sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Hino de Marechal Cândido Rondon


Não deve existir um dia sequer em que, em algum lugar do município, o Hino de Marechal Cândido Rondon não seja cantado, seja em solenidades oficiais, eventos esportivos, nas escolas e demais instituições do município. O que pouca gente sabe é que a versão cantada hoje pelos rondonenses é diferente daquela escrita logo após a emancipação do município, em 1960.

O Brasão, a Bandeira e o Hino atuais de Marechal Cândido Rondon foram instituídos em 1974, através da Lei Municipal nº 1.099, de 1º de setembro, durante a gestão do prefeito Almiro Bauermann.

Na bandeira, a cor vermelha representa a dedicação, audácia, coragem e valentia dos rondonenses; e a cor verde, a honra, civilidade, alegria e a abundância dos campos verdejantes. Ainda na flâmula rondonense, o triângulo simula toda a cidade que, estampado sobre a cor branca, faz alusão à paz, ao trabalho, prosperidade, amizade e religiosidade de Marechal Cândido Rondon, simbolizando, assim, a irradiação do poder municipal em todas as partes do território municipal.

O Brasão, que também consta na Bandeira, foi elaborado em homenagem ao militar Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. O símbolo contempla as atividades econômicas do município, em especial a agricultura e a agroindústria.

Hino

O Hino Municipal foi composto por Willy Carlos Trentini logo após a emancipação de Marechal Cândido Rondon. Mas, pouco mais de uma década depois, ele foi alterado a pedido do prefeito Almiro Bauermann, que logo nos primeiros meses de seu mandato criou uma comissão para coordenar os trabalhos. A missão coube, então, ao cartorário Levi Gomes e o médico José Carlos Mello, que atualmente reside em Santa Catarina.
Para Levi Gomes, o prefeito Almiro Bauermann tinha razão ao promover a atualização do hino, já que a letra original se referia muito ao município de Toledo, o que não condizia mais à nova realidade rondonense.

Questionado o porquê de ter sido convidado a reescever o hino, Levi acredita que foi em razão de um poema sobre o município que ele havia escrito e mostrado ao prefeito, que gostou do trabalho. O poema era este:

Marechal Cândido Rondon
Cidade hospitaleira
Um pedaço do meu Paraná
Está na faixa de fronteira
Da região é mais pujante
Com seu povo mui gentil
Aqui tudo vai avante
É o progresso do Brasil

Os pioneiros que aqui chegaram
Logo iniciaram seu labor
As duras lutas sempre enfrentaram
Mostrando muito o seu valor
Willy Barth colonizou
Com amor e dedicação
Arlindo Lamb completou
Com a primeira administração

Com o trabalho desta gente
Que sempre está presente
E nunca desanimou
Enfrentando a realidade
Com muita dignidade
É que tudo aqui se formou

Cidade dos filhos meus
Abençoada por Deus
Nosso Pai onipotente
Terra que me deu guarida
Para mim muito querida
Pois aqui vivo contente


Aqui, já se percebe muito dos elementos que Levi usaria para compor o hino. Curiosamente, o autor da atual letra do hino havia chegado apenas em 1970 em Marechal Cândido Rondon, quando assumiu o Cartório de Registro Civil que, coincidentemente, antes havia estado sob responsabilidade de Willy Carlos Trentini, o autor do hino original.

Questionado de onde veio a inspiração para compor o novo hino, já que ele não havia presenciado muito dos fatos abordados na letra, Levi conta que tudo “foi feito em cima do que é o município, em cima do sentimento do povo. O hino atual diz muito sobre Marechal Rondon”.

Na época em que a hino foi reescrito, Willy Carlos Trentini já havia falecido e, como forma de homenageá-lo, a música original foi mantida, “até porque ela é muito bonita”, diz Levi. Segundo ele, a nova versão sempre foi muito elogiada. “É algo bonito que pude fazer por Marechal Rondon”, finaliza.

LEGENDA: Levi Gomes e a esposa Catarina. Ele é um dos autores da atual versão do Hino Municipal.

CRÉDITO: Cristiano Viteck



Hino Municipal (versão original)
Letra e música: Willy Carlos Trentini

Na terra minha do pinheiro
No lindo Paraná do oeste
Surgiu milagre de Toledo
Rondon orgulho pioneiro

Rondon gigante e majestoso
Teu nome é eterno na história
Milhares obram tua grandeza
É teu povo primoroso

Entre a orquestra serra o machado
Três homens longe da cidade
Comendo a folha do palmito
Abriram brecha neste mato

Um chefe cujo nome nobre
Inapagável nesta história
Compaixonou-se com carinho
Ao pioneiro rico e pobre

Rondon conquistando obreiro
Teus campos vilas e riquezas
Teus templos é benção divina
Trabalho amor, Rondon Celeiro

Rondon seremos de fileira
Lutemos pela tua grandeza
Bendito nome eternizado
Rondon audácia pioneiro

General Rondon, General Rondon,
General Rondon, General Rondon,
General Rondon, louros mil!

