvem formar uma banda e batizá-la com o nome de Ramones. Daí em diante, a história segue de forma linear, passando pelas primeiras apresentações, as gravações de todos os discos, a turnê ininterrupta de 22 anos que a banda fez até encerrar as atividades em 06 de agosto de 1996, em um show repleto de convidados especiais como Eddie Vedder, Lemmy Kilmister e até o próprio Dee Dee Ramone – que havia saído do grupo sete anos antes –, entre outros.
Mas, biografias existem pra mostrar o lado podre dos nossos ídolos! E é claro que “Hey Ho Let’s Go” seria muito chato se Everett True não se dispusesse a revelar as turbulências internas dos Ramones, uma rotina bem diferente daquela que os fãs imaginavam existir dentro daquela suposta “happy family” do punk rock. Como se descobriu depois do fim do grupo, quando cada Ramone se sentiu no direito de falar a merda que desse na telha sobre os ex-companheiros, o dia-a-dia dos Ramones podia ser o paraíso ou o inferno na Terra.
Ser um Ramone era viver em constantes: discussões, porradas, usar muitas drogas, estar permanentemente frustrado por não emplacar um grande sucesso e embarcar em constantes turnês, que eram interrompidas apenas para gravar rapidamente um novo disco e cair na estrada outra vez. E ainda tem a história da namorada que Johnny roubou de Joey e que causou a maior celeuma em toda a carreira dos Ramones, tanto que desde quando isso aconteceu no começo da década de 1980 o guitarrista e o vocalista praticamente deixaram de se falar. Isso seria motivo mais do que suficiente pra todos abandonarem o barco, mas os Ramones seguiram adiante. Mesmo com as mudanças de formação, Joey e Johnny se mantiveram firmes no propósito de seguir com a banda.
No livro, o autor explica que isso só foi possível porque, nas palavras de Joey, nada era melhor na vida do que cagar, trepar e tocar nos Ramones.
Para escrever “Hey Ho Let’s Go”, Everett True recorreu a uma série de entrevistas dadas pela banda e publicadas ao redor do mundo. Falou com pessoas próximas ao grupo e com o próprio Joey, Tommy, Marky e CJ. Mas nunca conseguiu encontrar o baterista Richie, Dee Dee não demonstrou o menor interesse em ser entrevistado para o livro e com Johnny o autor nunca conseguiu falar. Ainda assim, conseguiu reforçar o mito quanto às personalidade de cada Ramone:
- Tommy, o mentor;
- Joey, o romântico;
- Dee Dee, o porralouca;
- Marky, o bebum que teve a sorte de entrar para a banda;
- Richie, o Ramone esquecido;
- CJ, o baixista que trouxe frescor ao grupo nos anos 90;
- Johnny, o autoritário fascista!
A edição lançada pela Madras é a segunda versão de “Hey Ho Let’s Go”, publicada originalmente em 2002 e que acabou sendo ampliada em 2005, após a morte de Johnny Ramone. Apêndice acrescentado, inclusive, depois que o autor levou um esporro de Bobbie Gillespie, do Primal Scream, que não havia ficado nada contente com a maneira como Everett True retratou o guitarrista no livro. “Você subestimou totalmente o papel dele na banda”, vociferou Gillespie.
Aliás, não são poucas as vezes que quem está lendo o livro tem vontade de torcer o pescoço do autor. Isso, principalmente, quando ele se dispõe a afirmar que o último disco bom dos Ramones foi “Too Tough To Die” (1984), ou que “Pleasant Dreams” (1981) é um disco horrível ou que depois da saída de Dee Dee os Ramones passaram a ser uma banda tributo de si mesma. Bobagem pura, é claro!
Mas isso, tudo no final das contas, só torna “Hey Ho Let’s Go” ainda mais interessante. Chato mesmo é a má qualidade da edição da Madras, que peca pelo acabamento irregular do livro e por estampar algumas fotos com péssima qualidade de impressão. Nada comparável aos erros da tradutora Neuza Paranhos, que demonstrou total incapacidade de entender quando a palavra “cover” se refere à capa de um disco ou quando diz respeito a algumas regravações de músicas de outras bandas que os Ramones fizeram.
Porém, nada que tire a satisfação de ler a história daquela que – aí sim Everett True acertou na mosca – um dia foi a maior banda do mundo!
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