Por ti nós sangramos
Nosso amor pelo Brasil




Hino Municipal (versão atual)
Letra: Levi Gomes e José Carlos Mello
Música: Willy Carlos Trentini

Na linda terra do pinheiro,
No meio de uma selva agreste,
Cresceu um povo hospitaleiro,
Rondon orgulho do Oeste.

Ao som da serra e do machado,
Três homens hastearam uma Bandeira,
Futuro viram em todo lado
E apostaram uma vida inteira

Marechal Cândido Rondon,
Marechal Cândido Rondon
És cidade, és canção
Marechal Cândido Rondon,
Marechal Cândido Rondon
Já tens alma e coração;

Na terra o pão de todo dia,
No sol a luz pro ano inteiro.
Na luta eterna alegria,
Rondon, trabalho, amor, celeiro

Talvez não seja a prometida,
Mas é bastante generosa.
Pra muitos é a mais querida.
Pra outros a mais poderosa

O sonho hoje se tornou
Maior gigante majestoso.
O povo simples continuou,
Mas fala alto e mais garboso

Nas vilas, bairros e cidade,
Nos templos muitos agradecem.
Rondon será eternidade
Pra todos que a engrandecem



(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Arlindo Lamb: "o governador queria ver o diabo, mas não um prefeito do PTB"


Arlindo Lamb, primeiro prefeito eleito de Marechal Rondon, relembra os desafios de sua gestão

Um município inteiro para construir praticamente do zero. Este foi o desafio que Arlindo Alberto Lamb assumiu e cumpriu com determinação, quando se candidatou e assumiu o posto de primeiro prefeito eleito do então recém criado município de Marechal Cândido Rondon. Antes dele, por nomeação do governador Moisés Lupion, Ari Branco da Rosa havia sido nomeado chefe do Poder Executivo Municipal, cargo que ocupou por pouco mais de cinco meses (de 05/08/1960 a 25/01/1961), até ser destituído por Ney Braga, que recém havia assumido o governo do Paraná.

Nascido em 16 de julho de 1921, em Marques de Souza (RS), Arlindo chegou a Marechal Cândido Rondon em 26 de maio de 1955, onde atuou como empresário e agricultor. Logo se envolveu também na política e em 1956, juntamente com Helmuth Koch (PSD) e Simão Scherer (UDN), Arlindo foi eleito vereador para representar a então vila General Rondon na Câmara de Toledo, em cuja legislatura chegou a assumir a presidência do Legislativo por dois anos.

Com a destituição de Ari Branco da Rosa, novas eleições foram marcadas para o dia 08 de outubro de 1961. Lideranças da comunidade, além do próprio administrador da colonizadora Maripá, Willy Barth, convenceram Arlindo a se candidatar. Filiado ao PTB, concorreu coligado com o PL. O outro candidato a prefeito era o farmacêutico Frederico Goebel, da UDN, que havia formado coligação com o PDC.

Arlindo recorda que, por ser a primeira eleição do município, todos os candidatos a vereadores eram praticamente inexperientes, no que diz respeito ao processo eleitoral. Mas, a motivação era grande. Segundo ele, “os comícios, na verdade, eram reuniões nas comunidades. Alguns candidatos a vereador decoravam pequenos discursos”, recorda.

A vitória de Arlindo Lamb foi tranquila, somando 2.374 votos contra 735. A coligação dele também elegeu a maioria dos vereadores: Helmuth Priesnitz, Harri Pydd, Teobaldo Loffi, Erno Greef, Aldo Alievi e Lindolfo Nienkoetter, todos do PTB; e Rainoldo Wengrat, do PL. Pela oposição elegeram-se Aílson Confúcio de Lima e Luiz Groff.

Posse

A posse aconteceu 2 de dezembro de 1961, no antigo Salão Weiss, e foi coordenada pelo juiz Vilson Balão, da 75ª Zona Eleitoral, de Toledo. Após a posse, o prefeito convidou a comunidade a visitar a prefeitura, que iria funcionar no antigo escritório da colonizadora Maripá, que havia sido doado por Willy Barth ao municíoio. Arlindo conta que Erich Ritscher, um dos três primeiros pioneiros de Marechal Cândido Rondon, se mostrou surpreso que até cofre a prefeitura já possuía, no que o novo prefeito respondeu: “cofre nós temos, mas não temos dinheiro”.

Então, Ritscher tirou uma nota de dinheiro da carteira e depositou em uma gaveta, gesto que foi repetido por outras pessoas. Conforme Arlindo, no primeiro dia que a prefeitura funcionou, graças a esse gesto da população a municipalidade tinha dinheiro em caixa, que foi registrado como doações espontâneas para a instalação do município.

“Praticamente não havia cobranças. O pessoal se contentava com tudo. Queriam escolas e estradas. Eu atendia todo mundo. Podia vir de pé-de-chinelo ou descalço, não tinha cerimônia. Queria falar com o prefeito, entrava direto e falava”, explica Arlindo Lamb sobre o seu método de trabalho.

Os primeiros funcionários da prefeitura, nomeados pelo prefeito, foram: Osvino Lemke, secretário; Henrique Afonso Sturm, tesoureiro; Werner Wanderer, fiscal; Rubem Luersen, contador; Lindolfo Garmatz, fiscal de estradas; e Valdomiro Liessen, inspetor de ensino.

Estradas


Na época em que o primeiro prefeito eleito assumiu a prefeitura, cerca de 80% do município ainda era coberto pela floresta nativa e a demanda por infraestrutura era enorme. É preciso lembrar ainda que Marechal Rondon contava então com as áreas que hoje formam os municípios de Quatro Pontes, Mercedes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste, São José das Palmeiras e também São Clemente e Sub-Sede, atualmente distritos de Santa Helena.

Arlindo recorda ainda que depois da lei estadual de emancipação de Marechal Cândido Rondon, Toledo praticamente abandonou o seu antigo distrito. “Não arrumou estradas e não fez mais nada. Nossas estradas estavam a zero”, afirma. Surgia então um dos primeiros desafios da nova administração, que era adquirir máquinas para manter e abrir novas estradas.

Arlindo viajou até Curitiba, na Paraná Equipamentos. Mas, como a prefeitura não tinha recursos, o prefeito tirou dinheiro do próprio bolso e deu a entrada para compra de uma moto-niveladora, que teria que ser paga em três parcelas. “Quando cheguei foi aquela festa. Na área onde está instalado o posto Esso foi montada uma recepção com foguetes e uma caixa de cerveja”, lembra o ex-prefeito, que informa que o mesmo aconteceu com a compra de um trator de esteira.

Pontes

A construção de pontes também era prioridade. Na gestão de Arlindo foram construídas várias sobre os rios Facão Torto, Arroio Marrecos, Arroio Fundo, Branco, entre outras. A que mais chamou a atenção foi a ponte sobre o Rio São Francisco, entre os distritos de Entre Rios do Oeste e Pato Bragado. Com 74 metros de extensão, foi inaugurada em abril de 1964.

A obra, bastante cara, recebeu recursos do governo federal e moradores também contribuíram com a doação de madeira. Os recursos do governo federal somavam 8, 6 milhões em moeda corrente na época, que foram depositados no Banco do Brasil, em Foz do Iguaçu. Era uma quantia bem considerável e Arlindo trouxe todo esse dinheiro em dois sacos escondidos na carroceria de sua caminhonete. O dinheiro ficou guardado na casa do próprio prefeito, que conforme era necessário, ia fazendo os pagamentos. Além de Arlindo, somente a sua esposa, o secretário e o tesoureiro da prefeitura sabiam onde ele se encontrava.

Infelizmente, a ponte acabou praticamente destruída em uma grande enchente ocorrida na região em 1973 e teve que se reconstruída.

Educação

Assim como a abertura de estradas, o ensino estava em primeiro plano na administração de Arlindo. Segundo ele, logo que assumiu moradores de Entre Rios do Oeste vieram à prefeitura solicitar a construção de uma escola, para atender inicialmente apenas 10 alunos. Pensando à longo prazo, Arlindo acertadamente decidiu pela construção. Muitas famílias do Rio Grande do Sul e Santa Catarina já tinham adquirido as terras na localidade, mas não haviam se mudado pela falta de escola.

Esse educandário foi uma das primeiras obras do governo de Arlindo, que assumiu em dezembro de 1961 e no mês seguinte deu início a construção, que foi concluída em fevereiro, para atender aquelas 10 estudantes. “Em julho, já havia 40 alunos. No fim do ano, eram 80. Assim se repetiu em outras regiões do município”, destaca o ex-prefeito, que ao final de sua gestão havia instalado 66 escolas.

Governador

Nos primeiros anos, o novo município contava com o apoio do deputado estadual Luis Alberto Dall’Canalle nas reivindicações junto ao governo do Paraná, que na época tinha Ney Braga com governador. Arlindo lembra que a relação dele com o governador “era ótima. Eu visitava o Palácio do Governo para reivindicar alguma coisa e o governador era muito amável, batia nas costas, falava ‘como vai este ilustre prefeito’. Mas, ele não gostava do PTB. Ele queria ver o diabo, mas não um prefeito do PTB. Ele simplesmente prometia, mas não cumpria nada. Durante o mandato do governador Ney Braga eu não consegui nada. Eu conseguia alguma coisa do Estado através das secretarias.”

Apesar desse contratempo, a gestão de Arlindo Lamb é marcada pelo grande número de obras realizadas e conquistas alcançadas, como a implantação dos primeiros 100 telefones de discagem direta do município. Outra ação importante realizada naquela gestão foi o encaminhamento para a criação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), implantado em 1966, durante o mandato de Werner Wanderer, que era vice-prefeito na primeira gestão e foi eleito prefeito com o apoio de Arlindo Lamb.

“Francamente, me orgulho de ter sido o primeiro prefeito eleito de Marechal Cândido Rondon”, afirma Arlindo, 89 anos completados no último dia 16. “É um orgulho estar vivo e participar dos festejos de 50 anos. Nós tivemos muito bons prefeitos e alguns que saíram um pouco fora do que devia ser feito. Mas Rondon progrediu. É um município bom de morar, de muito futuro”, finaliza.

LEGENDA: Arlindo Lamb, à direita, no dia de sua posse como prefeito, em 1961.

CRÉDITO: Arquivo particular de Arilindo Alberto Lamb


Arlindo Alberto Lamb: uma história que merece ser contada

“A ideia de retratar a vida de Arlindo Arlindo Lamb veio a partir de um desafio de amigos, após assistir a inúmeras pequenas palestras do próprio Arlindo. Pelo fato de Arlindo Lamb ter uma história muito rica, guardada até então somente na sua memória, decidi encarar o desafio e colocar no papel a sua biografia, por entender que era uma história que merecia ser contada.

O objetivo do livro foi não permitir que os detalhes da rica história de Arlindo Lamb se perdessem, até porque a sua história se confunde muitas vezes com a história do próprio município e de organizações como a Copagril, o Saae e a Rádio Difusora.

O livro foi além dos fatos oficiais e apresenta aspectos curiosos, inusitados e até divertidos, por vezes completamente desconhecidos pela maioria das pessoas.

O livro, lançado em 2006, foi também o meu trabalho de conclusão do curso de Comunicação Social – Jornalismo e, para que ele acontecesse, obtive o apoio e o suporte de vários professores da faculdade, bem como me foi exigido estudos teóricos acerca de como se procede o resgate de memórias, cuja finalidade maior é impedir que as lembranças se percam no tempo. As pessoas passam, mas suas memórias ficam.”


Jadir Zimmermann
Jornalista


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

1ª Feira Agropecuária recebeu mais de 20 mil visitantes


De 1º a 7 de setembro de 1958, Marechal Cândido Rondon sediou sua 1ª Exposição Agropecuária. O evento, que inclusive contou com a presença do governador Moisés Lupion, aconteceu na área em que hoje existe a Praça Dealmo Selmiro Poersch, em frente à Matriz Católica. Unindo negócios e diversão, a primeira exposição mostrou a vocação da comunidade para a promoção de grandes eventos.

A ideia para a realização da exposição partiu da Colonizadora Maripá, que assim queria mostrar aos visitantes o potencial da região e, desso modo, despertar o interesse de novas pessoas em vir morar nas cidades onde a empresa ainda possuía terras à venda. Inicialmente, a intenção da colonizadora era promover o evento em Toledo. Contudo, a população da cidade e a própria prefeitura não deram muita atenção à proposta. Então, ela foi apresentada à comunidade de General Rondon, que viu com bons olhos a oportunidade. Arlindo Lamb, então vereador, foi o nomeado presidente da comissão organizadora.

Preparativos

Do momento em que foi decidida a realização até a data prevista para o evento, havia apenas dois meses para montar toda a estrutura para a exposição. Diferente de hoje, quando Marechal Cândido Rondon conta com um amplo e bem estruturado parque de eventos, naquela época tudo teve que ser construído às pressas.

Para a empreitada, a colonizadora contratou todos os construtores que havia na região e cada qual montou uma equipe. Em 30 dias, todos os barracões necessários estavam construídos. Mas a preocupação não era apenas com a estrutura onde aconteceria a exposição.

Divulgada em todo o Sul do país, a expectativa é que a exposição atrairia milhares de pessoas. Como General contava apenas com dois hotéis (o Avenida, de propriedade de José Feiden; e Brasil, de Rinaldo Lamberty), a comissão da festa mobilizou os moradores da região interessados em abrigar em suas residências os visitantes. A ideia deu certo e, em um raio de 10 km, a comissão havia conseguido 4 mil lugares.

A exposição

Apesar de ter chovido durante os sete dias, a exposição foi um sucesso. Além do governador Moisés Lupion e autoridades como deputados estaduais e federais, outras 20 mil pessoas vindas dos mais diversos lugares visitaram o evento. Os expositores eram os próprios colonos de General Rondon, que colocaram à mostra gado, aves, suínos, produtos coloniais, móveis, utensílios domésticos e tudo mais que era produzido ou cultivado na vila.

Além de negócios, a 1ª Exposição Agropecuária garantia diversão aos visitantes, com bailes realizados todas as noites. A animação ficou sob responsabilidade de uma bandinha tirolesa com 28 integrantes, vinda de Treze Tilhas (SC). Os bailes duravam a noite toda.

Encerrada a exposições, todos os barracões foram desmontados.

Emancipação


Os resultados positivos da 1ª Exposição Agropecuária de General Rondon teve repercussões além do esperado. Uma vez demonstrado todo o potencial econômico e produtivo do distrito. A partir de então, a vontade de emancipar General Rondon do município foi crescendo entre os moradores da comunidade, iniciativa que também passou a contar com o apoio de Willy Barth e da própria empresa colonizadora. Menos de dois anos depois, no dia 25 de julho de 1960, General Rondon deixou de ser distrito toledano e se transformou no município de Marechal Cândido Rondon.

Fontes:
WEIRICH, Udilma Lins. “Histórias e Atualidades: perfil de Marechal Cândido Rondon”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2004.
ZIMMERMANN, Jadir. “Arlindo Lamb: uma história que merece ser contada”. Marechal Cândido Rondon: Editora Germânica, 2006.

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LEGENDA:
Estrutura montada para realizar a 1º Exposição Agropecuária.

CRÉDITOS: Arquivo pessoal de Arlindo Lamb


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Marechal Cândido Rondon: da colonização à emancipação


No dia 25 de julho de 1960, Marechal Cândido Rondon obteve a sua emancipação político-administrativa. Assim, deixava de ser distrito de Toledo para se transformar em um dos municípios mais fortes do Oeste do Paraná.

Porém, a história de Marechal Cândido Rondon começou a ser desenhada em 1946, quando a Companhia Madeireira e Colonizadora Rio Paraná S.A. – Maripá realizou a compra de uma extensa área de terra e iniciou o projeto de colonização desta parte do extremo Oeste paranaense, tendo como meta trazer para a nova comunidade que surgia colonos gaúchos e catarinenses, descendentes de alemães e italianos.

Para convencer às famílias de agricultores a se mudarem para o Paraná, foi criada uma grande campanha, na qual se enfatizava a boa qualidade da terra, que além de ser ideal para a agricultura, também era rica florestas e rios, que garantiam madeira, caça, pesca e água.

Colonização

A ocupação do que viria a se tornar a cidade de Marechal Cândido Rondon teve início em 7 de março (*) de 1950, quando aqui se instalaram Antônio Rockenbach, Erich Ritscher e Osvaldo Heinrich. Este último, inclusive, já havia começado a trabalhar na medição de terras na região em novembro de 1949.

Já em 14 de abril daquele ano chegou Beno Weirich e, no dia 21 de junho de 1950, chegou a sua esposa Alice, grávida de sete meses, além de um filho do casal. Foi a primeira família a se instalar em Marechal Cândido Rondon.

A nova comunidade, antes de ser conhecida como General Rondon, era chamada pelos pioneiros como Vila Flórida ou Zona Bonita. O nome General Rondon somente foi oficializado em 21 de abril de 1951, por determinação do diretor da Maripá, Willy Barth. Com isso, Willy Barth homenageava o general Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que no início do século passado comandou a implantação de linhas telegráficas na região e que, em 1924, também esteve combatendo os revolucionários da Coluna Prestes no Oeste do Paraná.

Para atender os colonizadores, a Maripá montou uma pequena cabana, onde os desbravadores poderiam se acomodar para realizar o trabalho de derrubada da mata. Depois, foi construído um barracão maior, a Casa do Imigrante, próxima à área onde hoje está a delegacia de polícia. Ali, as famílias recém chegadas eram recebidas e então encaminhadas para as terras que haviam adquirido para iniciar a nova vida.

Era uma iniciativa corajosa deslocar-se até a região, carente de estradas, de alimentação, de energia elétrica, de água encanada e de um comércio para atender as necessidades básicas das novas famílias. Isso sem contar o atendimento médico, praticamente inexistente no início da colonização. Essa situação de quase total isolamento também dificultava a comercialização dos primeiros produtos que começavam a ser cultivados em Marechal Cândido Rondon.

Mas com trabalho e dedicação essa realidade começou a mudar. Dois anos depois, a então vila de General Rondon já possuía uma estrutura que atendia as necessidades mais imediatas dos moradores, assim como algumas lojas. Daí em diante o desenvolvimento foi cada vez maior, tanto que em setembro de 1958 aconteceu a primeira feira agropecuária, na área onde hoje existe a Praça Dealmo Selmiro Poersch, localizada em frente à matriz católica. O evento contou com a presença de autoridades estaduais, como o governador Moisés Lupion.

Emancipação

O rápido desenvolvimento da vila General Rondon possibilitou que, dez anos depois do início de sua colonização, ela se tornasse município. Contudo, antes disso, a sua organização política e administrativa passou por fases importantes. Uma delas foi a visita do governador Bento Munhoz da Rocha Neto, que esteve em Toledo em 1952 e ficou impressionado com o desenvolvimento que estava ocorrendo nesta região do Estado. O governador ficou tão animado que em 1953 elevou Toledo à instância de comarca.

Nesse mesmo ano, a comunidade rondonense foi oficialmente promovida a distrito administrativo de Toledo e denominada de Vila General Rondon, através da Lei Municipal nº 17, de 6 de julho de 1953. Em 1956, os moradores da vila elegeram seus primeiros vereadores. São eles: Helmuth Koch (PSD), Simão Scherer (UDN) e Arlindo Alberto Lamb (PTB), que chegou a assumir a presidência da Câmara de Toledo nos anos de 1957 e 1958. Os principais pedidos encaminhados pelos vereadores rondonenses ao então prefeito Egon Pudel era para a construção de pontes, estradas, escolas e para nomeação de mais professores.

A emancipação político-administrativa de Marechal Cândido Rondon aconteceu em 25 de julho de 1960, através da aprovação de um projeto de lei do deputado estadual Luis Alberto Dall’Canalle. O mesmo documento aprovava a emancipação de outros 57 municípios no Paraná. O documento é a Lei Estadual nº 4.245. Já no dia 15 de setembro de 1960, o governador Moisés Lupion visitou o recém criado município. Na oportunidade, Ari Branco da Rosa foi nomeado prefeito interino, função que ocupou de 05 de agosto de 1960 a 25 de janeiro de 1961, quando foi destituído pelo então governador Ney Braga.

Já instalação de Marechal Cândido Rondon se deu em 2 de dezembro de 1961, sendo que a comarca rondonense foi instalada em 2 de julho de 1970.

(*) Para homenagear os pioneiros, a Lei Municipal nº 3.466, de 17 de fevereiro de 2003, firma que a data de 7 de março é o Dia do Pioneiro.

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LEGENDA: Vista da Vila General Rondon, na década de 1950.

CRÉDITO: Arquivo Centro de Pesquisa


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

“Eu cortei a primeira árvore em Marechal Rondon”


Nesta semana após a festa do município, vou publicar algumas reportagens que produzi para um jornal especial de 50 anos, publicado pela Editora O Presente. Segue, abaixo, a entrevista com Osvaldo Heinrich, um dos três pioneiros que primeiro se instalaram no que veio a ser a cidade de Marechal Cândido Rondon.

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“Eu cortei a primeira árvore em Marechal Rondon”


Os passos são lentos. A fala é arrastada. O corpo, aos 81 anos, não esconde a saúde agora frágil. Da varanda da casa simples onde mora, Osvaldo Heinrich (foto) contempla com satisfação o desenrolar de uma história que ele começou a escrever há 60 anos: a história do município de Marechal Cândido Rondon, que em 25 de julho comemora 50 anos de emancipação político-administrativa.

“Eu cortei a primeira árvore”, lembra Osvaldo Heinrich, que no dia 07 de março de 1950 empunhou o machado e desferiu o golpe que ficou marcado para sempre como o mito fundador de Marechal Cândido Rondon, município que não cansa de enaltecer as virtudes, em especial o trabalho e a coragem, de seus pioneiros. Aos poucos, o gesto de Osvaldo foi cada vez mais sendo repetido pelos novos aventureiros e famílias que chegavam para iniciar uma nova vida na vila que florescia em meio a uma densa floresta no extremo-Oeste do Paraná.

Chegada


Osvaldo Heinrich chegou ao que viria a se tornar a cidade de Marechal Cândido Rondon em 22 de novembro de 1949. Aos 20 anos, ele ficou entusiasmado com os relatos do pai, que cerca de três meses antes esteve na região, a convite de Willy Barth, diretor da Colonizadora Maripá, para conhecer á área onde a empresa pretendia iniciar uma nova comunidade.

O pai de Osvaldo voltou para a cidade da família, Panambi (RS) e contou o que viu. Foi então que Osvaldo, solteiro na época, decidiu se aventurar nessa área não civilizada do Oeste do Paraná, juntamente na companhia de Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, que também participaram da derrubada da primeira árvore.

Conforme Osvaldo, foram praticamente quatro meses vivendo sozinhos na floresta, dormindo no chão cercados pelos perigos da floresta, que os três homens pareciam desconsiderar. “De Toledo para cá era só mato, mas não era perigoso”, afirma o pioneiro.

Uma vez iniciada a derrubada da mata, os três desbravadores abriram uma clareira de 12,5 alqueires na região onde hoje está instalada a delegacia rondonense. Concluído o trabalho, começaram uma plantação de milho e de mandioca, sendo que as ramas, para iniciar o mandiocal, Osvaldo teve que buscar em Porto Mendes.

Caminhadas

A distância de outras localidades era um desafio e tanto para aqueles que estavam construindo a nova cidade. “Caminhei demais”, afirma Osvaldo, referindo-se aos dias em que andava por horas e horas seguidas a pé para ir até Toledo ou Porto Britânia (Pato Bragado) em busca de mantimentos. “Para ir até Toledo eram dois dias de caminhada, sozinho”, recorda.

Os primeiros tempos eram difíceis. Água eles obtinham das inúmeras fontes e riachos. O prato de praticamente todos os dias era um só: feijão e arroz. Porém, a caça era abundante: anta, paca, cotia, porco do mato, veado e outros animais. “Dentro do mato era só barulho de tanto bicho”, conta o pioneiro.

Como se pode perceber, o trabalho e as dificuldades eram muitas e a diversão, rara. Até porque, segundo ele, no início havia realmente poucas pessoas vivendo na nova vila.

Osvaldo casou com Adelina Vorpagel, já falecida, com quem teve quatro filhos: Nelson, Ilton, Rudi e Melani, que deram ao pai nove netos e dois bisnetos.

Memorial

Seis décadas depois de sua chegada, Osvaldo sente orgulho da cidade que começou a construir na companhia de amigos: “moro aqui há 60 anos. Ninguém imaginava que Marechal Cândido Rondon ficaria desse tamanho. A cidade cresceu, tem prédio, se desenvolveu. Trabalhei demais na vida. Mas a cidade está bonita. Eu estou feliz”.

Osvaldo Heinrich, assim como Erich Ritscher e Antônio Rockenbach, estão especialmente homenageados no Memorial dos Pioneiros, encomendado pela Acimacar e esculpido pelo artesão rondonense Hedio Strey. A obra fica exposta no Centro de Eventos durante a ExpoRondon. Osvaldo Heinrich participou da cerimônia de inauguração do memorial, ocorrida na noite de quinta-feira (22).


(Cristiano Viteck, O Presente - 50 anos de Marechal Cândido Rondon _ JULHO/2010)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A arte de fotografar a natureza


“O meu trabalho é voltado para a conscientização sobre o meio ambiente. Tentar, através da fotografia, transmitir informações sobre a necessidade de preservarmos a única casa que a gente tem. Entender que a gente faz parte e não que é dono do planeta.” É assim que o curitibano Zig Koch define a motivação que o levou a ser um dos fotógrafos mais renomados do Brasil quando o assunto é registrar imagens da natureza. Diplomado em Arquiteta e Urbanismo em 1982, exerceu o trabalho de arquiteto por apenas quatro anos, até que, em 1986, Koch decidiu dedicar-se exclusivamente à fotografia, arte que já lhe era uma paixão desde a adolescência.

Hoje, Zig Koch possui em seu currículo trabalhos para grandes revistas brasileiras, como Veja, Caminhos da Terra, Viagem e Turismo, Elle, Ícaro, Manchete, Horizonte Geográfico, entre outras, as quais reproduziram em suas páginas inúmeras imagens captadas pelo fotógrafo ao longo de incontáveis viagens pelo Brasil, Europa, África e Estados Unidos. Zig Koch também conta com uma série de trabalhos para órgãos ligados ao governo e entidades não governamentais, além de fazer parte de mais de uma dezena de livros, diversos calendários e peças publicitárias de caráter nacional e internacional.

Segundo Koch, desde que começou a fotografar o seu foco sempre foi a flora, a fauna e paisagens. “Como eu gostava muito de natureza, em 1982, fiz o primeiro curso de observação de aves, provavelmente do Brasil. Neste curso tinha um módulo que era fotografia. Eu já fotografava e fiz esse curso para entender melhor as fotos de natureza que eu estava fazendo. Para entender o objeto das fotografias que está fazendo você tem que estudar o meio ambiente”, ensina Zig Koch, que também ministra palestras e promove cursos de fotografia.

Ao longo dos quase 25 anos de trabalho como fotógrafo profissional, o curitibano montou um arquivo com cerca de 170 mil fotos (entre cromos e imagens digitais). Uma pequena parte delas, cerca de 15 mil, está disponível no site criado pelo fotógrafo (www.naturezabrasileira.com.br).

Entre os trabalhos realizados, alguns dos que ele considera mais interessantes foram realizados para a WWF, famosa entidade voltada para a conservação da natureza. Ao todo foram seis expedições ao Pantanal e à Amazônia. “Dessas, a expedição para o Parque Nacional do Juruena (MT) acredito que tenha sido a melhor em vários sentidos, desde as possibilidades de fotografia, a estrutura muito bem montada, com caminhão, carro, barco, avião, helicóptero. Isso possibilitava uma mudança muito rápida de foco de fotografia, ainda mais na Amazônia, onde tudo é muito longe, muito difícil. Sempre é um trabalho de risco.”

Conhecer para amar


Antes de decidir seguir a carreira como fotógrafo profissional, Zig Koch comenta que, com o seu trabalho como arquiteto atuante na área de planejamento urbano, a ideia dele era fazer ações que beneficiassem muitas pessoas. Nesse sentido, ele acabou percebendo que um problema era a falta de conhecimento das pessoas sobre o meio ambiente. Isso porque, vale lembrar, na década de 80 os assuntos ligados à natureza não estavam tão em evidência como nos dias atuais.

Intuitivamente, Zig Koch acreditava que através das imagens seria possível levar às pessoas mais conhecimentos sobre o meio ambiente e, dessa forma, estimulá-las a terem uma atitude mais consciente a respeito da natureza. Na opinião do fotógrafo, “as pessoas amam o que conhecem. Se elas começam a perceber que existe uma relação de vida entre as pessoas e o meio ambiente e que isso traz um benefício grande para a gente, o comportamento delas com a natureza pode ser diferente. Esse é o mote do meu trabalho até hoje. Muita gente pensa que as pessoas e o meio ambiente são coisas separadas e cada um tem que ficar no seu espaço. Mas as coisas não têm uma separação física. Tudo é meio ambiente.”


- (Cristiano Viteck, revista Amigos da Natureza - Junho/2010)

FOTO: Zig Koch

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Histórias que se perdem...


Não sabemos nada de nossa história, ou sabemos muito pouco. A ficha caiu esta semana em que estou fazendo uma série de reportagens para um jornal especial sobre os 50 anos de Marechal Cândido Rondon, que circula na próxima semana. Trata-se de um pequeno punhado de entrevistas que nem de longe cobre tudo o que de interessante aconteceu em Marechal Cândido Rondon desde 1950. Na verdade, é uma gota d’água em meio ao oceano.

Na linha da história, o nosso município é um bebê. Para se ter ideia, o primeiro homem que veio aqui fazer as medições iniciais de terra ainda está vivo. O mesmo acontece com um monte de outros personagens, ilustres e anônimos que estão por aí, com suas passagens de vida fervilhando no caldo da memória, esperando serem registradas antes que se apaguem definitivamente.

É fato que muito se escreveu e se pesquisou sobre o passado da nossa cidade, principalmente nos últimos anos. Muitos desses trabalhos estão lá, guardados (pra não dizer esquecidos), nos arquivos do curso de História da Unioeste. Outros trabalhos foram publicados em forma de livro – e aqui vale o reconhecimento a Venilda Saatkamp, Robson Laverdi, Jadir Zimmermann, Ana Paula Wilmsen, Maria Cristina Kunzler, Valdir Gregory, Udilma Weirich, Tarcísio Vanderlinde e outros mais que se dedicaram e ainda se dedicam a preservar os fragmentos de nosso passado.

Mas tem espaço para muito mais. Nesse momento em que Marechal Cândido Rondon comemora seu cinquentenário, seria ideal pensar seriamente na criação de um fundo municipal para financiar pesquisas de cunho histórico, quem sabe em uma parceria com o curso de História da Unioeste. Esse mesmo fundo poderia bancar também a publicação desses materiais em livros, em filmes, em fotos e no que mais for possível.

O jeito de gerenciar é o de menos. O que não podemos é deixar que as nossas histórias simplesmente se apaguem. E nisso o poder público tem um papel fundamental... É obrigação dele, e de todos nós, preservar as nossas memórias e identidades...

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Na foto, a primeira prefeitura de Marechal Cândido Rondon, em 1961.